tuliobarros::Muito curioso ver esse texto ser publicado poucas horas depois do meu comentário https://ludopedia.com.br/topico/89137/nordicast-291-board-games-e-ia-estamos-perdendo-a-alma-dos-jogos?id_post=541108#id_post_541108 até pensei que era uma resposta direta! 
Há de fato um diálogo invisível entre nossos textos com pontos convergentes, mas algumas premissas merecem cuidado. Não vejo a discussão reduzível à obsolescência tecnológica na contratação de artistas ou designers gráficos -- até porque são funções distintas: um agrega valor estético, o outro integra componentes às regras. O cerne é o valor percebido desses profissionais.
Existe, porém alguns problemas lógicos:
- Há uma falsa equivalência entre processos humanos e de IA. Como você bem apontou, humanos têm intenção. Mas, no processo criativo, humanos criam com intenção estética/cultural, reinterpretando referências subjetivamente. No caso da IA, não há reinterpretação subjetiva, há uma recombinação estatística de dados. São processos ontologicamente distintos.
- No trecho "pelo menos para os casos mais corriqueiros, não saberemos discernir entre a arte tradicional e a arte gerada pelo computador" e você diz em diversos pontos que a arte de IA é genérica. Isso implicaria que artistas humanos também produzem arte "genérica" em casos corriqueiros, o que é uma generalização perigosa.
- Sociedades regulam tecnologias (ex.: clonagem, armas químicas, armas nucleares). Por que não processos de IA que violam direitos massivamente? A tecnologia não existe em vácuo ético e, ela por si, também não é neutra.
E outros problemas éticos:
- A tese "Não interessa como a IA produz as imagens que lhe são pedidas. O que interessa é o resultado." ecoa perigosamente o consequencialismo radical ("os fins justificam os meios").
- A desconsideração do consentimento e propriedade intelectual do artista no treinamento de IA, gera direito à compensação.
- Sobre a responsabilização indevida do usuário final: será que o usuário é capaz de reconhecer que está fazendo plágio?
(...)
Túlio,
Não, eu não havia lido o seu texto. Escrevi esse artigo quando voltei de viagem com base simplesmente no que foi falado na live e no intuito de acrescentar alguns pontos que considero importantes.
Na sua argumentação você leva as questões para uma discussão que eu apenas tangenciei, que é a parte ética e moral.
Como você faz algumas críticas a alguns argumentos meus, vou tentar defender alguns pontos:
1 - Sim, eu acredito que muita arte feita por humanos é corriqueira e "genérica". Me desculpe, mas isso não é sequer controverso, pelo menos não para mim. Como exemplo, cito a produção de qualquer tipo de artesanato manufaturado em série. Tem técnica, não é necessariamente fácil de fazer, mas é muito mais o uso de uma técnica do que um impulso artístico. Você acha realmente que a IA não é capaz de desenhar colares de bijuteria muito parecidos com o que se vende em qualquer feira hippie?
2 - Na discussão da regulação, a meu ver, você dá vários saltos. Primeiro que não é liquido e certo para mim que a IA viola direitos. Eu não considero que processar uma imagem seja uma quebra de direitos. Eu não posso usá-la para fazer uma cópia ou um pastiche muito descarado, mas isso a lei atual já cobre. Agora, usá-la junto com milhares de outras imagens para formar um modelo me parece que é exatamente nós humanos fazemos quando aprendemos algo. Repetição de Padrões.
Além disso, você vem cita exemplos que são extremos, geram risco reais a integridade física de pessoas para justificar algo que não gera o mesmo tipo de risco, nem de perto. Lembro também nenhuma regulação é perfeita. A Coreia do Norte tem armas nucleares e químicas. O Paquistão também. Quem tem o direito de dizer quem pode ou quem não pode ter?
Na boa, não perca o seu tempo discutindo comigo, independente do que eu penso, acredito que a sua opinião seja majoritária e é muito provável que gerem regulações aqui no Brasil e no exterior.
2a - Apesar de eu não concordar, vou conceder temporariamente o ponto para argumentar que mesmo que se determine que o uso de imagens para treinamento deve ser remunerado, provavelmente isso terá muito menos valor do que se espera. Em primeiro lugar, a IA pode ser treinada com tudo que existe em domínio público e com isso já dá pra fazer muita coisa. Se as imagens passarem a ter valor para serem processadas, quem pagar o artista para produzir a imagem vai incluir para si a posse desse direito e vai acabar vendendo no atacado para as plataformas. Será exatamente o mesmo processo com o qual toda indústria fonográfica foi parar nos streamings. O valor marginal de cada nova imagem será, em si, muito pequeno. Os artistas continuarão se achando roubados.
3 - Acho que você dá outro salto gigantesco quando compara o processo de produzir alguma coisa de forma com o processo humano de tomar decisões morais. Humanos tem responsabilidade jurídica. Algoritmos não. Quem responde é quem usa o algoritmo, não quem o fornece, assim como quem é preso é quem usa o revolver e não o presidente da fábrica de armas.
4 - Vamos separar o "usuário final" que está usando a ferramenta como um diletante de um empreendedor que a esteja usando para criar um produto e colocá-lo no mercado. Ele deve sim se preocupar em ver se está ou não fazendo algum plágio.
Dito isso, você tem todo o direito de discordar de mim. Não quero entrar num longo debate contigo, percebo que você leu bastante sobre o assunto, bem mais do que eu, e lhe dou esse crédito.
Esse assunto é muito carregado de ideologia e eu prefiro não entrar nisso publicamente. Um dia, tomando chope, podemos discutir de boa!
Sds,
Eduardo