(Análise) Os Desejos do Sultão

Título: Os Desejos do Sultão (2021)
Designer: Fábio Arraes, Bruno Viana
Arte: Fábio Arraes
Editora nacional: Gamehives
Nº de jogadores: 1 a 4

Os Desejos de Sultão é um jogo nacional muito temático, que entrega uma boa dose de estratégia e carisma para um público bem variado.

 

Ao longo de um número não fixo de rodadas, jogadores irão alternar turnos fazendo uma das quatro ações possíveis: contribuir para um desejo (descendo uma carta); jogar uma carta para realizar sua ação especial; colocar uma carta em uma área de aposta; apostar qual tipo de carta possui mais corações, dentre as colocadas na área de aposta. Adicionalmente, o jogador pode adquirir cartas de mercadorias como ação livre em seu turno. A pontuação ocorre em dois momentos, um no final da rodada, quando são reveladas as cartas na área de apostas e toda vez que algum desejo é cumprido na íntegra. Após uma quantidade pré-determinada de desejos completos a partida se encerra, jogadores somam pontos concedidos por cartas de mercadorias adquiridas e vence o jogador com a maior pontuação.

Mecânicas Principais: Controle de área, Gestão de mão, Aposta.

PRÓS: Os componentes são simplesmente incríveis! As cartas tem excelente gramatura; os marcadores são de ótima qualidade; o manual é bem escrito e cheio de ilustrações, feito com um papel de alta gramatura (achei até um certo exagero, para ser sincero); a caixa possui uma gramatura boa, acabamento com verniz localizado, um organizador interno simples, mas extremamente eficiente e que se nota o cuidado no planejamento e produção (o cuidado foi tanto que o fundo da parte interna da caixa é um tabuleiro para jogar um jogo extra – Corrida no Palácio, usando os componentes do jogo)..

CONTRAS: Só consigo apontar uma coisa como negativa: as cartas de sultão são de um tamanho grandão até bacana, só que não existem sleeves (os plastiquinhos que protegem as cartas). Eu entendo o motivo estético, pois ficam lindonas no centro do tabuleiro, mas (eu com minha mania de querer colocar plástico em tudo) preferiria uma carta de tamanho convencional (seja um quadrado 80x80, gold (as do Dixit), tarot... sei lá). Fora isso, que para muitos será só chatice minha e até concordo com isso, o jogo não tem nada a se reclamar em relação aos componentes. Até mesmo os marcadores pequenos dos jogadores, que são realmente pequeninos, possuem um tamanho que fica bem funcional durante a partida. É tudo tão bom que a única coisa que eu vejo alguém querer que fosse diferente era dar uma ‘pimpada’ no jogo, trocando os marcadores mencionados (e o maior, usado na região de aposta e pontuação) por coisa customizada em 3D, tal o nível de qualidade do jogo.

Baixa. É tudo muito simples e direto na partida, logo a preparação não seria diferente. Basta colocar os marcadores nos locais de pontuação, embaralhar os baralhos (um central, três de mercadorias, um de pontuação secreta individual e dois de objetivos/desejos), colocar as coisas no lugar e entregar os marcadores e 3 cartas para cada jogador. Rapidão.

PRÓS: A Iconografia é relativamente fácil de entender. até por ser pouca, além do fato de sempre acompanhar a arte das cartas (exemplo: Se o ícone é a silhueta de uma espada, no centro da carta existem espadas ilustrando a imagem); Todos os elementos e símbolos existentes conseguem ser fofos, sem serem necessariamente infantilizados; Tabuleiros e cartas são ricos em detalhes e texturas que ajudam a entregar o tema e enchem os olhos; A paleta de cores faz o jogo ficar vivo e alegre.

CONTRAS: A arte é linda e Fábio fez um excelente trabalho, porém achei que três coisas poderiam ter sido um pouquinho diferentes: 1. As cartas de mercadoria formam três baralhos de compra, cada uma com uma cor, sendo verde, vermelho/quase-rosa e roxo/quase-vermelho e apesar das cores não impactarem tanto na prática, pois a ilustração que difere cada tipo é bem fácil de diferenciar (uma é um velhinho, outra um homem gordinho e a terceira é uma mulher), poderiam ter feito com que as cores ficassem mais discrepantes entre si, por exemplo utilizando um tom de azul no lugar do vermelho ou do roxo; 2. Uma coisa que o jogo precisa é espaço na mesa, não cabendo em qualquer cantinho para ser jogado devidamente como o manual orienta, devido as cartas de desejo que são colocadas ao redor do tabuleiro e requerem que outras cartas sejam anexadas a elas conforme jogadores vão realizando suas ações ao longo da partida. O que acaba acontecendo, devido a essa escolha de organização do tabuleiro central, é que jogadores acabam precisando mover cartas de lugar para que caibam no espaço da mesa disponível, caso ela não seja muito espaçosa. Eu entendo a ideia de não dar uma orientação única para a leitura do tabuleiro, mas isso já acontece de qualquer forma devido às cartas de Sultão e da área de apostas, logo, as cartas de desejo poderiam ter sido concentradas em apenas uma lateral do tabuleiro (deixando o espaço ocupado mais ‘comprido’ do que ‘quadradão’); 3. A ilustração central das cartas, que simboliza o desejo em si, é muito bem feita, porém todas tem o fundo com um tom claro e liso, o que pode causar pequenas confusões sobre qual é a carta para quem está mais afastado, de tal forma que poderia existir um padrão de textura e cor específica no fundo de cada imagem diferente ou mesmo um contraste maior entre a ilustração (que são punhos e mãos segurando um objeto) e o fundo.

Baixa. As regras são bem fáceis e diretas. São basicamente quatro ações centrais, duas ações livres e outras cinco possibilidades geradas pelas cartas. É um jogo que acredito se enquadrar facilmente como familiar (uma pena não caberem 5 jogadores) e que vai cativar qualquer um devido ao tema, arte e até profundidade, que apesar da simplicidade não é raso ou bobo, exigindo dos jogadores atenção e boas decisões.

Altão. Sultão, é o cão (precisei escrever isso, me desculpa). Sultão é o cachorrinho que aparece na caixa e toda trama gira em seu entorno. O mais fofo disso tudo é que ele existiu de verdade, tendo sido o cãozinho do designer Fábio Arraes (que infelizmente já faleceu) e, obviamente, tem foto dele no manual do jogo. Apesar do uso da imagem do doguinho, o tema do jogo vai para fantasia, colocando o Sultão como um líder de uma terra fantástica, remetendo ao Egito e afins, mas isso não diminui a presença de tema, ao contrário, fica evidente a analogia de como os pets se sentem com seus donos-de-pets (tutores para ser mais politicamente atualizado), onde os bichinhos mandam e a galera, prontamente e com muito carinho, obedece. Mecanicamente o jogo também faz sentido, pois o jogador ganha pontos de vitória conforme vai realizando os mimos ...digo, desejos do Sultão. Além disso, a cada turno o jogador tem que lidar com um humor diferente do Sultão (amoroso, faminto, enjoado, exigente, entre outros) que irá alterar de alguma forma regras ou ações possíveis pelo turno. A única coisa que acho que ficou meio fora tematicamente foram as cartas de mercadores, apesar de no ponto de vista mecânico elas funcionarem muito bem e serem um elemento estratégico muito importante para a partida (você não vai sair vitoriosos se não focar em compra-las com inteligência), estas cartas fornecem coisas não-caninas, como ‘espada’, ‘especiarias’ e coisas assim, de tal forma que poderiam, ao invés disso, serem coisas mais relacionadas aos pets, como petiscos, brinquedos e etc.

Espera! Ainda existe aquele jogo ‘extra’ usando os componentes e o fundo interno da caixa, lembram? Então, ele é um jogo abstrato, pense em um gamão ou coisa assim. Isso não entrega tema nenhum, mas esse jogo é simplesmente, segundo o manual, o jogo preferido do Sultão, logo o ato de existir já ficou temático e fez sentido! 

 

 

Alta. Durante a partida o jogador tem diversas formas de pontuar (cartas de desejo, cartas de mercadorias ou a aposta – chamada de Tarefa Extra) e para conseguir fazer isso, ele irá precisar lidar com diferentes humores do Sultão (que são um total de 10, mas apenas 5 aleatórios são usados em cada rodada). Essa aleatoriedade dos humores por partida, juntamente das diferentes possibilidades de uso para cartas (descer como desejo realizado, usar o efeito especial ou colocar na área de Tarefa Extra/Aposta) fazem o jogador ter diferentes caminhos e se deparar com diferentes situações em relação aos adversários. Olhando do ponto de vista dos componentes, ainda temos diversas cartas de desejos (tanto do tipo comum como do tipo especial), cartas de pontuação secreta extra e as cartas de humores (como já havia dito) que ficam fora da partida, gerando uma aleatoriedade bacana do que é mais importante dentro ou fora da partida específica.

 

Alta. Não existem confrontos diretos ou muitos bloqueios que deixam os jogadores rosnando, porém a interação indireta é muito presente. O local de Tarefa Extra só pode ir um jogador por tipo/ilustração de carta, então tem que ir cedo, mas se for muito cedo e vai correr o risco de apostar em algo com muito baixa probabilidade de acertar, os desejos contêm espaços limitados e pontuam somente quando todas cartas necessárias forem colocadas, então existe também uma corrida pelos que irão pontuar mais ou menos (acontece de a partida acabar e alguns nem terem sido pontuados!) e, por fim, tem o mercado das cartas de mercadoria, onde tem aquela corrida convencional por quem compra qual primeiro. Os Desejos do Sultão é um jogo familiar e consegue entregar uma experiência muito boa em relação à interação, sem ser daqueles jogos que frustram quem não curte conflito, mas também não deixa tudo solto a ponto de a pessoa sentir que joga algo de forma solitária.

 

 

Relevância na partida: Baixa. Apesar de, em um primeiro momento, parecer que possuir apenas três cartas na mão tenha um impacto alto de sorte, o fato de existirem diversos usos para as cartas mitiga muito este impacto: uma carta pode ser usada pelo seu efeito, pela sua ilustração ou para fazer a aposta da Tarefa-Extra. Isso ajuda a demonstrar como o jogo é muito redondinho e versátil em relação à suas possibilidades, de tal forma que mesmo tendo apenas três cartas na mão, se elas forem diferentes entre si (o que é o mais provável) temos cerca de pelo menos sete possibilidades de ação diferentes. Um ponto que me incomodou um pouquinho (e voltarei nele novamente no próximo tópico) foi a frequência com que cartas de humor abrem (uma por turno), fazendo com que o jogador não consiga se planejar tão bem, principalmente em relação aos pontos de vitória extras concedidos por algumas delas e as cartas extras adicionadas em segredo na Tarefa-Extra.

Relevância na partida: Alta. A cada turno o jogador tem muitas escolhas e cada uma tem um desdobramento, mesmo que isoladamente nenhuma seja tão relevante a ponto de fazer com que o jogador sinta que ganhou ou perdeu a partida por causa de uma ou outra jogada ruim, o que é muito bom e se adequa à leveza do tema e proposta familiar do jogo. Não encare isso, porém, como diminuição do Fator Estratégia, pois se jogado contra jogadores experientes, vai ocorrer muita ação intencional que vise acelerar a conclusão de desejos, além de as cartas de mercadoria fazerem muita diferença no placar final. Falando das mercadorias, inclusive, elas têm se mostrado determinantes nas partidas, uma vez que concedem muitos pontos, porém são reveladas apenas no final, então tenham em mente que conseguir pedras preciosas (o recurso do cristal laranja) para tentar comprar o máximo de cartas de mercadoria possível, mesmo que individualmente alguma te dê ponto negativo é crucial para um bom placar! Os Desejos do Sultão é um jogo bem inteligente, apesar de acessível, pois trabalha um controle de área de forma bem criativa que quase não faz parecer que seja um controle de área, e achei isso incrível. Resumidamente, os jogadores irão descer cartas com objetos iguais aos que objetivos (chamados de desejos) abertos na mesa pedem e quando o fazem recebem um cristal (usado para comprar cartas de mercadoria) e colocam um marcador seu nesta carta. O tchan da parada é que o jogador dono deste marcador pontua somente quando uma quantidade pré-determinada de cartas neste objetivo é baixada, o que faz com que todos jogadores na mesa distribuam suas cartas baixadas (logo, marcadores) de forma estratégica para pontuar mais. Eu sei que só explicando aqui por texto pode ficar difícil de entender, mas na prática é fácil e muito divertido. O jogo não apresenta muito A.P. (sigla de Analysis Paralysis, o tempo pensando o que vai fazer e a galera fica ociosa na mesa), apesar de ser possível fazer uma boa leitura de probabilidades algumas vezes, fazendo a partida fluir rápido, podendo dar uma ‘travada’ em algum jogador iniciante no jogo quando ele se deparar com as opções de efeitos de cartas e seus desdobramentos, mas nada que em meia dúzia de turnos não pegue o jeito.

 

 

Muito bom. Em tempos de jogos familiares de editoras grandes, com qualidade de componentes medianas, na casa dos seus R$350,00 (trezentos e cinquenta reais), ver um jogo com uma produção tão sensacional quanto a de Os Desejos do Sultão por uma média de R$250,00 (duzentos e cinquenta reais) é uma alegria, principalmente por ser um produto de designers nacionais. O jogo entrega uma experiência sólida, divertida, temática, não muito demorada e nem complexa e com mecânicas que interagem bem entre si, se demonstrando uma excelente opção em qualquer coleção. Em relação à produto entregue, qualidade de componentes, arte e produção, Os Desejos de Sultão deveria ser visto como referência para o mercado.

- Dá para jogar com crianças? Com as maiores, pré-adolescentes, acredito sim. Elas, à princípio, poderão se perder um pouco nas opções, principalmente nos efeitos das cartas, em saber quando é melhor usar cada um e coisa assim, mas passando essa barreira, acho que flui perfeitamente.

- Funciona bem em qualquer número de jogadores? Joguei em todas contagens e acho que sim. Devido à quantidade de cartas de desejo (Tarefa, segundo o manual) variar de acordo com o número de jogadores, senti apenas que quanto mais gente, os efeitos acabam sendo utilizados menos vezes, já que os jogadores conseguem contribuir mais com estes desejos abertos. Não que isso seja ruim, ao contrário, eu gostei bastante de jogar em dois, uma vez que senti que é preciso saber lidar melhor com os efeitos das cartas, se tornando um jogo ainda mais acirrado.

- O que pode falar sobre o modo solo? É o mesmo jogo, porém utilizando todas as cartas de humores do Sultão, ao longo de 3 rodadas. É um modo legal para pegar a dinâmica do jogo, mas por ser um Bata Seu Recorde, não apresenta um desafio mesmo, inclusive o manual contém algumas pontuações a serem batidas e em todas partidas que tive consegui sem dificuldade superar a mais alta (a média de pontos que fiz era de 100 pontos).

- ...E a expansão que foi prometida? Ela se chama “Viajantes”, o financiamento coletivo sai talvez ainda esse ano, mas até o momento não temos muitas informações sobre, mas o base em si deixa margem para novos efeitos de cartas e devido à complexidade geral do jogo não ser alta, colocar uma pitada a mais de informação não iria estragar a experiência para jogadores casuais e ainda melhoraria para experientes. Para mim, tem tudo para ser um sucesso! Em uma conversa com a editora do jogo, Gamehives, eu fiquei sabendo de coisas que me deixaram ansioso e muito interessado, sendo elas: 1. A caixa da expansão está sendo projetada para caber dentro da caixa base do jogo; 2. O foco da expansão será em um tabuleiro central extra com os viajantes, contudo junto do financiamento coletivo também serão comercializadas duas mini expansões (‘O Favorito’ e ‘Os Encantadores de Serpentes’) que foram originalmente lançadas exclusivamente como metas especiais para apoiadores do jogo base no lançamento  e agora voltarão para todos que quiserem (se você financiou o jogo quando saiu, relaxa que tu terá extra exclusivo); 3. A expansão vai trazer novas formas de pontuação final, algo bem vindo para desviar um pouco a atenção atual apenas nas cartas de mercadorias. Enfim, quero a expansão? Quero (inclusive esses extras aí que não vieram na minha cópia)! Se você quer também, já entra no site da pré-campanha e fica de olho (https://www.catarse.me/expansaoviajantes). Para não acharem que só faço elogios, achei uma pena não terem aproveitado essa nova campanha da expansão para lançar um modo de 5º jogador!

 

 

“Quem tem acompanhado o canal já sabe que meu primeiro contato com Os Desejos do Sultão foi no evento Diversão Offline deste ano. Joguei lá e me encantei tanto que na primeira oportunidade adquiri uma cópia. Para mim, até o momento, Os Desejos de Sultão está no meu TOP3 jogos nacionais (não pergunte exatamente a posição, pois nem eu sei)! É um jogo com arte linda e uma mecânica simples e muito fluída, rolando uma partida em não mais que uma hora, o que o faz ver muita mesa. Além disso, ele apresenta duas coisas que eu simplesmente AMO quando jogos conseguem fazer com maestria: placar apertado, onde cada ação deve ser milimetricamente calculada e cartas com múltiplas possibilidades de uso. Quando um jogo consegue juntar ambas características, para mim é sucesso garantido! Os Desejos do Sultão conseguiu." (Raphael Gurian, o selecionador de petiscos)

"Os Desejos do Sultão é um jogo nacional, encantador e divertido, no qual os jogadores terão que administrar seus recursos, encarregados e ajudantes para realizar o máximo de desejos do cachorrinho Sultão. A alteração de humor dele irá definir o grau dificuldade a cada rodada, fazendo com que os jogadores tenham penalidades ou até vantagens que irão ajudá-los a conseguir atingir uma maior pontuação. O fator sorte também está na reposição de cartas na mão e na tarefa extra, na qual os jogadores poderão apostar qual presente está sendo oferecido em maior quantidade em um baralho secreto. Quem conseguir ir mais longe na trilha de pontos após o final do jogo, será o vencedor e também o novo Grão-vizir do cãozinho Sultão, das Terras de Cockapoo. Sem dúvida é um jogo para se divertir com todos. O personagem Sultão é super cativante e se torna ainda mais especial ao sabermos em quem ele foi inspirado. Simplesmente apaixonante esta homenagem!"  (Heloisa Fernandes, a escovadora de pelos)