Iero::Iuri, tenho certeza que não foi sua intenção, mas do jeito que o seu artigo foi escrito, parece que depois de completar um jogo legacy, ele fica completamente inutilizado.
Isso não é verdade e pode confundir quem nunca jogou um jogo legacy e está lendo o seu artigo para conhecer esse modelo de jogo.
O que não é mais possível de jogar é a campanha (com a exceção de GH que você mencionou). Mas o jogo se torna perfeitamente “rejogável” como se fosse sua versão normal. Na verdade, em alguns casos (como o Pandemic, Clank e Ticket to Ride) seria como se ao final a pessoa tivesse um jogo base com algumas expansões, já que o jogo ganha novos componentes e mecânicas que não existiam no jogo base original.
Se me permite uma sugestão, pediria que adicionasse essa informação em seu artigo, para não ter o risco de que alguém acabe se enganando com a leitura.
Um grande abraço.
Caro
Iero
Meu amigo, eu entendo o seu ponto de vista, no entanto quero fazer algumas ponderações, que eu gostaria que você considerasse.
Em primeiro lugar, eu acho que ficou claro que eu disse que, tomadas algumas precauções, em relação à destruição de componentes, seria em tese possível continuar com uma versão do jogo, e até mesmo rejogar a campanha, conforme bem apontou o
Antonio Ernande. Mas quando se destrói um componente ou se cola um adesivo no tabuleiro a situação é outra. Talvez até haja a possibilidade de se jogar, mas eu acho que certamente não é a mesma coisa.
Em segundo lugar, mesmo que fosse possível jogar um jogo Legacy como uma versão normal do jogo, após finalizada a campanha com a destruição e modificação de componentes, há ainda uma outra questão, que não pode ser contestada, ao menos na minha opinião. A ideia original dos jogos Legacy e que foi uma das principais responsáveis pela sua grande influência, sucesso e aceitação reside justamente no conceito de se jogar uma única vez. Foi com base nisso que o Pandemic Legacy Season One atingiu o topo do ranking do BGG, destronando o Twilght Struggle, como TOP1, e se mantendo por mais de sete anos dentro do clube dos TOP10. Atualmente o jogo é o #2 do ranking do BGG.
Só que quando o Pandemic Legacy deu início para valer a essa nova categoria de board game (muito mais que o jogo original Risk Legacy), ninguém falava em manter o jogo após a campanha. A ideia era exatamente essa, ou seja, "não se comprava um jogo, mas sim uma experiência", e por conta disso, quando a "experiência transcedental" que o jogo Legacy proprocionava chegava ao fim, não havia sentido em se manter o jogo. Isso justificava rasgar, quebrar, rabiscar, colar adesivo e tudo o mais em termos de destruição, até porque "essa era a única forma de vivenciar plenamente a experiência Legacy". Se o jogo era caro, bastava juntar meia dúzia de amigos para "dividir não apenas a tal experiência, mas também o seu custo". Estou deixando parte desses raciocínios entre aspas, por esse pensamento não é meu, mas sim de diversas pessoas que advogavam isso quando o Pandemic Legacy e assemelhados foram lançados. Aliás muito pelo contrário, eu sempre fui contra isso, e expressei veementemente minha posição em alguns comentários e textos, não apenas porque os board games são muito caros, mas porque particularmente eu acho uma heresia destruir um board game, não me interessa o quanto catártico e transcendental essa experiência possa ser.
No entanto, esse entendimento em prol da destruição foi defendido por diversos canais de board games, e formadores de opinião, com gente até se orgulhando porque terminou de jogar a campanha do Pandemic Legacy em um churrasco com os envolvidos e acendeu a churrasqueira tacando fogo nas cartas e tabuleiro. Sinceramente eu não vi nenhuma graça nisso, mas cada um faz o que quiser com o seu dinheiro, porque acender uma churrasqueira com um board game, para mim é o mesmo que utilizar algumas notas de cem, para tal fim. Portanto, veja que eu não excluí a possibilidade da pessoa terminar a campanha de um jogo Legacy ainda com uma cópia utilizável do jogo, desde que tomadas algumas precauções. Mas você há de concordar, que o sentido original dos jogos Legacy não previam de modo algum esse tipo de possibilidade. Foi com base nesse sentido original dos jogos Legacy que o artigo foi escrito.
Eu inclusive tenho para mim que esse tipo de preocupação deve ter surgido em mercados de países com economias mais modestas e com pouca tradição de board games onde os jogos são muito caros, em especial o Brasil, o que tornava muito complicado comprar para usar uma única vez e depois jogar fora.
Assim sendo, não discordo totalmente do seu ponto de vista quanto à possibilidade de se manter um jogo Legacy, após o final da campanha, mas pelo menos até onde eu sei, o Ticket to Ride Lendas do Oeste, foi o primeiro jogo Legacy lançado especificamente com essa intenção, sendo esse um dos seus trunfos, para justificar o seu alto preço. É um jogo Legacy mas ao final se fica com uma nova versão do Ticket to Ride, ou pelo menos foi isso que eu entendi até agora.
Por fim, concordo contigo que, não apenas a ideia do Legacy, mas de outros jogos com campanha, são realmente uma das alternativas que mais aproxima os board games dos RPGs, que eu também curto, e joguei durante décadas. Tenho meus livros AD&D, GURPS e World of Darkness até hoje. Se somado a isso for excluída a destruição de componentes, para mim a ideia dos jogos Legacy fica melhor ainda.
Um forte abraço e boas jogatinas!
Iuri Buscácio