Salve senhores, primeiramente queria dizer para vocês que eu quero muito falar desse jogo, porém, eu não tenho nenhum pra fazer um par em conjunto como o mandamento do Versus demanda, então decidi só fazer um “Minha Primeira Partida”.
"Minha Primeira Partida" vai ser um novo formato que eu vou colocar às vezes – especificamente quando eu quiser falar de algum jogo em específico e me alongar em coisas bem específicas dele. Ainda seguindo o ritmo do canal, minha intenção não é ensinar ninguém a nada, existem canais (pra caramba e muito competentes que assim o fazem).
No caso desse bloco, eu pretendo dar minha opinião, discutir sobre e dizer tudo que tô sentindo em meu kokoro sobre esse jogo – que no momento está mega hypado.
Vamo falar desse cara?
Hegemony: Conduza Sua Classe À Vitória, pra quem não sabe, é um jogo criado pelo
designer Vangelis Bagiartakis – Criador de
Fields of Green, em parceria com
Varnavas Timotheou, que
nunca havia lançado um jogo antes.
Varnavas é novo nesse mercado, mas já entrou pensando grande. Além do Hegemony, ele tá planejando o World Order junto com seu parceiro de design presente aqui.
Nesse jogo, a ideia central dele é fazer com que um
país em declínio (sem nome no jogo), consiga se
reorganizar com as suas
quatro forças, e resolvam o
pepino de ter um país falindo de alguma forma, com alguma das
quatro facções saindo vencedora.
Suas facções são
assimétricas, e as quatro
jogam e pontuam de formas diferentes.
Aqui temos:
- Capitalistas - basicamente, os empresários: criam empresas, geram bens, vendem pro mercado interno ou externo;
- Classe-Média - que gera empresas menores, e também gera mão – de – obra, está sempre buscando o status quo;
- Trabalhadores - que são a maior parte dos trabalhadores, fazendo o “chão de fábrica” e as estatais fluírem, assim como sindicatos;
- Estado – Recebe as taxas de todos, paga as empresas públicas, consegue dar “benefícios” pras outras classes, e se ele quebrar
dá uma merd4 do caralh0 o FMI brota e resolve o tabuleiro.
O tabuleiro da classe média, seu baralho, ao lado esquerdo o guia de referência da facção e os recursos disponíveis para eles.
A primeira coisa que eu quero falar sobre esse jogo é que
eu gostei dele. Eu achei ele
inteligente e funcional, acredito que ele seja
único (
pelo menos por enquanto) e ele me dá um sentimento
diferente de qualquer jogo que eu tenha jogado;
PORÉM eu nunca vou compra-lo.
“Mas como assim Bomba, tu não gostou dele?”
Sim, eu curti. Mas eu tenho 100% de
certeza que meu grupo físico vai achar ele
denso demais e ele vai só ficar
olhando pra minha cara. Pra mim vale muito mais a pena pegar
emprestado de vez em quando com algum amigo que o tenha pra testar por aqui e depois devolve-lo.
Ele não é um jogo pra todo mundo.
Suas mais diversas empresas na área de Setor Privado, tudo aqui é do controle dos Capitalistas.
Esse é o típico jogo onde vai ter
um monte de gente comprando ele, porque o
FOMO é muito grande, tem gente que
não consegue resistir ao hype e vai cair na cilada de compra-lo pra ficar olhando pra cara dele e tendo dificuldade de coloca-lo na mesa. Ou simplesmente não vai gostar dele, também é uma hipótese.
Aguarde cópias desse jogo na ludopedia com tags de “aberto para conferência”.
Dito isso, eu achei ele um jogo
muito pesado. E mais, não é só pesado em suas ações.
Pesado economicamente. Tu
tem que fazer conta. Tem que fazer
taxação das suas empresas, e nesse jogo todos esses
valores são variáveis.
Não é o que alguns jogos fazem de que tu
aumenta, aumenta, aumenta e nunca desce. Aqui, em uma partida, ele vai
aumentar, diminuir, aumentar de novo, e sinceramente, é uma fórmula
meio chata de se decorar.
Gente que não gosta de ficar fazendo continha pode cortar esse jogo tranquilamente. O multiplicador de taxa tá te olhando o jogo todo.
Sobre a assimetria das facções; eu não achei elas
tão diferentes a ponto de “
cada uma ser um jogo diferente” como é o
Root, ou como o
Dune roda. Mas eu fiquei sim com a impressão de que o jogo
faz o que se propõe nesse sentido. As facções são
diferentes o suficiente pra afirmar que “
elas jogam e pontuam de forma diferente” –
isso não é um caozinho não.
As cartas do baralho dos Trabalhadores e das outras facções vão sempre de encontro com o que é melhor pra eles. Cabe a você definir qual jogar primeiro.
Elas tem “coisas diferentes” o
suficiente pra gente afirmar inclusive que elas
querem coisas diferentes – seus
baralhos de cartas condizem com as suas necessidades de
verdade. E as ações que cada uma possuem também ajudam a fazer com que eles estejam indo
rumo a assimetria desenfreada.
Há uma
queda de braço o tempo inteiro enquanto o
jogo flui e tanto as pessoas que
estão na mesa jogando podem abusar de sua influência nos jogadores pra tentar botar algumas leis pra frente, como você pode usar
argumentos mecânicos de dentro do jogo para tal.
Grande parte do jogo roda aqui, as políticas que podem ser propostas pra votação e que impactam bastante no andamento do jogo.
A queda de braço é basicamente porque as
políticas do país vivem mudando, seja as
econômicas, sociais, saúde, educação, aceite de imigrantes e comércio exterior. E o jogo usa um esquema de votação onde é praticamente um
Clank!: Uma Aventura de Construção de Baralho inverso, visto que quando rolam as votações você quer que
saia o cubo da sua cor, porque é assim que você sabe que você foi “
ouvido”. E grande parte desse jogo é essa
influência na votação, representando a
câmara.
E é assim que são utilizados os seus
cubos de influência, que é basicamente o jeito que o jogo tem de
aumentar a votação de um jogador ou de colocar a presença dele na pauta (porque o cara pode votar e não sair nenhum cubo da cor dele).
Local de trabalho roxo, geram os cubos roxos, que é a famigerada influência.
Agora vamos falar do
elefante na sala; eu não vejo dentro do jogo aquela
propaganda esquerdista, e também não vejo a
neoliberal, 100% libertária ou qualquer outro híbrido maluco por aí. O que eu vejo é que os designers lidaram com esse tema que tá
recorrente na nossa sociedade de uma forma muito inteligente – e com muita classe.
Pois aqui você consegue ver com
seus próprios olhos o que as suas decisões fariam com um país –
abrir estatais demais sem planejamento e com vários servidores algum pode arrebentar um país (
como estamos vendo no nosso país vizinho), assim como você consegue ver claramente o
Capitalista torar uma grana se tiver tudo com imposto 0.
O acúmulo de capital é o critério de pontuação do Capitalista.
Você consegue ver que as ações e consequências de uma
paralização dos trabalhadores, e de como
uma passeata realmente atrapalha os Capitalistas e a Classe média, assim como você consegue ver o
Estado saudável se suas contas estiverem em dia e ele não ficar dando pedalada fiscal (
é, no jogo não tem isso).
Tudo que ele
tenta fazer – e na minha opinião
consegue, é mostrar o que
cada classe PODE fazer, e quais são as
CONSEQUÊNCIAS daqueles atos. Na primeira partida que joguei, o
estado quebrou rapidamente porque foram abertas diversas estatais e o estado não aguentou; assim como teve
momentos que a saúde estava taxa 0 e isso fez com que a classe trabalhadora pegasse muito desses recursos gratuitos, e o que sobrou foi pra classe média.
Tabuleiro dos trabalhadores, com a criação de seus sindicatos e cooperativas de fazendinha.
E sinceramente, eu
não acho essa leitura errada. Eu acredito que
na vida real, o grosso seria
isso aí mesmo. Eu acredito que eles
realmente fizeram um bom trabalho em pegar a essência dessa disputa de poderes e botar no tabuleiro.
Eu não vou dar uma de
maluco que nem tem uns cara aí falando e
chamar o cara de gênio (principalmente o
Varnavas, por ser o primeiro jogo dele e indiscutivelmente estar tocando esse projeto) – porque eu preciso
jogar mais esse jogo pra ter certeza do que estou falando, mas à princípio eu
achei ele muito bom no que se propõe.
Ainda falando sobre a mecânica, e afirmando,
EU NÃO SEI SE ISSO TEM EM ALGUMA EXPANSÃO, mas eu senti falta de ter a representação da
corrupção nesse jogo. Eu sei que ele ficaria
mais pesado do que ele já é, mas já que se propuseram em fazer esse “
simulador de país”, nada mais justo do que botar um dos
maiores problemas que nossa sociedade enfrenta.
A votação rolando, e os Capitalistas + Classe média levando uma, a não ser que os Trabalhadores gastem uma influênciazinha...
Sobre o jogo visualmente, eu achei ele
OK. Não achei os componentes
lindos, porém, achei suas cartas
bem bonitas, e acredito também que sua arte
não compromete. Ela funciona.
O que eu fiquei sem entender foi que todos os meeples “especializados” tem suas
cores batendo. Se ele é especializado em
comida – ele é da cor
verde, assim como sua
construção. O único que não segue esse padrão é o da
saúde, que os prédios são
vermelhos, porém, o meeple é
branco.
E um dos amigos do meu grupo @
fugasx conseguiu uma
resposta do designer, que está na imagem abaixo:
O que pessoalmente fez eles ganharem mais pontos positivos com quem vos fala.
Sobre a maleabilidade de se jogar o jogo; sinceramente, eu fiquei com a
impressão de que o jogo FOI FEITO pra ser jogado pra 4.
Se você tem 3, você tem
uma opção; remover a facção
ESTADO e quando (e se acontecer) do
ESTADO quebrar,
você segue os passos que tem no manual. E foi isso que fizemos na primeira partida.
Afirmo pra vocês que o jogo flui bem desse jeito, e
não me incomodou. Mas eu ainda assim
senti falta do jogador jogando de Estado – assim como eu sentiria falta de alguém jogando de
Bene Geserett com Dune pra 5.
Funciona, mas a graça do jogo é você ver
todas as interações possíveis de todas as classes que ali existem.
Meeples brancos nas construções vermelhas.
Pra dois, vocês tem a opção de controlar os
automas pra rodar o jogo (Estado e Classe média) assim como pra um e eu sinceramente
não recomendo pra nenhum jogador fazer isso. O jogo já é denso,
você tendo que controlar – fazer mecânicas de
2 automas ou mais eu acho uma loucura completa.
Principalmente sendo a sua primeira partida e você não sabendo o que cada um faz.
Então fica aí o aviso se tu quiser
fazer essa doideira. E fica também o aviso que teu
cérebro vai dar uma fritada boa.
Outra coisa que muita gente estava falando antes de eu jogar a minha primeira partida era que o jogo parecia que tinha
receita de bolo. E essa eu vou dar um grande não pra quem disse isso.
Uma coisa é:
- Facções terem “
finishers”.
Outra coisa é:
- Facções jogarem
exatamente igual do início ao fim.
O herói do Winnu (TI4) é esse. Sabemos que ele vai usar o seu herói durante a partida. Isso quer dizer que eu sei tudo que ele vai fazer no jogo?
Da mesma forma que eu jogo TI4 com expansão e eu sei que em algum momento o
Hacan vai meter 5 Dread, 2 Sol bélico na mesa de graça; eu sei que o Capitalista vai usar a
carta que faz com que ele pegue metade do dinheiro dele e transfira pro capital dele. Fazendo assim
mais pontos em algum momento do jogo (preferencialmente perto do fim, onde ele já acumulou bastante grana).
Repita comigo:
Ter finisher não é receita de bolo.
É a
cereja do bolo. Pode ser uma jogada cantada?
Sim. E as pessoas vão começar a
planejar seu jogo em tentar prevenir que isso aconteça. Porque é isso que acontece quando elas
ganham experiência e melhoram no jogo.
Então não,
não achei que o jogo tem receita, e inclusive, acho que a versão que veio pra Brasil tem variáveis demais.
Essa aí de cima veio dentro da caixona.
Jogadas de abertura que você tem com cada facção são mais de 10 pra cada facção, somando as cartas na mão + as ações que cada facção possui, chega a dar
AP na sua primeira partida pra saber o que tu vai fazer. Mas como eu tava em
mesa amigável, eu só fui conversando com os amiguinho e
tomei minha decisão.
Se vocês derem uma olhada em todo o
conteúdo extra que veio pro Brasil, me pareceu uma versão bem
completa e com bastante possibilidades para o consumidor. Quem comprar vai ter
muito conteúdo pra digerir. A questão é saber se você é o
público alvo ou não.
E saiba que você
vai fazer merd4 na sua primeira partida. Eu mesmo deixei a
vitória da minha classe média escapar no finzinho por bobeira, mas assim como
Twilight Imperium (4ª Edição) é aquele tipo de jogo que você fica
pensando na partida depois e tentando ver o que você faria diferente.
Me arruma um emprego aí, tio.
E esse tipo de jogo, tem um espaço muito querido no meu coração.
Salve pro @fugasx por ter concedido seu tempo me explicando o jogo, e ao Putsss pela participação.
EDIT: Correção sobre a informação dos automas.
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Errei algum fato? Manda PM.
Quer mandar elogio ou crítica sincera? Tmj.
Quer me dar um tema pro próximo? Manda PM.
Considere seguir o #canalversus!
Tudo nessa vida é equilíbrio, meus amigos.