Antes de tudo, é importante salientar que esse texto não visa ser uma resposta, e sim levantar ainda mais perguntas, discussões e discordâncias com o que acredito ser importante de assimilar para o nosso mercado, que usa o recurso do financiamento coletivo muito mais do que empreendedores de palco e vencedores de reality shows.
Além disso, já deixo claro que não concordo com a forma como as coisas se resolveram e muito menos com a reação das pessoas frente ao financiamento coletivo proposto pelo trio. Não por serem eles, mas porque esse tipo de atitude pode se tornar comum, e pode afetar o nosso mercado. Vou tentar explicar as minhas razões para achar isso e alguns detalhes que, sinceramente, mudaram o meu pensamento sobre o financiamento coletivo como ferramenta.
Acima de tudo, a participação das pessoas
Antes eu acreditava que o financiamento coletivo servia apenas para financiar projetos que seriam impossíveis de serem financiados de outra forma. Por muito tempo, na verdade, ele foi isso, e por muito tempo eu acreditei que ir além desse conceito seria desvirtuar a ferramenta.
Depois, com o convívio, as conversas e as opções que se abriram na minha mente, eu percebi que o financiamento coletivo pode ser isso, mas também pode ser muito mais. Afinal de contas, se eu puder fazer uma pré venda do meu produto por meio de um financiamento coletivo e usá-lo como um termômetro para a aceitação da minha ideia, qual o pecado nisso?
O mais interessante é que, pelo menos dentro do meu conceito, eu não vejo um tipo de investimento tomando o espaço de outro. Afinal de contas são coisas totalmente diferentes e campanhas de vários tipos coexistem dentro dos sites de financiamento coletivo sem nenhum tipo de prejuízo para ninguém.
Você deixou de financiar algum dos seus jogos porque tinha uma campanha de um livro de romance feminino? Ou porque alguma campanha para ajudar a dar livros infantis para as crianças de rua estava acontecendo ao mesmo tempo? Então não fazia sentido o excesso de críticas que eles receberam.
Com certeza nenhum dos financiamentos de jogos atuais perdeu apoio por causa do Zebeléo.
Outro motivo que muitos insistem em dizer é que “eles não precisavam disso”. Amigos, e por acaso as grandes empresas do mercado americano de jogos que continuam lançando jogos por meio de financiamento coletivo precisa de dinheiro? Um financiamento coletivo é uma relação de comércio, com a diferença que você está acreditando que a empresa vai cumprir com o projeto em questão. Com certeza não foi por isso que eles foram criticados.
Quais lições eu aprendi?
Eu não cheguei a acompanhar tudo do começo, então me faltam algumas informações, mas no começo da tarde eu fiz um post no meu facebook pessoal, perguntando por que as pessoas estavam tão fulas com eles. Li muita coisa válida, como críticas à forma da comunicação da campanha, mas principalmente quanto ao mérito de abrir um financiamento coletivo para uma hamburgueria.
Eu não apoiaria esse projeto, com certeza, mas até aí elevar as críticas ao ponto de ser necessário tirar o financiamento do ar? Será que não foi exagero? Como sempre, vamos imaginar o tipo de precedente que isso é capaz de trazer para os financiamentos coletivos como um todo, e até dentro do nosso mercado de nicho.
As lições que eu vejo com isso são bem claras, e serão aplicadas dentro de qualquer projeto que o Teia e eu, como pessoa, for me envolver:
Saber exatamente com quem se está falando: eu já tinha lido algumas coisas da Bel e do que eu li à respeito da campanha (a nota de descontinuação da mesma), eu não vi muita diferença do que já tinha lido dela. O público dela apoiou porque já está acostumado com o tipo de comunicação que ela faz (não vou entrar nesse mérito) e muitas pessoas mais iriam, mas algumas pessoas se incomodaram. Pense seu discurso não só para o seu público, mas para todos os públicos, especialmente se você acreditar que vai irritar/ofender alguém, é melhor repensar.
O envolvimento do seu público não é garantia de sucesso: Se você tem seu público cativo e sabe que ele não é suficiente para consumir a sua oferta, já adapte o seu discurso para atingir a essas pessoas e uma gama maior de público com a mesma comunicação. Será que um discurso mais voltado à comida em si não teria surtido um efeito diferente? Talvez uma associação com outros produtos que os 3 pudessem acrescentar como metas estendidas e brindes ( muita gente reclamou dos brindes, mas isso é assunto para outro texto) fariam com que as coisas fossem diferentes?
Teste a água antes de entrar: Muitas vezes, no afã de gerar impacto, não questionamos as pessoas sobre o que vamos fazer de diferente em relação à nossas campanhas. Ainda mais no nosso mercado, onde com algumas poucos cliques você pode ter um feedback considerável do público mais fiel ao hobby, lojistas, outros desenvolvedores, etc. checar opinião sobre um passo a ser dado pode ser a diferença entre um mergulho perfeito e cair de cabeça em cima de uma pedra.
Se você leu até aqui, antes de tudo muito obrigado pela sua paciência e, por favor, agregue à discussão por aqui ou pelas nossas mídias sociais!