JOGO DE FILME PRESTA?
Harry Potter: Batalha de Hogwarts
Labirinto: A Magia do Tempo
Textinho quase natalino!

Olá, natalinos e natalinas!
Esse é um texto de Natal? Quase.
Este é um texto que vai ter continuidade com outros jogos? Talvez, não sei.
Estamos pertinho do Natal e essa época tende a ser alegre, possuindo uma relação simbólica e quase simbiótica entre o entretenimento televisivo e este feriado que evoca sentimentos de união, nostalgia, esperança e demais valores universais de paz e fraternidade. Com isso pensei: quais jogos de filme já joguei?
Pensei na resposta e vi que alguns. Na maioria, não muito bons. É costume pensar que jogo de filme dá ruim, ou mesmo filme de jogo também dá ruim, salvo poucas exceções. Dai me coloquei a listar os jogos que DE FATO nasceram de um filme. Tem muito jogo de saga famosa, como Star Wars, Senhor dos Anéis, os mais recentes Dunas, mas um jogo que veio como uma adaptação direta mesmo, não são muitos (e sabendo do histórico de sair tanta coisa porcaria, nem acho o fato de não ter muitos tão ruim).
Ao mesmo tempo, lembrei do natal. Natal é momento de criança ganhar presente e também momento de assistir filme temático. Jogo de tabuleiro é um excelente presente, inclusive! Saiu até outro dia matéria na revista Super Interessante exatamente sobre isso (
https://super.abril.com.br/cultura/7-jogos-de-tabuleiro-para-dar-de-presente-neste-natal).
Juntando as duas coisas, pensei neste texto. Como ainda não existe (que eu saiba) um jogo moderno do Esqueceram de Mim (Dir. Chris Columbus. 1990) ou do Um Herói de Brinquedo (Dir. Brian Levant. 1996), resolvi pegar jogos que não são de Natal especificamente, mas que simbolizam a esperança, perseverança, coragem e tem muita aventura e também – como deveria: criança e fantasia. Um jogo eu adorei, outro nem tanto. Se quer, contudo, saber sobre um jogo de tema natalino, especificamente, recomendo buscar informações sobre o jogo, ainda em fase de desenvolvimento, mas que joguei o protótipo no último Diversão Offline e gostei bastante, Operação Natal do gamedesigner Hildebrando Dantas (
https://ludopedia.com.br/jogo/operacao-natal). Cito o jogo, pois além de ter gostado, apareço em uma foto no evento, com gorrinho natalino e tudo, ao lado do amigo Alessandro Carpinelli do blog Tabulando e – como é um post quase natalino – não poderia deixar de ter fotinho com gorrinho por parte de alguém.
Agora chega de papo furado e vamos para as análises:
(Não vou colocar muitas fotos, pois se os gamedesigners quiseram manter mistério, quem sou eu para dizer o contrário?)
Introdução Importante: Com certo receio do jogo ser ruim, comprei sem pretensão para presentear minha amada player 2 da vida, Heloisa. Me surpreendi. Dou um spoiler já: O jogo é BOM! Um spoiler que não dou é sobre os componentes em si. O que acontece, e é importante desmistificar o quanto antes, é que este jogo PARECE de campanha, mas não é. O que quero dizer com isso é que o jogo vem com caixinhas numeradas que se relacionam com os filmes da saga toda e aos poucos novas “coisinhas” são adicionadas. O mistério que isso cria é bem legal, gostei. Achei que foi uma forma muito inteligente de introduzir o jogo aos poucos para pessoas que não são do hobby e muito provavelmente teriam acesso ao produto. CONTUDO, o jogo NÃO É UMA CAMPANHA. Não levamos “coisas” de uma partida para outra. Você joga uma partida, termina ela. Reseta. Joga tudo de novo.
Quando terminam essas caixas com conteúdo novo, o jogo termina? NÃO, muito pelo contrário! Aí que o jogo – de verdade – começa! E esse ponto é extremamente importante! Se alguém jogou apenas algumas partidas, com acesso só das primeiras caixas, não experimentou o jogo em sua totalidade (e nem no máximo de sua dificuldade!), logo, deve ser uma avaliação enviesada, mesmo que não intencional.
O jogo fica chato e repetitivo depois de tudo aberto? Não. De forma alguma. Ele fica como todo jogo de construção de baralho. Se você curte Ascension (Fiorillo, Gary. 2010), Clank (Dennen. 2016) ou qualquer outro do gênero, é o mesmo princípio de jogar com tudo que vem na caixa base de uma só vez. É isso. Por fim, devido a esse processo de revelar coisas com o tempo, achei que um texto de análise completa poderia entregar algumas informações importantes, daí resolvi encaixar nesse formato mais compacto.
...E o filme: Não sou, definitivamente, um Potterhead (um fanático pela saga). Conheci ao acaso vendo um aqui e outro ali e foi devido a aquisição do jogo que assisti os filmes, em ordem, um por um. Se trata de um filme com uma luta entre o bem e o mal em um universo que existe paralelamente com o que conhecemos, onde existem magia, bruxos, criaturas diferentonas, encantamentos e tudo mais relacionado a isso. Ao longo da saga acompanhamos o Harry, desde criança até uma época de inicio da vida adulta, lutando com a ajuda de amigos e enquanto tenta se formar em uma escola de magia, contra um vilão que matou os seus pais e busca retomar poder.
Resumo de como funciona: Batalha de Hogwarts é um jogo de construção de baralho clássico, só que de forma cooperativa. No turno do jogador, inicialmente ele resolve as ativações dos vilões, através de cartas de Artes das Trevas e cartas de vilões propriamente ditas. Estas cartas geram efeitos diversos que modificam as regras ou adicionam alguma dificuldade para o turno em questão. Depois disso, o jogador baixa cartas de sua mão (que consiste em 5 cartas) e resolve cada carta, consistindo nas opções: gerar dano nos vilões; acumular influência para adquirir novas cartas para o seu baralho (chamado aqui de grimório); comprar cartas novas para sua mão; descartar cartas; e assim por diante. Durante o turno do jogador, por ser um jogo cooperativo, existem diversas cartas que aplicam efeitos positivos em outros jogadores. A partida se encerra com os jogadores sendo derrotados ao deixarem uma quantidade específica de marcadores entrarem em um determinado tipo de carta ou com a vitória dos jogadores, quando eles derrotam todos os vilões em jogo.
(Alguns componentes do jogo. Cartas acima, marcadores abaixo).
Componentes: De excelente qualidade! Os marcadores cartonados parecem não ser exatamente cartonados, mas algum tipo de plástico (pelo fato deles virem destacados, não sei com certeza o material) sendo resistentes, mas com baixa gramatura; o manual é bem explicadinho (até pelo fato de as regras serem simples); as cartas e a caixa são de boa gramatura; existem alguns marcadores de METAL muito bem feitos (um exagero até, cá entre nós); e o jogo ainda vem com um tabuleiro para acomodar tudo na mesa (que na realidade nem era essencial). PEQUENO SPOILER (pequeno, pois o verso da caixa já estraga a surpresa): O jogo contém alguns dados plásticos, são de qualidade mediana, o problema é que um dado que deveria ser vermelho, simplesmente é roxo-escuro-quase-preto.
Arte: É quase toda retirada do filme, salvo os ícones e algumas ilustrações. Apesar disso, são boas. A diagramação é simples, mas eficaz. O jogo tem bastante texto e não achei nenhum erro (tem um mínimo em uma carta de vilão, mas acho que vai passar desapercebido por 90% das pessoas – que se trata de um errinho gráfico perto do ícone de vida de um vilão específico). Como este jogo é um jogo baseado em um filme (8, no caso), não na saga de uma forma genérica, não vi problema de terem usado imagens de atores, objetos e tudo mais do filme, acho que ficou até mais facilmente reconhecível para o público alvo.
Tema: Durante a partida temos que derrotar os vilões conforme eles vão aparecendo. Se você jogar na ordem das caixinhas, vai sentir mais a presença da cronologia dos filmes, mas se for jogar o jogo completinho, com tudo ‘liberado’, aí é uma saladona (salvo se na preparação você deixar em ordem). Isso é ruim? Se você imaginar que está no último filme da saga, no meio da pancadaria com cadeira voando e gente sendo nocauteada, até que faz sentido.
Sobre os componentes, a arte tá lá, tem um monte de personagens e itens dos filmes (apesar de faltar mais um monte que só aparecem nas expansões (que para-não-variar nunca vieram pro Brasil e acho que são ´trouxas´ os que acham que um dia virão). Como Batalha de Hogwarts é um jogo de construção de baralho, ele vai ter aqueles efeitos tradicionais: dá dano, tem moedinha pra comprar carta nova, compra, descarta, etc. e relacionar tais efeitos com feitiços (cartas vermelhas), itens (cartas amarelas) e aliados (cartas azuis) não é tão simples. Por exemplo: Hagrid é um cara grandão, que não pode fazer magia às abertas, amigo da criançada e gente boa. Qual efeito dele? Sei lá! Coloca um qualquer aí! Claro que tem cartas que fazem mais sentido, como uma Poção Polissuco que te faz copiar o efeito de um Aliado jogado neste turno, mas ainda assim, os efeitos requerem uma certa abstração por parte do jogador, mas ainda tá tudo bem. O mesmo vale para efeitos de Artes das Trevas e Vilões: às vezes parece fazer um pouco de sentido, outras vezes nem tanto. Apesar disso, não critico muito, pois eu também não saberia resolver perfeitamente essa questão se estivesse no lugar dos gamedesigners.
O que eu gostei: É um jogo muito competente dentro da mecânica que abraça (construção de baralho cooperativo). É um jogo de regras simples, que mesmo quem não está acostumado com o hobby pega o jeito rapidinho. Tem uma boa qualidade de componentes e de design gráfico.
O que eu não gostei: Tem coisa que poderia estar na caixa base, mas vem só em expansão (lembrando que essas expansões tem uma chance de vir pro Brasil mais remota do que eu conseguir decorar todos os nomes dos feitiços e personagens da saga). O maior problema do jogo (mas é algo que geralmente acontece em muito jogo cooperativo por aí) é a falta de um clímax final! Os jogadores acabam conseguindo premeditar (sem uso de magia) alguns turnos antes se vão vencer ou perder. Outro detalhezinho bobo, mas senti falta, é alguma marcação, como pontinhos no rodapé, de cada carta indicando quantas cópias da mesma existem.
Veredito final: Muito bom! Melhor do que eu esperava. Harry Potter: A Batalha de Hogwarts é um jogo de construção de baralho competente, redondinho, que não deixa a desejar em nada para outros do gênero. Vai agradar muito fãs da saga, mas acredito ser bem aceito pelo público em geral. É uma bela indicação e presente de Natal. Uma pena as duas expansões não terem visto o sol brasileiro.
Jogo:
Labirinto: A Magia do Tempo
(Designer: Alessio Cavatore / Arte: Johnny Fraser-Allen. 2016)
(Parece bagunçado? Pois bem, é mesmo)
Introdução Importante: Sou fruto de uma infância dos anos 90, logo tudo que se relaciona ao período 80s/90s me traz uma grande sensação de boa nostalgia (eis também o motivo de pensar em Natal e correlacionar com filme velho). Isso foi o bastante para que eu comprasse Labirinto: A Magia do Tempo em um evento por R$100? Foi (isso e o fato de o jogo vir com miniaturinha do David Bowie, que era vilão no filme). Mesmo assim, com certo receio do jogo ser ruim, comprei sem pretensão e... dessa vez não me surpreendi. O jogo lembra muito um jogo também da década de 80 ou 90, daqueles que sentimos que se joga sozinho. Ele merecia o espaço e meu tempo dispendido ao fazer uma análise? Não. Porém, é época natalina e temos que ter coração aberto. Imaginem ser essa minha boa ação da semana: fazer análise de jogo ruim, que se mantém na minha prateleira por pura questão emocional, não racional.
...E o filme: É, para mim, um clássico esquecido. No filme a personagem principal Sarah (interpretada por Jennifer Connelly, musa dos juvenis noventistas) é uma jovem sonhadora que está, em uma noite chuvosa, cuidando do seu irmãozinho Toby, que ela não demonstra lá muito carinho. Após ler uma história para ele dormir, Sarah meio pistolinha com a sua situação, reclama pedindo que duendes levem seu irmão embora. Dito e feito, ele desaparece. Nisso aparece o vilão (interpretado pelo fantástico David Bowie) e diz que o desejo foi realizado e agora ela precisa adentrar em um labirinto para resgatar o irmão, antes que ele seja transformado em um duende. Ao longo do caminho, Sarah faz inúmeros aliados e... vejam o filme. Sem spoilers aqui, já que ele não é tão famoso hoje em dia! Hehe
Apesar da estória com todos elementos clássicos de fantasia: vilões, heróis, aventura, fantoches criados por Jim Henson (o cara dos Muppets e Vila Sésamo), atores famosos, a presença de David Bowie e produzido pela Lucas Arts (a galera do Star Wars), o filme não fez tanto sucesso quanto se esperava, se tornando uma espécie de ‘quase cult’.
Resumo de como funciona: De 1 a 5 jogadores jogam de forma cooperativa, movendo o seu personagem por um caminho em forma circular no tabuleiro. Cada personagem tem o seu conjunto de dados, deixando-os com características um pouco distintas entre si. Em cada turno o jogador se move até uma carta e resolve o seu efeito, rolando um dado relacionado ao relato da cartinha. Os jogadores vencem caso consigam fazer Sarah chegar ao centro do tabuleiro e perdem caso demorem muito e os ponteiros do relógio cheguem no horário final.
(Alguns dos componentes)
Componentes: As miniaturas são boas, no padrão tradicional, com detalhes e acabamento bacanas. A frente da caixa tem uma coisa interessante, que é uma parte transparente, no qual as miniaturas (são apenas 5) podem ser vistas mesmo com a caixa fechada; as cartas são de uma gramatura mediana, mas em um formato estranhamente fino e longo, fora de qualquer padrão para se colocar sleeves (os plastiquinhos que protegem as cartas); os demais marcadores cartonados e o tabuleiro são medianos; a caixa vem com um organizador, não lá muito útil, mas serve para deixar as miniaturas à exposição com a caixa fechada, o curioso aqui é que esse organizador possui um acabamento aveludado! Acho que a intenção era fazer parecer algo premium-retrô, mas ficou com cara de velho-ultrapassado; dados ok também, nada de mais nem de menos. Resumo: tudo ok.
Arte: É a do filme, tal qual do Harry Potter: A Batalha de Hogwarts, contudo, feito do pior jeito possível. A diagramação das coisas é estranha, a arte do tabuleiro e de algumas miniaturas cartonadas é confusa, com uma paleta de cores bege-sépia-marrom-fezes-de-bebê. A fonte é pequena, fora que o formato das cartas espremeu o texto, dificultando a leitura devido ao pouco espaçamento. Fora as miniaturas, quase nada se salva.
Tema: É como se fosse o filme acontecendo, em uma ordem bagunçada. As cartas de encontro narram cenas do filme, logo é como se fossemos Sarah & cia. passando por aquela aventura, mas em uma ordem de acontecimento nova. É isso. É como ver o filme e interagir muito de levemente com ele. Isso não é algo de toooodo ruim, mas está longe de ser algo contemporâneo dentro do que temos no hobby hoje (e lembrem-se, o jogo é de 2016 – mesmo ano do Harry Potter: A Batalha de Hogwarts!).
O que eu gostei: Ter na prateleira um jogo de um filme que acho clássico e acompanha miniaturas que representam uma jovem Jennifer Connelly e o David Bowie. É um pedacinho de história para um fã de filmes em geral.
O que eu não gostei: Do jogo em si (imagine uma cara de paisagem aqui). Veja, ele não é totalmente lixoso! A premissa da rolagem de dados é interessante, lembra bastante um RPG (sem a parte do PG, praticamente), no sentido de que cada personagem tem seus atributos representados em dados, logo, por exemplo, se você for enfrentar um inimigo (desafio de Muque), é melhor ir com um personagem porradeiro, como o Ludo. Porém, fora essa coisa bem básica, o jogo é fácil de vencer e bobo de resolver as coisas. Como eu citei antes, é um jogo com aspecto de ultrapassado. Até entendo a premissa de ser nostálgico, mas isso não justifica fazer, em 2016, um jogo com todo aspecto de jogo de tabuleiro “não-moderno”. Saudosismo tem limite.
Veredito final: Vale ter se for colecionador, estiver barato e pela nostalgia (o meu caso), mas não é um jogo que verá mesa mais de uma vez. Se você não tem ideia de qual é esse filme, quem raios foi David Bowie ou não é pego tanto pelo coração ao comprar: passa longe.
É isso, galera! Espero que tenham curtido as breves análises quase-mas-não-muito-natalinas, mas que sirvam como renovação e votos de um novo ano cheio de novidades, jogatinas e diversão. Respondendo à pergunta inicial: jogo de filme presta? A minha resposta sincera é: depende. Tem jogo que sim, tem jogo que não. Foi o que quis mostrar nesse texto.
Agora é a sua vez!
Me digam, quais jogos te lembram o Natal?
Vocês já jogaram outros jogos de filmes? Quais e o que acharam?
Abraços digitais, fui!
Um texto de
Raphael Gurian
A ideia deste formato de análise não é explicar um jogo, para isso existem muitos outros textos, vídeos e etc. A finalidade do texto é fazer uma análise crítica acerca de critérios que acho importante e que muitas vezes acabam não sendo explorados em análises de uma forma mais detalhada. Os jogos analisados não seguem qualquer critério comercial, incentivo ou pagamento, sendo escolhidos com base em fontes de vozes da minha cabeça, aliado ao fato de ter já jogado o jogo em questão muitas vezes, a ponto de me sentir confortável em opinar sobre o mesmo.
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