Após um “breve” hiato, o canal retorna em grande estilo. Hora de falar do Projeto Gaia, recém lançado pela Mandala Jogos. Clique aqui para ler os textos anteriores.
Como cheguei ao jogo:
Sou um grande fã do Terra Mystica, tanto que ele foi o primeiro jogo analisado pelo canal. Fiquei sabendo do Projeto Gaia no momento em que surgiram as primeiras fotos na internet, meses antes do lançamento do jogo. Imaginei que seria apenas um Terra Mystica no espaço, uma mudança de skin, com o objetivo de atrair novos jogadores. Estava completamente enganado!
A ansiedade fez com que eu realizasse minha primeira (e até agora a única) importação, assim, após uma taxação violenta, coloquei as mãos no Projeto Gaia em março desse ano. Após a primeira partida, foi possível observar que o jogo não se propõe apenas a mudar o tema. O “sistema” Terra Mystica foi atualizado, e melhorado.
Pontos positivos:
Se uma das grandes virtudes do Terra Mystica era a rejogabilidade, essa característica foi ampliada de forma exponencial. Assim como o jogo original, Projeto Gaia possui 14 facções diferentes (e diferentes das encontradas no TM), além de diversas fichas bônus e pontuações da rodada que são sorteadas no início do jogo. Além disso, diferente do TM, o tabuleiro é modular, o que faz com que a posição inicial das duas habitações de cada jogador seja totalmente diferente a cada jogo. Afinal, após jogar Terra Mystica algumas vezes com a mesma facção, o jogador vai aprendendo certos macetes e tende a sempre escolher os mesmos territórios iniciais quando estão disponíveis.
Além desse fator, Projeto Gaia ainda possui duas pontuações finais, que são sorteadas entre as seis existentes, contra uma pontuação final do TM que é sempre a mesma. No Terra Mystica, o jogador com maior quantidade de estruturas conectadas ganha 18 pontos, o segundo 12 e o terceiro 6. Já no Projeto Gaia, os critérios podem variar: maior quantidade de satélites construídos, maior número de setores espaciais explorados, maior quantidade de estruturas em planetas Gaia, etc.
Falando em planeta Gaia, estes planetas verdes que dão nome ao jogo, trazem novas estratégias ao jogo. Se em Terra Mystica os jogadores disputam territórios diferentes (deserto, pântano, floresta), em Projeto Gaia, os territórios foram substituídos por planetas (Terra, planeta Titânio, planeta Óxido). Entre esses planetas, há um planeta especial, o planeta Gaia. Este planeta pode ser habitado por qualquer facção, porém para isso, o jogador deve converter um planeta Transdim (o planeta roxo) em um planeta Gaia, utilizando o seu Gaiaformador (peça que possibilita colonizar esse tipo de planeta), ou gastar cubos de inteligência quântica. Todos esses conceitos são novos, não há nada parecido no Terra Mystica.
Outra inovação do Projeto Gaia é o tabuleiro de Pesquisas, substituindo assim as trilhas de culto, presentes no TM. Muitos jogadores de TM criticavam o tabuleiro de cultos, pois tinham a impressão de que as trilhas eram um “jogo dentro do jogo”, pois estavam presentes em um tabuleiro a parte, onde é travada uma disputa dispendiosa por pontos, porém sem outros benefícios atraentes.
Em PG, os cultos viraram tecnologias, e os antigos sacerdotes viraram conhecimento. As novas trilhas também possuem disputas, porém se em TM o primeiro jogador em cada trilha recebia 8 pontos, o segundo 4 e o terceiro 2, no Projeto Gaia, é possível que vários jogadores recebam a mesma pontuação, pois o jogador recebe 4 pontos para cada um dos 3 níveis mais altos existentes em cada tecnologia, o único porém é que apenas um jogador pode chegar no último nível (então se 2 jogadores chegarem no penúltimo nível, e 2 no antepenúltimo, por exemplo, 2 vão ganhar 8 pontos e 2 vão ganhar 4 pontos). Dessa forma, o jogador não deixa de ganhar pontos caso seja ultrapassado. além de trazer benefícios como reduzir o custo de terraformação, aumentar o nível de navegação (distancia alcançada no tabuleiro) e a conquista de conhecimento e créditos na fase de renda.
O tabuleiro de tecnologias uniu o tabuleiro dos cultos às habilidades que deveriam ser melhoradas no tabuleiro individual do jogador (capacidade de terraformação e navegação), assim como os favores que eram habilitados quando os templos eram construídos.
Por fim, em PG, os recursos são menos escassos que em Terra Mystica, a impressão é a de que o jogador possui mais liberdade para desbravar o tabuleiro. TM pode ser bem cruel, afinal jogadores podem ficar presos nos cantos do mapa devido às estruturas de outros jogadores, já em Projeto Gaia, o jogador pode “pular” as peças de outros jogadores e continuar sua expansão, podendo até mesmo formar uma federação (o equivalente às cidades do TM) sem que as suas estruturas estejam adjacentes.
Dessa forma, Projeto Gaia possui ainda mais profundidade estratégica que seu antecessor, devido a todas as novas características. Além de possuir um modo solo, outra novidade implementada.
Pontos negativos:
Assim como em Terra Mystica, o setup é extenso e trabalhoso. A explicação das regras é longa e as partidas são extensas, disputadas e densas. Dessa maneira, reserve um dia com bastante tempo para jogar. Dessa forma, Projeto Gaia não será jogado com a frequência que você gostaria.
Como todo jogo assimétrico, há a possibilidade de haver desbalanceamentos. Como o jogo é bastante recente, não há histórico de estatísticas de partidas como no caso do Terra Mystica, porém em minha pequena experiência de partidas (mais ou menos), os Terranos demonstraram desempenho acima da média (controlados por diferentes jogadores de diferentes níveis de experiência em relação ao jogo). Algumas raças são visivelmente mais avançadas, ou seja, necessitam de jogadores experientes.
Por fim, a arte de Projeto Gaia é pouco inspirada. Fica a sensação de algo inacabado. Parece que Dennis Lohausen, (o mesmo artista responsável por TM e outros sucessos como As Viagens de Marco Polo e Um Banquete a Odin), realizou os esboços das facções e não teve tempo de aprimorá-las. Quando se comparam os personagens de TM com os do GP fica nítida a diferença de qualidade. No Terra Mystica as raças possuem mais personalidade. Por outro lado, a arte do tabuleiro e as miniaturas são deslumbrantes.
Considerações finais:
Como é possível observar, Projeto Gaia possui novos elementos, tornando sua experiência diferente quando comparada a de jogar Terra Mystica, Assim como novas possibilidades. Qual é melhor? Não saberia responder. Posso dizer que vendi minha cópia do TM, porém sinto saudades dela, seja pelas facções antigas que não possuem facções equivalentes em PG (saudades dos Halflings e dos Darklings
), ou tema de fantasia que me agrada mais. Acredito que muitos vão manter os dois na coleção, (assim como muitos jogadores possuem Agrícola e Caverna nas prateleiras), enquanto muitos vão substituir o TM pelo PG.
Em suma, Projeto Gaia é um euro pesado com uma rejogabilidade impressionante. Se você gosta de Terra Mystica, com certeza gostará de PG, se não gosta de TM, dê uma chance para o novo jogo da dupla Jens Drögemüller e Helge Ostertag.
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