Se você é dos antenados nas notícias do mundo dos
board games, com certeza já ouviu falar do jogo
SeaFall. Anunciado na última semana pela
Galápagos Jogos, o jogo já vem sendo aguardado pelos jogadores mais ansiosos desde 2013. E não é por menos:
SeaFall promete ser um dos grandes jogos do ano e não são poucos os que esperam que o jogo logo atinja as primeiras posições do ranking do
BoardGameGeek. Mas, apesar de tudo isso, parece que nem todo mundo ficou empolgado com a notícia do lançamento do jogo no Brasil praticamente ao mesmo tempo em que acontece o lançamento lá fora. Muito provavelmente porque ainda se falou muito pouco sobre o jogo nos principais canais seguidos pelos jogadores no Brasil. Aqui mesmo, no
Ludopedia, ainda há muito pouco sobre o jogo.
Antes de tudo, temos que dizer que o fato de se tratar de um jogo que tem entre suas mecânicas o tão falado sistema
legacy já deixou muitos jogadores com orelha em pé. Seja por amarem ou por odiarem. O sistema
legacy tem se tornado popular nos últimos anos entre os jogos de tabuleiro por permitir que os jogadores joguem uma série de partidas consecutivas em que efeitos das partidas anteriores mudam características dos jogos seguintes como o tabuleiro, regras e até mesmo insere personagens/elementos adicionais. O primeiro grande jogo do gênero foi o
Risk Legacy, de 2011. No jogo, as mecânicas do
Risk original foram combinadas com alterações que ecoavam nas partidas seguintes podendo, entre outras coisas, fazer sumir do mapa determinadas regiões do tabuleiro ou fazer surgir uma raça nova que poderia ser usada nos jogos seguintes. O jogo, criado pelo veterano
Rob Daviau, rapidamente se tornou um dos mais procurados nas lojas e tornou o nome do autor bastante conhecido no meio. Até então, Rob havia trabalhado em centenas de jogos para a
Hasbro entre diversas versões de jogos como
Monopoly,
Jogo da Vida e o próprio
Risk, mas ainda não era aclamado entre os autores de jogos de tabuleiro modernos.
Rob Daviau, o homem por trás do sistema legacy
Mais tarde, Rob deixaria a
Hasbro para começar trabalhos mais independentes. Com a
Artana (produtora de
Tesla vs Edison), anunciou
Chronicles 1: Origins, em parceria com
Dirk Knemeyer. Com a
Z-Man Games veio seu jogo mais popular até o momento:
Pandemic Legacy: Season 1. O jogo foi lançado em 2015, em parceria com o autor do jogo original
Matt Leacock (o
Pandemia original foi lançado em 2008), juntando um jogo já bastante popular e seu bem sucedido sistema
legacy. Daviau criou um jogo que repercutiu muito mais do que o esperado e se tornou o número 1 do ranking da
BGG em pouco tempo, derrubando do posto o aclamado
Twilight Struggle.
Pandemic Legacy reacendeu a discussão sobre o sistema
legacy e se tornou grande ponto de cisão entre os jogadores. O "amor vs ódio" ao sistema passou a ser assunto em praticamente todos os fóruns relacionados à jogos de tabuleiro.
Ainda em 2013, antes mesmo de lançar
Pandemic Legacy, Rob já havia anunciado que estava trabalhando em um projeto novo, que usaria o sistema
legacy e o implementaria em um jogo
4X, algo até então inédito. Porém muito tempo se passou até que
SeaFall recebesse, de fato, informações relevantes. Somente em 2015 o jogo foi anunciado oficialmente e uma data para seu lançamento definida: setembro de 2016.
O Jogo
Tudo começa com as navegações. Após o fim da
Idade das Trevas, a beleza das embarcações volta a tomar conta dos mares e as civilizações partem em busca de novas e longínquas terras. Ou, como o próprio autor diz, imagine que você tem Indiana Jones na era de ouro das navegações.
Tabuleiro do jogo
Em
SeaFall os jogadores assumem o papel de líderes de províncias em busca de glória, explorando o mapa, fazendo acordos e comércio com as províncias vizinhas, ou partindo para guerra contra elas. Ao longo do jogo, os jogadores poderão explorar o mapa em busca de novas localizações, evoluir suas províncias e criar postos de comércio, desenvolver novas tecnologias e melhorar suas embarcações e combater os adversários, criando alianças estratégicas ou fazendo inimigos. Um típico jogo
4X, certo? A diferença aqui é que tudo isso será registrado em sua história como líder e, na próxima partida, tudo o que estiver anotado no seu tabuleiro de jogador ainda vale. Até mesmo os pontos de glória conquistados. No final de uma campanha, que se encerra quando a ilha no fim do tabuleiro for revelada, o jogador com mais pontos de glória conquistados se torna o novo Imperador.
Basicamente, você terá na sua frente um jogo de civilização e exploração, com tema náutico, em que as principais mecânicas serão movimentação em grade, negociação, coleção de componentes, batalhas e administração de cartas. Como pano de fundo, você terá jogadores com diferentes habilidades, que serão ainda modificados ao longo do jogo. Haverá ainda rolagem de dados, o que irá acrescentar o fator sorte ao jogo. Porém, este fator poderá ser minimizado conforme a habilidade do seu personagem.
Evolução do personagem: uma alcunha e mudanças em sua reputação e sorte
Cada jogador irá escolher um líder para comandar suas embarcações e dar nomes a eles. Conforme a disputa da glória for ocorrendo, esses líderes poderão mudar seu status na corrida pelo trono. Nesta corrida estão um(a)
Príncipe/Princesa, um(a)
Duque/Duquesa, um(a)
Conde/Condessa, um(a)
Barão/Baronesa ou um(a)
Lorde/Lady. Ao longo das partidas, esses títulos são trocados entre os jogadores e isso influencia em vários fatores. Como você deve imaginar, a ordem de sucessão começa pelo príncipe e termina com o lorde.
As "fichas" de cada província poderão ser completadas com novas descobertas, novos tipos de recursos produzidos ou mesmo novos assistentes (como um capitão experiente, um carpinteiro de mãos hábeis, um estivador bruto, um índio contrabandista, um guia local e etc). Então, os jogadores irão partir de suas próprias províncias e explorar o mapa, descobrindo novas ilhas ao longo do tabuleiro que se tornarão postos de troca de mercadorias e pontos estratégicos ao longo do jogo.
Seus assistentes
Durante o jogo, várias ações diferentes te farão ganhar glória como explorar por novas ilhas ou saquear uma província para ter controle dos recursos. Cada partida dentro da campanha terá uma quantidade mínima de glória para definir o vencedor e esse valor irá aumentar conforme se avança na campanha. Ao final de uma partida a glória do jogador é zerada para o jogo seguinte, mas fica registrada para a pontuação da campanha. Haverão também
milestones, que serão marcos individuais que podem ou não ser atingidos durante uma partida como o jogador que mais fez madeira ou que mais explorou o mapa. Esses marcos também recompensarão os jogadores com selos de reputação e sorte que farão parte de sua história o permitirão ter vantagens.
Mapa do explorador
SeaFall vem ainda com um
Diário do Capitão, que deverá guiar e narrar as histórias da campanha, aumentando o nível de imersão na temática e, acredito eu, colocando desafios a serem superados para cada partida. Imagino que este livro deva servir como um norte para jogo, mudando características para cada cenário, mas também definindo quais serão os
milestones que poderão ser alcançados. Alguns
teasers foram divulgados com trechos do diário e você pode ter uma prévia do tom do jogo:
teaser 1,
teaser 2 e
teaser 3. Se você já jogou
Above and Below ou conhece algum outro jogo que utilize um livro de encontros, vai se familiarizar facilmente com o diário.
O que muda com o sistema legacy?
Provavelmente uma das perguntas mais importante a se fazer sobre
SeaFall é como o sistema
legacy irá alterar as partidas, ou seja, o que será diferente de uma noite de jogo para a outra. Não é possível dizer com certeza quais serão os itens escondidos na caixa e, obviamente, saber isso tira a maior parte da graça do sistema
legacy. Mas o manual deixa muitas dicas do que teremos pela frente. O que se pode dizer com quase toda a certeza é que, diferente de
Risk Legacy, não veremos uma nova província surgindo com suas embarcações aqui. Isso porque o tabuleiro parece ser delimitado realmente a 5 jogadores e por o jogo ser todo um só dentro de seu modo campanha. Ou seja, inserir um novo jogador poderia quebrar a campanha. Por outro lado, o próprio manual possui diversas lacunas que poderão ser preenchidas por novas regras. Uma dessas regras novas deverá, por exemplo, permitir que as embarcações se ataquem, o que não acontece no princípio do jogo (já que há uma regra proibindo isso).
Detalhe da versão final do jogo com as embarcações dos jogadores
Porém, o que realmente deverá ser interessante é o quanto o tabuleiro inicial poderá ser alterado com a descoberta de novas ilhas. O mapa inicial terá apenas algumas delas e ao longo do jogo você poderá explorar para descobrir algumas novas. Com isso, o tabuleiro se tornará maior e as partidas, talvez, mais longas. O tabuleiro do jogador também tem várias áreas que deverão sofrer alterações. Nele você poderá construir melhorias e ainda ter alguns danos. Algumas marcas também estarão no seu tabuleiro: visto que uma das regras do jogo se refere aos combates, ao longo da campanha você irá fazer inimigos. Esses inimigos ficarão marcados na sua história e algumas dessas inimizades não poderão ser desfeitas. Tempos de paz não irão durar muito.
A província: tabuleiro individual de cada jogador
As características únicas dos personagens do jogo também deverão sofrer grandes alterações. Rob tem mostrado em seu blog no site da
Plaid Hat Games diversas imagens não só dos
milestones, mas também de outras alterações que o jogo irá sofrer. Diversas delas irão alterar atributos do jogador como sua glória e sorte.
Ansioso?
Me espantou muito ver que
SeaFall não teve a repercussão que deveria quando o anúncio da vinda do jogo foi feito, na última semana. Confesso que eu estava bastante ansioso pelo jogo, tanto que fiz a compra na pré-venda lá fora (e ainda não me decidi se mantenho o jogo ou se pego uma cópia em português por aqui). Mas o jogo tem sido bastante aguardado pelos
boardgamers no exterior e é uma das atrações mais comentadas da
Gen Con em 2016. Espera-se muito que o jogo seja finalmente revelado de forma integral ao público na feira em Indianapolis.
Já havia comentado com um amigo próximo que aposto no jogo fortemente como o jogo do ano em 2016 e ainda creio que o jogo irá derrubar o outro jogo de
Rob Daviau do top do ranking do
BGG. Pelo visto, não sou o único com essa opinião, visto que o
@Lukita também disse algo parecido no último
Meeple Maniacs.
SeaFall deve, no mínimo fazer algum barulho e imagino que logo que isso acontecer a reação dos jogadores no Brasil será outra com o lançamento por aqui.
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