Na série Jogador do Mês, tem uma coisa que todos os entrevistados frisaram como perigo no hobby: o consumismo. Pesquisei para compartilhar um pouco sobre o que ele é sob diversos ângulos, e vou propor um exercício no final para quem se propõe melhorar nesse aspecto.
DISCLAIMER: Se você possui algo mais sério do que um leve desconforto, que possa dar indícios de exigir cuidados ou tratamento especiais, por favor, consulte o seu profissional de saúde de confiança.
O artigo também, é claro, não é para as pessoas que estão começando uma coleção ou simplesmente se divertindo colecionando jogos em qualquer quantidade, mas sim para quem percebeu que comprar os jogos tem sido um problema pessoal. Segue a pesquisa:

Psicologicamente, o consumismo pode gerar uma sensação temporária de satisfação, mas frequentemente leva a um ciclo vicioso de desejo e frustração (muitos jogos sem jogar (o famoso "shelf of shame"), vergonha do impulso, problemas financeiros). Socialmente, promove desigualdades, pois o acesso aos bens de consumo varia significativamente entre diferentes camadas da população.
Historicamente, o consumismo ganhou força com a Revolução Industrial, que aumentou a produção em massa de bens.
Seja pela vício de comprar, pelo medo de perder uma oportunidade ou por questão financeira, muitos de nós, inclusive eu, temos dificuldade em domar esse impulso.
E é o que ele é, um impulso. É como o esquilo que guarda nozes para o inverno. Ou o urso que engorda para hibernar no inverno, quando os rios congelam e não há comida. O detalhe pequeno é que não temos inverno de board games. Não vai acontecer nada se de repente 95 dos seus 100 jogos sumirem da noite para o dia. Você ainda terá 5 bons jogos para se divertir!
O consumismo também tem graves consequências ambientais. A produção em massa leva ao esgotamento de recursos naturais e à geração de resíduos e poluição, afetando ecossistemas e contribuindo para a crise climática.
Perda de Significado das Coisas - O consumismo pode levar à desvalorização dos objetos e à perda de significado nas relações humanas. À medida que as pessoas se concentram mais em adquirir bens, a importância de relações interpessoais e valores não-materiais pode diminuir.
Não ajunteis tesouros na terra, onde a traça e a ferrugem tudo consomem, e onde os ladrões minam e roubam; Mas ajuntai tesouros no céu, onde nem a traça nem a ferrugem consomem, e onde os ladrões não minam nem roubam. Porque onde estiver o vosso tesouro, aí estará também o vosso coração. -Jesus Cristo
A obsolescência programada, uma prática adotada por algumas empresas (não estou dizendo que alguma editora brasileira faz isso, é só um conceito), envolve projetar produtos para terem uma vida útil limitada, forçando os consumidores a substituí-los com frequência. Isso não apenas gera mais consumo, mas também contribui para o desperdício de recursos e o acúmulo de lixo. Nos jogos de tabuleiro, por exemplo, há jogos que já são lançados com expansões ou com a intenção de ter expansões, que muito bem caberiam na mesma caixa como parte do jogo original, e que apelam para o impulso de querer "completar" o produto.
Em resposta, surgiram movimentos que promovem o consumo consciente e sustentável, como o minimalismo, que propõe uma vida com menos posses e mais significado. Estes movimentos desafiam o modelo de consumo vigente e incentivam práticas mais responsáveis.
Uma das editoras brasileiras no ano passado se manifestou dizendo (segundo a minha memória) que não faria Black Friday, pois sentia que desvalorizava o produto desnecessariamente. É claro que tem possíveis vantagens para os vendedores e editoras, que, mesmo com prejuízo na venda, conseguem reaver seu investimento que pode estar parado para adquirir novos produtos para vender.
Por mais que eu não seja da filosofia minimalista, por questões financeiras precisei vender muitos jogos nos últimos tempos - e arrisco dizer que metade deles nem joguei. Confesso que fiquei bem feliz em ver a estante esvaziando, e já estou animado para vender mais do que eu preciso para pagar as contas. Depois de cada leva, vou de novo ao armário para pegar mais um lote. Deu uma sensação de leveza, saciedade, de força interna até. Acho que eu superei em algum grau aquele "esquilo juntando nozes para o inverno" ou o "urso preparando para o inverno" que há dentro de mim.
Mas....como consegui passar da minha meta, acabei comprando novos também esses dias. : P
Como percebi que eu mesmo e muitos colegas tem essa dificuldade com o consumismo, vou propor algumas experiências neste post e nos próximos para quem deseja melhorar esse aspecto. São coisas que você tem de escutar com seus ouvidos e sentir se faz sentido para você lidar com isso nesse momento, ou não.
O desafio de hoje:
"Não comprar jogos (para si) até o Natal passar."
Se tiver vontade de participar, funciona assim: são apenas 45 dias, Black Friday + Natal. Tem uma lista de diversos níveis, de acordo com o que você quer se propor. Você pode escolher um nível realista e condizente com a sua realidade, e com certeza conseguirá atingir a meta. São eles:
Nível 1) Não vai comprar NENHUM JOGO para si até passar o Natal + EXTRAS
E, depois do Natal, só se vender um jogo da sua coleção para abrir espaço físico e financeiros.(o famoso "entra um, sai um") Esse é um exercício sem prazo definido.
Nível 2) Não vai comprar NENHUM JOGO para si até passar o Natal.
Depois pode. É só um exercício temporário. Ou, se gostar, continua.
Nível 3) Não vai comprar NENHUM JOGO EM PROMOÇÃO para si da Black Friday e Natal ou outras promoções.
(é aquela máxima do Thomas Jefferson, "Não compre algo que você não gosta só porque é barato.")
Ou seja, se aparecer uma oferta imperdível, você nem precisa ir ver se o jogo é bom ou se seria uma boa compra considerando a sua coleção. Vocë simplesmente ignora quaisquer chamados para compras.
Você pode ainda comprar jogos que sabe que quer e não encontrava para vender - por exemplo, um jogo que você espera há um ano aparecer no mercado da ludopedia. Ou aproveitar uma rara viagem ao exterior para trazer um jogo na mala que você tem estudado há tempos ou que não existe no mercado brasileiro.
Nível 4) Não pode comprar jogos com dinheiro "novo" (sugestão da Ana)
Você pode comprar quantos jogos quiser, contanto que não precise tirar dinheiro do bolso. Você pode vender os jogos que já tem e, com o dinheiro, comprar novos.
"Veni, vidi, vici."
É a frase famosa do Júlio César: eu vim, eu vi, eu conquistei. Mas a conquista é de si mesmo!
No self-mastery,
No real happiness.
-Sri Chinmoy
E aí? Quer fazer o exercício? Qual nível você quer participar? Pode deixar nos comentários ou guardar no seu coração. (Para que "a mão esquerda não saiba o que a direita faz.")
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PS de brincadeira: espero não sofrer represálias das lojas e editoras! Quem sabe eu não "acidentalmente" me engasgo com um meeple verde colocado furtivamente no meu copo de leite com todinho?
E feliz dia da proclamação da república!