Por: Linauro. Apaixonado por literatura, música e jogos, desde sempre. Descobriu nos jogos de tabuleiro uma desculpa perfeita para passar mais tempo com amigos e pessoas amadas.
The Castles of Burgundy é um jogo de tabuleiro de Stefan Feld para 2 a 4 jogadores e lançado no ano de 2011. Não é segredo nenhum que Feld, o seu designer, é uma máquina de fazer ótimos euro games, como Bruges, Bora Bora e Notre Dame, dentre muitos outros exemplos possíveis. Ao menos nos rankings, todavia, parece que temos uma consenso de que, ao lado talvez de Trajan, The Castles of Burgundy seja o seu magnum opus. Em seu tema, The Castles of Burgundy é um jogo simplista: retrata o Vale do Loire, na França, durante o século 15. Os jogadores representam príncipes e devem negociar e construir seus principados, almejando a proeminência na região. Uma das expressões recorrentemente utilizadas para explicar a temática nos jogos de Feld, com algum exagero, é a de que são "colados com cuspe", uma maldade, obviamente.

Porém, e nesse ponto eu concordo, é que é em razão da sua elegante estrutura que The Castles of Burgundy colocou-se, irremediavelmente, na lista dos grandes jogos de tabuleiros modernos. A precisão do seu design revela-se até mesmo no manual, sendo um dos mais objetivos e didáticos que já tive a oportunidade de ler, mesmo não tratando-se aqui de um jogo simples. Claro que outra expressão popularmente usada para resumir as estruturas dos jogos de Feld, a famigerada "salada de pontos", passa longe de retratar a gama de possibilidades estratégicas oferecidas pelo designer, todas capitaneadas pela alocação de dados, enquanto mecânica principal, mas precisamente combinada a inúmeras outras mecânicas, tais como: coleção de peças, construção a partir de modelos, encadeamento de ações e ordem de turnos variável.
The Castles of Burgundy tem um fluxo de jogo simples, com turnos rápidos e ótimo tempo de partida. A cada turno, o jogador usa seus dois dados para executar duas ações, que podem ser: pegar um tile hexagonal do tabuleiro; adicioná-lo ao seu principado, atentando-se às exigências de combinação de número, cor e adjacência, e resolver os efeitos decorrentes, sendo que cada tipo de tile produz um efeito específico, podendo representar desde a construção de castelos, minas e prédios até a produção de conhecimento; comercializar mercadorias; comprar tiles do mercado cinza e contratar novos trabalhadores. Um dos aspectos mais estratégicos do jogo é justamente o bom uso de trabalhadores, que permitem alterar o resultado dos dados. Após exatamente 25 rodadas (organizadas em 5 fases) e 50 ações de dados, a partida termina, premiando o jogador que mais reuniu pontos de vitória.

Considero
The Castles of Burgundy uma
passagem obrigatória dentre os jogos de tabuleiro modernos estratégicos. A sensação geral é a de estarmos desenvolvendo um enorme e genial
puzzle, fácil de aprender, porém, bem difícil de dominar. É daquele tipo de jogo que te deixará pensando por horas depois sobre a partida, sobre como uma ou outra ação poderia ter sido melhor encadeada para potencializar o máximo de efeitos e pontos de vitória. Aliás, uma boa otimização das ações é algo que só se domina após algumas partidas. Sorte a nossa que partidas de
The Castles of Burgundy sempre valem a pena
. Destaco ainda que o jogo é balanceado, na preparação, para partidas com 2, 3 ou 4 jogadores, funcionando bem com qualquer número de participantes. Enfim, apesar de ser um jogo em que a rolagem de dados é uma mecânica central, o fator sorte é controlável e até mesmo favorece aqueles jogadores que melhor conseguem antecipar e manipular o resultado dos dados.
Imagens: acervo pessoal e Ludopedia.