Essa é a segunda postagem do Canal Euro Channel, a primeira foi sobre o jogo Terra Mystica, clique aqui para ler. Agradeço as quase 2000 visualizações do primeiro texto aqui na Ludopedia!
Como cheguei ao jogo:
Até setembro de 2017 Clans of Caledonia estava fora do meu radar, não fazia a menor ideia da existência do jogo, até o momento em que começou o burburinho sobre o novo “Terra Mystica Killer”, ou seja, um jogo que apresenta similaridades em relação ao TM e o tornaria obsoleto (afirmação que não faz o menor sentido, como será exposto mais à frente).
Pesquisei sobre o jogo e encontrei um vídeo do Rahdo, no vídeo, o senhor Richard Ham passa 17 minutos exaltando cada detalhe do jogo e utiliza o termo que eu havia escutado anteriormente: “This game is a Terra Mystical killer!”. Logo pensei: “Daí que os papagaios tiraram essa frase”.
Achei a frase totalmente incongruente, mas o conjunto de elementos do jogo me agradou bastante, então resolvi comprar uma cópia assim que o Clans foi lançado em novembro do ano passado pela Meeple Br.
Pontos positivos:
O grande mérito do Clans of Caledonia é unir diversos elementos de jogos conceituados, porém sem realizar cópias simplórias. Originalidade não é o forte do jogo, porém tudo se mescla tão bem, fazendo com que Clans seja uma aula de design.
Como observa Juma Al-JouJou, o designer do jogo: “David Hume escreveu que qualquer coisa nova é uma recombinação de coisas ou ideias existentes... Clans of Caledoia está de pé nos ombros dos gigantes, ou seja, os jogos de tabuleiro que me impressionaram e me influenciaram como designer”.
Vamos começar pela referência mais clara, o já citado Terra Mystica: daí saíram diversos elementos. As similaridades já começam no setup do jogo: cada jogador deve colocar duas de suas peças no tabuleiro central (ideia que o TM por sua vez pegou do Catan, afinal nada se cria, tudo se copia).
Em Clans of Caledonia cada jogador pode selecionar uma das 8 ações disponíveis, entre as ações o jogador pode expandir seu território, retirando peças de seu tabuleiro individual, colocando-as no tabuleiro central, melhorando assim seus rendimentos a cada rodada. Assim como pode melhor sua navegação, a fim de alcançar territórios distantes ladeados pela água, ou até mesmo utilizar uma ação para passar, o que determina a ordem dos jogadores no turno seguinte. Lembra Terra Mystica, não é mesmo?
Os dois jogos possuem estruturas parecidas. Cada rodada possui um número indefinido de ações dos jogadores. Em Clans os rendimentos ocorrem no final da rodada, já em TM isso acontece no início da rodada. Ambos possuem rodadas fixas: Clans possui 5 rodadas, TM possui 6, o que torna Clans of Caledonia um jogo mais enxuto.
Durante o jogo, as estruturas construídas revelam ícones que dão benefícios aos jogadores. Além disso, também ocorre a pontuação da rodada, baseada em objetivos sorteados no início do jogo, exatamente como em Terra Mystica.
Porém de forma mais interessante, pois no TM grande parte dos pontos de vitória de cada jogador é conquistada através da pontuação da rodada, o que causa um “roteiro de ações”, pois, é comum que todos os jogadores realizem o mesmo tipo de ação em determinado turno repetidas vezes devido ao bônus da rodada.
Em Clans isso não ocorre com tanta frequência, jogar em função dos bônus das rodadas não garante uma boa pontuação no final do jogo, afinal a maioria dos pontos do jogo são obtidos através dos contratos. Assim, os jogadores ficam menos engessados e podem realizar suas estratégias mais livremente, até mesmo ignorando os bônus de algumas rodadas.
O controle de área do jogo também possui similaridades com TM, não há terraformação, porém as peças devem ser colocadas em territórios apropriados: os lenhadores devem ser colocados na floresta, os mineradores devem ser colocados nas montanhas e as demais peças devem ser colocadas nos campos.
Além disso, há o bônus de vizinhança. No TM os jogadores ganham poder, já em Clans os jogadores ganham descontos para comprar determinados produtos quando se tornam vizinhos de uma estrutura controlada por outro jogador.
Por fim, também há a pontuação da maior rede de construções conectadas no final do jogo.
Clans possui diversas outras influências muito aparentes: o mercado foi inspirado no jogo Navegador do designer Mac Gerdts, o tabuleiro modular e os portos foram influenciados por Catan, os upgrades das habilidades vieram de Hansa Teutonica e os contratos capazes de gerar pontos de vitória e benefícios vieram de As viagens de Marco Polo.
Porém diferente de Marco Polo, os pontos só são contabilizados no final do jogo, pois as mercadorias importadas possuem valores flutuantes quanto aos pontos que proporcionam.
Os personagens com poderes variados também foram influenciados por Marco Polo, afinal como observa Juma Al-JouJou: “A simplicidade dos personagens do Marco Polo faz com que novos jogadores possam competir com veteranos, ao comparar com Terra Mystica e suas facções mais complexas”. A exemplo de Marco Polo, os Clans possuem habilidades simples e fortes, descritas por alguns poucos ícones.
Os componentes do jogo
Pontos negativos:
A aleatoriedade dos pontos fornecidos pelos contratos pode desagradar alguns jogadores. Como foi observado anteriormente, os três produtos importados possuem valores em pontos de vitória que podem variar entre 3 e 5. O produto mais importado possui o valor 3 por ser o mais comum durante o jogo, e o produto menos importado e por isso o mais raro possui valor 5, porém na última rodada estes valores podem ser invertidos a qualquer momento.
No jogo não é possível se livrar de um contrato previamente adquirido, além disso, no final do jogo contratos ficam difíceis de serem adquiridos (a ação fica mais cara), o que pode tornar frustrante a flutuação de pontos de vitória e a dose de sorte envolvida. Para os jogadores insatisfeitos com essa regra, o manual sugere uma variante onde todos os produtos importados valem 4 pontos fixos.
Outro ponto que pode chamar a atenção negativamente é a arte pouco inspirada, afinal Clans of Caledonia é esteticamente parecido Isle of Skye. Klemens Franz, artista responsável pelos dois jogos resolveu repetir o que havia realizado no jogo do designer Alexander Pfister, onde os jogadores também representam clans escoceses que disputam para definir qual será o mais próspero.
Por fim, a caixa do jogo poderia ser maior, ao final de cada partida é necessário realizar o “tetris” para encaixar todos os componentes de forma que tudo fique acomodado novamente.
Considerações finais:
Como é possível observar, as influências geradas principalmente por Terra Mystica, assim como diversos outros jogos são muitas, porém a sensação de jogar Clans of Caledonia é totalmente diferente da sensação de jogar Terra Mystica, As Viagens de Marco Polo ou outro jogo. Seria Juma Al-JouJou o Quentin Tarantino dos Board Games?
Brincadeiras à parte, Clans é um euro médio/pesado que possui uma boa curva de aprendizado, porém é intuitivo e amigável para novos jogadores. O tabuleiro modular e os Clans envolvidos na disputa possibilitam uma grande rejogabilidade.
Concorda ou discorda? Quer acrescentar algo? Deixe seus comentários e sugestões.