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Resenha: LE HAVRE
Redator: Cesar Cusin
Você, um comerciante no 2º maior porto da França, na cidade de Le Havre, terá que escolher estrategicamente o que fazer no porto, coletar produtos e matérias-primas recém-chegados ou executar tarefas nos prédios disponíveis no porto. Coletar produtos e matérias-primas lhe garante subsídios para prosperar no porto, você poderá manufaturar, usar ou vender seus produtos ou matérias-primas, construir seus próprios navios e edifícios. Construir seus navios lhe garante alimento para seus trabalhadores, por outro lado, construir seus edifícios lhe garante além de um bom investimento uma fonte de receita, já que outros comerciantes lhe pagarão para usar seus edifícios. Enfim, são várias opções do que fazer no porto de Le Havre para prosperar e ser o comerciante com a maior fortuna... e aí, aceita o desafio?
Este é o cenário de Le Havre, trazendo como mecânica básica a alocação de trabalhadores, muito fácil de jogar, mas também muito estratégico. De 1 a 5 jogadores, daqueles que você tem que estar ligado do início ao fim, ou passará o jogo todo corrigindo seus deslizes. Dá para ser jogado na versão completa (mais rodadas) ou reduzida (menos rodadas), tudo isso de acordo com o número de jogadores. O objetivo é se tornar o comerciante mais rico do porto de Le Havre. Trata-se de um board game de Uwe Rosenberg, recentemente publicado no Brasil pela Ludofy e já com a expansão Le Grand Hameau (que adiciona 85 cartas de Edifícios Especiais e outras cartas bônus).
A caixa do jogo é retangular, bem resistente, a imagem representada na capa retrata um navio ancorado e trabalhadores descarregando mercadorias no porto, algo bem sugestivo. A caixa por dentro comporta todos os componentes do jogo, a saber: os 3 tabuleiros, 5 discos de jogador, 5 marcadores de navio, tokens de suprimento, de bens/matérias-primas, de jogador inicial, de moedas e cartas, muitas cartas.
Os 3 tabuleiros são bem grossos e se unem para formar um só, o porto de Le Havre, com áreas específicas para tudo que o jogo utilizará, a saber: áreas para estocar os produtos, para os produtos recém-chegados no porto, para o dinheiro, para os edifícios, para os navios à venda ou para serem construídos e para o movimento dos navios que chegam no porto.

Os 5 discos de jogador e os 5 marcadores de navio são de madeira. Os discos de jogador nos representam quando escolhermos executar uma ação em um edifício da cidade, nosso ou de um oponente. Os marcadores de navio são em um formato que o representa bem e servirá para representar nosso turno avançando e fazendo com que novas mercadorias cheguem ao porto de Le Havre.
Os tokens de suprimento, de alimento, de jogador inicial e de moedas estão em uma gramatura boa, são resistentes. Os tokens de suprimento são a alma do jogo, pois os mesmos são responsáveis por tudo que chega no porto de Le Havre. Os tokens de bens/matérias-primas trazem várias informações, a saber: de um lado o bem/matéria-prima em seu estado inicial, de outro lado, o bem/matéria-prima em seu estado melhorado, ou manufaturado. Dos bens que alimentam, os tokens informam quantos trabalhadores eles alimentam, e se vendidos, quantos francos valem. Os bens/matérias-primas também informam quanto podem gerar de energia (necessário em algumas construções) e quanto de dinheiro (em francos) valem se vendidos.
O token de jogador inicial traz a imagem de um timão. Os tokens de moeda vêm no valor de 1 e de 5 francos. As cartas são numa gramatura muito boa e são muito importantes para o desenrolar do jogo, a saber: cartas de referência (resumo do turno), de edifícios comuns, de edifícios especiais, de rodada (que no verso tem os navios a serem comprados/construídos), de empréstimo e de resumo de rodada.
Preparar o setup de Le Havre é simples, coloque os 3 tabuleiros do jogo na mesa de forma a montar o porto de Le Havre, dê a cada jogador 1 disco de jogador e 1 marcador de navio (ambos na sua cor), embaralhe os 7 tokens de suprimento e os coloque (virados para baixo) nos espaços do tabuleiro (no rio), coloque os marcadores de navios dos jogadores no início do porto, ao lado do tabuleiro. Coloque os tokens de bens/matérias-primas nos respectivos depósitos no tabuleiro (coloque os bens no seu lado inicial), coloque disponível no porto alguns bens/matérias-primas iniciais como informa o tabuleiro (fique atento que a quantidade mudará se jogar na versão reduzida). Dê a cada jogador 5 francos e 1 hulha (isso no jogo completo, no jogo em sua versão reduzida esses valores mudarão). Embaralhe as cartas de edifícios especiais, escolha 6 e as coloque viradas para baixo no seu local no tabuleiro. O porto recebe 3 cartas iniciais que ficam abertas para o início do jogo (1 construtora e 2 empreiteiras), elas pertencem a cidade.
No verso das cartas de edifício comum, verifique quais delas farão parte do jogo, nesta hora influi se o jogo será reduzido ou não e a quantidade de jogadores. Com as cartas selecionadas, divida-as em 3 decks iguais: ordene cada um dos decks da menor para maior e coloque as cartas abertas no tabuleiro, de forma que seja possível ver o rodapé da próxima carta para cada jogador saber quanto a mesma custa.

Coloque as cartas de rodada no seu local (ao final no porto), na quantidade especificada também de acordo com o tipo de jogo (normal ou reduzido e a quantidade de jogadores). Coloque as cartas de empréstimo e os tokens de suprimento acessíveis a todos os jogadores ao lado do tabuleiro. Agora resta escolher o primeiro jogador (dê a ele o token de primeiro jogador) e pronto!!!
Agora vamos ao jogo, pois temos que chegar cedo ao porto para escolher as melhores mercadorias ou usar os edifícios que nos tragam mais vantagens, manufaturar nossas mercadorias, vendê-las, construir ou comprar navios, enfim, o dia-a-dia de um porto. Bem-vindo a Le Havre!
O jogo se dá em 2 fases: a fase de rodadas (que vai até o fim do jogo) e a fase final (quando é disparado o fim do jogo). Cada fase de rodadas contém 7 turnos. Cada jogador cumprirá seu turno em sentido horário, este consiste de duas ações obrigatórias e possíveis ações adicionais. Após o 7º turno, resolve-se a carta de rodada e começa-se uma nova rodada. Vamos aos detalhes!
No turno de cada jogador, ele move seu navio para o próximo token de suprimento disponível e como primeira ação obrigatória, novas mercadorias chegam ao porto (simulando o primeiro turno do jogo). Esse token estará fechado, o que aumenta a tensão em saber o que chegará ao porto. A partir de agora, já se tem uma ideia de como se delinear uma estratégia, pois, no início do jogo, já havia algumas mercadorias disponíveis no porto e que agora devem ser analisadas em conjunto com as recém-chegadas.
Neste momento, atingimos a hora crucial, a segunda ação obrigatória: ou você escolherá coletar os bens de um dos locais disponíveis no porto ou executará uma ação de um dos edifícios, que também oferecem muitas possibilidades, a saber: manufaturar seus bens/matérias-primas, construir edifícios, enfim, já começam as possibilidades estratégicas. Mas as decisões não param por aí, se desejar usar um edifício de um jogador, obviamente que você terá que pagar algo em troca, isso está especificado em cada edifício, ou seja, construir edifícios lhe garantirá além de um bom investimento no fim do jogo, uma boa fonte de receita durante a partida. Detalhe sobre os edifícios: somente 1 jogador pode ocupar um edifício por vez, enquanto um jogador lá estiver, outro não pode utilizá-lo.
Após as duas ações obrigatórias, há a possibilidade de ações adicionais, a saber: comprar ou vender navios e edifícios. Pode ser de grande valia a compra ou a venda, dependendo se há dinheiro disponível ou se está precisando dele. Perceba que, a todo o momento, há muito o que se decidir em Le Havre, o jogo é dinâmico do começo ao fim.
Após o turno do jogador, dá-se o turno do próximo jogador à esquerda. Isso se repete até um jogador concluir seu turno no sétimo token de suprimento. Depois disso, resolve-se a carta de rodada: primeiramente, a carta informa se há ou não colheita, se houver, ela indicará que os jogadores que detenham grãos (ao menos 1) e gado (ao menos 2) devem receber respectivamente 1 grão e 1 gado. A seguir, a fase de alimentação, onde cada jogador deverá pagar a quantidade de alimento descrito na carta. Caso não possa pagar com alimento, poderá pagar em dinheiro (1 franco por alimento), no entanto, se não tiver nem o dinheiro, é necessário fazer um empréstimo.
Pois é meu amigo, há empréstimo! Isso impacta também nos turnos, pois há um token de suprimento no decorrer dos turnos em que se cobram os juros pelo empréstimo, ou seja, ou você se livra do empréstimo (pagando-o) ou ficará pagando juros que lhe trará prejuízo no final do jogo.
A carta de turno também informa se a cidade construirá mais edifícios (comuns ou especiais), além de finalmente, após resolver a carta de rodada, a mesma é virada e seu verso tem um navio que ficará a disposição para ser construído ou comprado. Após isso, uma nova rodada se inicia.

Perceba, há muita coisa acontecendo ao mesmo tempo no porto de Le Havre, você terá que ser astuto e estrategista para dar conta de tudo que acontece simultaneamente. A sensação que se tem é de que há muito que se fazer em pouco tempo. Isso dá uma adrenalina especial ao jogo. Note que isso foi apenas um turno e uma simulação de final de rodada do jogo. É no mínimo instigante gerenciar tudo isso ao mesmo tempo!
Após a última carta de rodada ter sido resolvida, dispara-se o fim do jogo e entra em ação a fase final. Momento decisivo do jogo. Começando pelo jogador inicial, cada jogador tem agora exatamente um turno a mais com uma única ação principal. Nesse momento, ações de chegada de mercadoria no porto e de compra não podem ser executadas, no entanto, vendas de edifícios e navios podem acontecer e empréstimos podem ser pagos. Nesta fase, e somente nesta fase, os jogadores podem usar um edifício já ocupado por um ou mais jogadores (não usar novamente o que você já se encontra). Esta fase é crucial e tudo pode mudar no porto de Le Havre. Execute essa fase com muita estratégia!
Para a pontuação final, somam-se os valores dos edifícios e navios dos jogadores, os valores adicionais dos edifícios com o sinal de “+”, seu dinheiro e subtrai-se 7 francos para cada empréstimo não pago. Bens/matérias-primas no estoque não contam, a não ser que se tenha o “Armazém”. No final do jogo o jogador mais rico é o vencedor. Se houver empate, há vários vencedores.
Esse é o cenário de Le Havre, um jogo com decisões importantes do início ao fim, inclusive após o término da partida, em sua fase final. Jogo altamente estratégico e competitivo.
Recomendo Le Havre para sua coleção!