Guy de Lombard ::Com a devida vênia, discordo dos comentaristas e concordo com o autor do post. O youtuber citado navega em águas bastante turvas eticamente falando. O próprio YouTube faz uma distinção clara entre conteúdo e propaganda. A lógica indutiva desse contexto guia o expectador a entender o conteúdo como sendo factual, não propagandístico. Jornais agem de maneira semelhante ao separar as colunas (opinioes) das reportagens, levando a crer que estas últimas são separadas daquelas e, portanto, objetivas, o que está longe de ser verdade.
sergiocs78:: Acredito que um Review de jogo se aproxima muito mais de opinião do que de fato.
Logo, o YouTuber em questão (que eu nem sei quem é) tem o direito de ter e expressar a opinião dele, seja ela uma opinião boa ou bosta.
frevolta:: Com todo o respeito. Se uma pessoa ouve um cara com uma câmera no rosto na internet e considera 100% factual, saca o dinheiro no banco e corre para fazer o que o “criador de conteudo” mandou…
Essa pessoa tem algo muito errado na mente.
As pessoas tem que ter senso crítico e saber ler manual, ver fotos e videos do jogo e julgar por si. Não se prender ao julgamento dos outros sem estudar.
piogovieira:: Como que o cara vai falar mal de um jogo que ele foi pago pra divulgar? Acho que pode até gerar processo por parte do pagante kkkkkkkkkkkkkk.
Caros
Guy de Lombard,
sergiocs78,
frevolta e
piogovieira
Eu acho que essa questão da credibilidade dos canais de board games, ou como eu gosto de chamá-los, "nossa mídia especializada', é bastante controversa, e demanda muito cuidado ao ser analisada.
Quando uma pessoa qualquer lança um vídeo, ou cria um canal no Youtube, a princípio ela é livre para dizer e mostrar o que quiser, desde que não viole as regras do site. Mas isso muda de figura, quando o youtuber pede apoio, seja através do apadrinhamento direto, ou através dos "likes", que influenciam na monetização daquele vídeo. É aquela famosa "ajudinha para que o canal continue produzindo material de qualidade". Claro que a produção de conteúdo, seja de board games ou do que quer que seja, é muito cara, principalmente quando os vídeos utilizam diversos recursos, como iluminação e câmeras diversas, além de vários efeitos especiais, e uma edição profissional. Evidentemente nem todos os canais de board games funcionam dessa forma, bastando citar como exemplo o extinto canal do Alan Farias "Direto ao Ponto", em que os vídeos eram filmados no quarto da casa dele, com apenas uma câmera de celular, e que não era editado nem para retirar o movimento dele desligando a câmera. Mas esses canais com menos produção são exceções, e a regra é o uso de uma produção mais caprichada. Assim sendo, o uso dessa produção melhor torna necessário o financiamento do canal de alguma forma, mas, sem dúvida, limita a liberdade do youtuber de dizer o que quiser, como se não houvesse compromisso algum.
Outra coisa que torna muito questionável a credibilidade desses canais, é o fato deles receberem gratuitamente os jogos das editoras para produzirem o conteúdo. E aí entra aquela questão que foi levantada acima: como o canal vai falar mal de um jogo, se ele recebeu o jogo de graça, justamente para divulgá-lo de forma positiva? Do mesmo modo, como eu vou acreditar na opinião daquele canal sobre um jogo, se essa opinião não é totalmente isenta? Ninguém aqui é criança e todo mundo sabe que, se o canal apontar no vídeo as falhas do jogo, evidentemente a fonte seca, e a editora não mandará mais jogos, para o canal. Isso tornará ainda mais cara a produção de conteúdo. Alguns "gametubers" até gostam de dizer que não recebem tantos jogos assim das editoras, mas alguns episódios desmentem completamente essa afirmação. No caso específico do Splendor Marvel, uma semana antes do lançamento oficial do jogos já haviam diversos vídeos de resenha e jogatina. Isso só seria possível, evidentemente, se os canais tivessem recebido cópias nacionais do jogo antes do lançamento, porque se não fosse assim, eles simplesmente não teriam onde comprar o jogo, para produzir o material do vídeo.
Além disso, outros episódios também aumentam bastante a desconfiança em relação a esse nossa mídia especializada. Eu assisti um vídeo falando do Corrida Maluca, com a cópia deluxe do jogo, trazendo as miniaturas pintadas. Na minha inocência, perguntei quanto o youtuber havia pago por aquela versão, só para comparar com o preço da versão standard que eu havia comprado. O youtuber obviamente não me respondeu, e logo em seguida eu fui informado que todos os canais de boardgames que participaram do Spoiler Fest receberam essa versão deluxe, de brinde da editora. Diante de uma informação dessas, não há como acreditar em uma única palavra do que o youtuber disse a respeito do jogo.
Outra "paulada na mulêra" na credibilidade dos canal de board games, foi nos vídeos de unboxing da expansão Profecia dos Reis do Twilight Imperium, em que os youtubers faziam uma verdadeira ginástica para não mostrar o "ENPANSÂO", estampado em letras garrafais, em uma das laterais da caixa da expansão. E esse erro grotesco não foi citado nesses vídeos nem sob aquela velha justificativa de "não atrapalha a jogabilidade". Do mesmo modo, assisti a um vídeo de gameplay do Western Legends, mas que o canal fez questão de usar a versão importada, porque na versão nacional, não ia ter como esconder o fato do tabuleiro ter sido impresso com ícones errados. Nesses exemplos fica clara a intenção de esconder propositadamente os erros do jogos, para não atrapalhar as vendas, e garantir a continuidade do apoio das editoras.
Há outro ponto que eu acho que também afeta a credibilidade dos canais de board games, e que serve como justificativa para todas as resenhas serem exclusivamente positivas. Os youtubers argumentam que fazer um vídeo de resenha de um board game dá muito trabalho, por isso não faria sentido fazer vídeos de jogos dos quais o youtuber não gostou. Esse argumento até tem alguma validade, mas ele inviabiliza que se leve à sério a opinião expressa na resenha, porque já se sabe de antemão que o youtuber gostou daquele jogo e indica a compra. Isso porque se ele não tivesse gostado do jogo, nem teria sido feito vídeo algum.
E aí entra a questão da distinção entre propaganda e crítica. Um garoto-propaganda tem bem menos credibilidade, porque todo mundo sabe que ele está ali apenas para falar bem do produto anunciado. Ninguém acredita seriamente que a Xuxa servia refresco em pó Arisco para a Sacha, quando era criança, e nem que o Cristiano Ronaldo, vaidoso do jeito que é, usa shampoo Clear. Por outro lado, um crítico de cinema, por exemplo, analisa tanto os filmes dos quais gosta, quanto aqueles dos quais não gosta, apontando tanto os méritos, quanto as falhas de cada um. É por isso que os críticos especializados têm muito mais credibilidade que os garotos-propaganda. Só que no caso dos board games essa distinção entre crítica e propaganda não é tão clara.
Mas antes de demonizar os canais de board games, existe um outro lado da moeda que deve necessariamente ser considerado. Os canais de board games são a principal fonte de divulgação do hobby. Mesmo que a credibilidade desses canais seja questionável, pelos motivos expostos acima, não há dúvida de a comunidade boardgamer está muito melhor com eles, do que estaria sem eles. Que atire a primeira pedra, aquele que nunca ficou conhecendo melhor um jogo, ou assistiu a um vídeo de jogatina, antes de escolher se comprava um determinado jogo ou não. Por isso, da mesma forma que se pode por em xeque a credibilidade dos canais de board games, também é forçoso reconhecer que eles desempenham um papel importante e muito relevante dentro do hobby.
Basta se por na pele de uma pessoa que descobriu os board games, ontem e que não sabe quase nada, sobre jogos de tabuleiro modernos. Com certeza ela vai procurar aprender mais através da experiência de pessoas que já tem anos de hobby. Obviamente a pessoa não vai acreditar 100% naquilo que ela ouve na Internet, muito embora em alguns casos é exatamente isso que as pessoas fazem. Mas também é muita ingenuidade achar que a opinião de um youtuber que faz parte do hobby desde sempre, não vai influenciar fortemente, aos recém chegados que assistem os vídeos em busca de informação. É por isso que eu normalmente dou muito mais valor aos vídeos de jogatina (ou "gameplay" para quem quiser), do que aos vídeos de resenha ou unboxing. Nos vídeos de jogatina, não tem como dourar a pílula, embora alguns canais até tentem isso, como foi o caso do vídeo de gameplay do Western Legends. Isso porque no vídeo de jogatina você vê de verdade como o jogo é, e se ele te atende ou não.
Finalizando, eu acho que os canais de board games tem a sua relevância e utilidade, mas é preciso analisar com muita cautela o que é dito através dessas ferramentas, porque elas são muito mais instrumentos de propaganda dos jogos, do que fontes de uma crítica isenta. Essa é a mensagem que deve ser passada principalmente para os recém chegados ao hobby.
Um forte abraço e boas jogatinas!
Iuri Buscácio