Jogadora do mês: Ana Paula Santiago Ana_X
Depois da entrevista com o Rui, ele indicou a Ana para continuar a série de Jogador do Mês. Essa série foca nos aspectos pessoais de um jogador, e depois conversamos sobre os seus jogos favoritos e experiências no mundo dos tabuleiros, agora conhecendo melhor a pessoa que há detrás das opiniões e experiências.
Se você gostaria de ser entrevistado ou tiver alguma sugestão de alguém, basta comentar. Obrigado!
LISTA COM TODOS OS JOGADORES DO MÊS:
https://ludopedia.com.br/lista/21815/jogador-do-mes-serie-falando-sobre-os-jogadores-como-pessoas-e-seus-jogos

Pessoal
Dentre as coisas mais significativas da sua vida, qual você sente que foi a mais transformadora ou importante, que mais construiu você, etc?
Sem a menor sombra de dúvidas: ser mãe. É impossível descrever o quanto a maternidade me modificou, mas eu sinto que evoluí em muitos aspectos, principalmente, em maturidade e espiritualidade. Por três vezes recebi a bênção da maternidade, dois filhos estão comigo, um mora no céu, o perdi ainda no ventre.
Dentre as suas experiências/vivências, conte algumas das mais diferente de todas - algo que você sente que nenhum outro leitor tenha passado na vida.
De novo são experiências com meus filhos.A maternidade por si só já é uma viagem extraordinária, mas quando os filhos vêm com condições difíceis de saúde, ela se torna mais desafiadora ainda. Eu posso dizer que quase perder meus filhos por diversas vezes foi algo muito impactante. Já vi meu filho em UTI neonatal, já superamos várias reações alérgicas gravíssimas, e meu primogênito sobreviveu sem sequelas a um acidente grave quando tinha apenas seis meses.
Passar por tantas adversidades deixa em nós cicatrizes, mas também nos conecta à nossa fé de uma forma poderosa e nos dá muito a dimensão da nossa fragilidade e impotência nos transformando em pessoas mais gratas por tudo, desde as coisas mais simples da vida, até as grandes conquistas.
Quais são suas outras atividades? Por exemplo: tem algum esporte que praticou com mais afinco, algum recorde pessoal que possa compartilhar? Você é escritor, artista, etc?
Eu sou uma pessoa bem desinteressante, até me questionei se deveria realmente dar esta entrevista. Não há nada realmente curioso sobre mim. Já pratiquei natação e capoeira, mas não de modo competitivo. Mas há algo que me move o coração: eu sempre estive envolvida em algum tipo de atividade que ajude as pessoas, desde criança. Eu gosto de sentir que fiz algo nos lugares por onde passei.
Como você enxerga a sua própria espiritualidade e o mundo?
Eu cada vez mais me aproximo da fé, sou cristã, e me afasto da religião. Deixei de congregar em igreja em 2020. Prefiro uma fé que me aproxima de Deus do que uma religião excludente. É o caminho que escolhi para mim e tem me feito muito bem.
Conte algo sobre o seu nome (ou qualquer outra coisa sua)
Nasci em São Paulo, no hospital São Paulo, e me deram o nome de Ana Paula, contrariando as expectativas do meu pai que esperava um menino que torceria pelo Corinthians. Para tristeza dele, virei são paulina. Não consegui escapar de tantos radicais “paul”, rsrsrs…
Que livro, viagem, esporte, ou qualquer outra coisa você recomendaria hoje aos leitores?
A viagem que você sonha. O filme e o livro que te emocionem e te marquem a alma.
Cada pessoa tem o grandioso poder de ir fazendo seu set collection de experiências e emoções e isso é muito único e peculiar. Mas, para não parecer tão invasiva:
Viagem: ainda farei as viagens dos meus sonhos, visitando países da Europa e da América Latina.
Filme: O Óleo de Lorenzo. Um filme sobre o poder da esperança e do amor pelos filhos.
Livro: Paula, de Isabel Allende.
Tem algo que você gostaria de contar sobre você que não está nas perguntas?
Há um ano, aos meus quarenta e dois de idade, veio meu diagnóstico formal como autista. Essa foi uma das experiência mais impactantes da minha vida.
Impactante porque autoconhecimento é libertador. Quando eu soube do meu diagnóstico, chorei por três dias, não por luto ou tristeza, mas por ter compaixão da menininha, adolescente e jovem que fui. Tive que enfrentar sozinha obstáculos muito difíceis, e alguns eu não consegui. E eu me culpava muito por não ser igual às outras pessoas, “por que para mim as coisas sempre eram mais difíceis?”.
O diagnóstico me deu a oportunidade de revisitar a Ana menina, adolescente e mulher e abraçá-las e dizer que sim, vocês fizeram um bom trabalho, vocês foram incríveis. Isso foi muito importante para o meu processo de cura interior.
Já notaram como temos mais complacência pelo outro e temos dificuldade em sermos gentis conosco? Autoperdão é parte do autocuidado.
Você tem algum blog/etc pessoal/profissional seu que gostaria de compartilhar
Mantenho um perfil no Instagram desde 2019, o @jogarfazbem, onde compartilho minha experiência com jogos de tabuleiro, sempre mostrando os benefícios que os jogos podem nos proporcionar.
Quais pessoas do passado ou do presente você mais admira?
Admiro qualquer pessoa, por mais simples que seja, que faça atos de serviço, espontâneos e sem desejar qualquer retorno. Ajudar ao próximo é uma das maiores expressões do amor.
Compartilhe um texto, poema, ou frase.
“Sou diferente, não menor.”
Temple Grandin, mulher, autista, psicóloga e zootecnista que revolucionou o manejo de animais na pecuária.
Jogos de tabuleiro
Quais são os seus estilos/jogos de tabuleiro prediletos e o porquê
Eu amo jogos familiares e euros leves a médios. Se tiverem um tema relacionado a algo histórico ou a artes, então…
Sabia que uma das dificuldades de autistas é escolher opções? Eu tenho uma dificuldade absurda em escolher preferidos de qualquer coisa. Não consigo fazer ranking, por exemplo.
No momento tenho amado jogar Verdant e World Wonders. Entre os meus jogos mais jogados estão: The Castles of Burgundy, Azul, Ticket to Ride e Kingdom Builder.
Qual foi a partida mais memorável (do ponto de vista do jogo em si) que já jogou?
Meeple Circus, um jogo em que você cria seu número circense e todos os jogadores se apresentam na última rodada. Foi uma experiência muito divertida e inusitada.
Qual foi o momento mais feliz que você teve com jogos de tabuleiro?
Um dos meus filhos tinha tanta dificuldade de interação social que chegou a ser diagnosticado com fobia social e mutismo seletivo. Como parte das intervenções, comecei a usar jogos de tabuleiro para treinar habilidades sociais, mas até 2018, usávamos os jogos só em família e com amigos. Decidi que queria aumentar o desafio e busquei um evento aberto, que acontecia semanalmente, para que frequentássemos em família, mas com o propósito de eles jogarem com outras pessoas, as mais variadas possíveis.
Um dia, algumas pessoas queriam jogar Carcassonne e não sabiam as regras. Ele prontamente se ofereceu para explicar e jogar junto. Foi um momento de muita alegria para nós.
Quais foram as suas experiências mais diferentes jogando ou relacionada com os jogos? Existe alguma que transcendeu o momento e mudou sua vida?
Jogar Faz Bem não é o nome do meu perfil no Instagram por acaso. Eu realmente tenho provado isso na vida dos meus filhos, com as evoluções que eles tiveram, no nosso núcleo familiar com fortalecimento de vínculos e criando momentos divertidos que ficarão pra sempre na nossa memória, mas também em minha jornada pessoal. Jogar me faz bem, muito bem. Eu tenho muita dificuldade em me concentrar, tenho muitos pensamentos que se sobrepõem e me causam ansiedade. Jogar é uma das poucas atividades em que consigo domar esse emaranhado de pensamentos. E eu relaxo, consigo esvaziar uma carga de estresse. Eu amo jogar, ainda mais com os amigos que fiz através dos jogos, outro maravilhoso benefício dos board games. Jogar também virou programinha de casal, e tenho que admitir que perco muito para meu parceiro.
Conte alguma dica ou insight pessoal sobre os jogos de tabuleiro
Jogar ajuda a preservar memória e protege contra déficits cognitivos advindos da idade. Então, jogar é uma atividade que pode trazer benefícios pensando em longevidade.
Conte mais algo sobre os jogos que não foi perguntado aqui
Entrar nesse hobby pode ser perigoso do ponto de vista do consumismo. Então, é prudente estar atento a isso.