dharrebola::
Queria iniciar um hobby compartilhado com minha esposa, comecei então a me inserir no mundo dos Boardgames.
No início, fiquei com aquela sensação: isso vai ser um vício e eu vou pular fora em um instante.
Os Boardgames eram caros, tanto quanto jogar Magic.
Mas eu via um custo benefício maior.
Com 200 reais, as vezes eu comprava uma carta de Magic, com o mesmo valor eu comprava um boardgame completo.
Papelão por papelão, troquei 5 gramas por 1kg.
A validação do hobby, veio através das partidas memoráveis que tive, e de diversas conversas com a minha esposa, por várias vezes ouvi da boca dela: se você não gastar com o que te trás prazer, vai gastar com o que?
Muitas compras depois (muitas compras "no escuro" inclusive) e passado o frenesi inicial depois de ser bombardeado com publicidade e opiniões de todos os lados, consegui dar um "freio" nas compras.
Hoje compro muito menos e com muito mais critério, agora eu sei o que gosto de jogar (e é a dica que dou para quem está iniciando no hobby, desenvolva seu gosto e descubra qual a sua preferência em relação aos jogos).
Não tenho apego também, consigo me desfazer de um jogo que não me agradou tranquilamente, seja vendendo, seja doando ou trocando.
Sempre vou carregar o peso de ter convivido com alguém que desenvolveu uma relação não saudável com uma variante do hobby que eu escolhi.
Caro Davi Henrique (
dharrebola)
Parabéns pelo texto excelente, mas principalmente por ter conseguido transformar uma experiência tão ruim em algo tão positivo e prazeroso, na sua vida.
No mais, eu acho que a diferença entre o hobby saudável e o vício reside em estabelecer quem controla quem. Se o vício, qualquer um que seja, não desse tanto prazer ao viciado, a ponto de cegá-lo, ele não seria um problema tão sério na vida das pessoas. Isso é mais ou menos o caso da pessoa que é alcóolatra, que usa drogas ou que fuma, que acredita não ser viciada, e se ilude que pode largar o vício quando quiser, e que só não faz isso porque seu vício lhe dá prazer e lhe faz feliz. Consequentemente, se a pessoa acredita que pode parar ou deixar de se render ao vício quando quiser, e que o vício lhe faz feliz, na ótica deturpada dessa pessoa, ela pode tranquilamente beber, fumar, se drogar, e até mesmo jogar todos os dias, que não tem problema. Essa ilusão de controle talvez seja a faceta mais perigosa de qualquer vício, porque impede que o viciado sequer enxergue que ele tem um problema, e muito menos que haja alguma necessidade de pedir ajuda, ou fazer algo a respeito por si mesmo como para de beber, de fumar, de se drogar e de jogar.
Por isso, eu acho fundamental, de vez em quando dar uma pausa nas jogatinas, e também olhar para o seu jogo favorito e dizer hoje eu não vou jogar você, só para deixar claro quem manda em quem. A bem da verdade é que ninguém vai morrer ou ser obrigatoriamente infeliz se deixar de jogar os "melhores jogos de todos os tempos desse mês", como um Heat, um Food Chain Magnate, um Destemidos, ou um World Wonders, só para citar alguns dos jogos mais hypados do momento, e nem mesmo os grandes clássicos como Carcassonne, Brass, TI4, Puerto Rico, Gloomhaven, Stone Age, e assemelhados.
Um forte abraço e boas jogatinas!
Iuri Buscácio