Carl de Visser, seguindo os passos de Andreas Seyfarth, é conhecido no meio como um cara “One Hit Wonder”.
Um cara ae que curte navegar.
Andreas fez toda a sua fama de designer de jogos
criando o maravilhoso Puerto Rico, e ele vive de
seus louros até hoje.
Carl, por outro lado, é conhecido pelo
Endeavor.
Eu sempre achei que há muita
similaridade entre os dois casos, seja pelo caso que eu
citei acima ou porque
os dois lidam com o mesmo tema. Porém, eles lidam de
formas diferentes. Claramente Carl foi
muito influenciado por Andreas e ele
não esconde isso. Endeavor é um jogo de
2009, e a
última edição do jogo é de 2018, jogo esse que
vamos falar hoje.
Endeavor: Age of Sail é mais um daqueles jogos que lida com a época da
colonização e o escravismo. A produção dele é simplesmente
magnífica, seus
componentes e
arte também.
Até o insert é pic4.
Importante frisar que o jogo
faz questão de deixar claro em seu manual que eles cogitaram remover a escravidão nessa nova edição, mas, citando os criadores: “
removê-lo seria como rasgar um capítulo de um livro de história porque nos sentíamos desconfortáveis em confrontá-lo”.
Citação da página 9 do manual.
O que pra mim é um put4 de um acerto.
E também diferente de todos os jogos nessa linha, há a possibilidade de
acabar com a mesma. Que foi feita de um jeito
simples e
interessante de se lidar com o
tema, que muitas vezes fica
perdido em vários jogos.
Mecanicamente, ele é bem, bem simples. No seu turno, o
primeiro passo que você dará é fazer uma nova construção no seu tabuleiro de jogador,
construção essa que vai te dar
novas habilidades ou
aumentar algum atributo seu.
A construção também conta como timer pro jogo terminar, pois será o último turno quando todos os jogadores tiverem construído em todos os seus
espaços de construção.
Seu tabuleiro, com foco nas construções.
Segundo passo, você receberá
população de acordo com sua trilha. Isso te dá mais trabalhadores pra fazer
ações durante seu turno.
Terceiro passo, você vai receber seu
salário. Todos os
trabalhadores que estão alocados em construções do seu tabuleiro serão retirados, o que te dá a possibilidade de usá-los mais uma vez e de
usar o espaço daquela ação no
próximo turno.
Depois que todos os jogadores
fizerem esses três passos, começa a
fase de ação, que é
onde o jogo rola.
Jogo esse que engole sua mesa.
E o jogo rola basicamente em torno de uma
iconografia bem simples:
Iconografia simples: Aumenta seu nível de influência, de renda/pagamento, de construção e de cultura. Embaixo, símbolo de navegação, compra (caixa), colonização (bandeira), renda (ação bônus) e ataque.
Navegar: Você pode ocupar com um trabalhador a
trilha de alguma região, ou um espaço de
navegante de uma região já liberada, desde que você tenha
presença dentro daquela região.
Colonizar: Você pode ocupar um
forte de alguma região que você possua presença. Se o fizer e ocupar
2 fortes, você pega todos os bônus que
estejam entre as regiões.
Exemplo, se eu tomar os dois fortes que aumentam minha renda, eu ganho o marcador bônus que me permite comprar ou colonizar.
Atacar: Você
descarta um disco seu de
população, destrói uma
unidade de algum oponente que esteja em uma região que você tenha presença e ocupa aquele espaço. (
Custa caro atacar ozotro)
Pagamento: Existem marcadores de bônus que permitem que você faça
pagamento na fase de ação (Como citei ali em cima), então você pode
liberar uma construção já utilizada e usa-la
mais uma vez.
Comprar: Você
compra a carta do topo da pilha de cartas daquela região e
coloca no seu tabuleiro individual, adicionando mais pontos no
atributo que aquela carta te dá. Lembrando que
você precisa ter presença naquela região pra comprar cartas nela, além disso, as
cartas possuem níveis. Então se estiver aparecendo a carta de
nível 3 e você só tem
2 de presença, você
não pode comprar aquela carta. Na
Europa, região natal de todos os jogadores ficam as cartas
Europeias, e as
cartas de escravidão; todas elas são mais
fortes que as cartas das outras regiões, porém,
se a escravidão for abolida, você toma uma
cacetada, pois vai tomar
vários pontos negativos e ainda por cima
todos os bônus de atributo que você
conseguiu por aquelas cartas não poderão ser contabilizados no fim do jogo.
Cartas de todas as regiões, do nível 0 ao 5. Note que a carta 5 da trilha Europa é a abolição da escravidão.
Endeavor é um jogo bom, rápido, interessante e ele traz essa discussão à tona que se torna muito importante nos dias de hoje. O preço dele é
salgado, mas se tu der a sorte de levar
barato em um leilão (
que nem eu)
tá top demais.
América do Norte, América do Sul, Caribe, África, Índia e Beleléu do Leste e Europa são as regiões a serem influenciadas e tomadas.
Não curto ele
muito pra 5 jogadores, acho que fica muito
zoneado, mas pra você que curte bastante interação, é o
caminho certo. Pra 4 já é bem
mais tranquilo. Recomendaria se
fosse ensinar o jogo. O Manual dá
possibilidades diferentes de setup (inclusive, manual esse muito bom), e a
edição que temos no Brasil também traz assimetria pro jogo, adicionando eventos históricos que
poderiam estar acontecendo nas diferentes regiões do mapa.
Cartões dos eventos que podem ser sorteados, tem vários desse na caixa.
Você pode sortear 2, e
colocar nas regiões, e a assimetria do jogo é feita
desse jeito. Adicionando
ações bônus referente a aqueles
eventos que batem também com a história daquelas diferentes regiões.
Recomendo Endeavor pra
qualquer jogador. Seja
novato ou mais experiente. Inclusive, é um bom jogo pra ser um dos primeiros a ser
introduzido pra um jogador. Seu
controle de área/influência é interessante, rápido e simples.
Maracaibo é mais um jogo do
Alexander Pfister.
Galã dos Boardgames Modernos.
Pfister é um cara com jogos
muito populares no Brasil e no mundo. As suas
misturas de mecânicas acabam criando jogos muito
agradáveis de se jogar e com isso o cara faz
relativo sucesso, inclusive entrando em
várias discussões de “
um dos melhores designers de todos os tempos” (
só deixando claro que eu não acho, mas tem gente que bota ele nesse balaio ae).
Porém, eu
acredito sim que ele tem seu
peso na
colonização de
BGs na terra Brasilis. Conheço
grupos e mais grupos que jogaram
Isle of Skye: De Líder a Rei como primeiro jogo de BG moderno, assim como
Oh My Goods!, e até
Great Western Trail. Sua habilidade de criar jogos sejam
pesados ou mais
leves é
invejável.
É fato que ele tem mais peso
entre os jogadores que começaram no hobby de
2015 pra frente do que nos
mais antigos, e
não é por acaso. Seus jogos tem uma
profundidade estratégica interessante, seja ele
leve como o
Broom Service, ou mais pesado como o próprio
Mombasa ou
Maracaibo.
Bora passear no Caribe?
Maracaibo é quase uma releitura do GWT: o jogo tem um
tabuleiro do jogador onde você libera novas habilidades e bônus, ele também é um
rondel (
AKA começa num ponto, termina a trilha e volta pro ponto inicial), ele também é muito
baseado em cartas, e também tem
trilha de exploração (
releitura da trilha do trenzinho no GWT). Mas aqui o jogo
não é deckbuilding, e sim
gestão de mão. Você tem que
trabalhar com o que você tem a possibilidade de comprar +
o que você já possui na mesa construído/o que você tem em mãos pra construir.
Tabuleiro do jogador e cartas.
Por mais que seja uma
releitura mecanicamente, eu acho que os dois
caibam na mesma coleção. Os dois são
diferentes o suficiente para isso.
Maracaibo se trata da colonização do Caribe. Como a
Espanha, França e Inglaterra eram
influentes na região e os
conflitos travados por este naquele período histórico.
E na moral?
Como o jogo é agradável.
Eu acho ele meio
cobertor curto, você
nunca consegue terminar tudo que você queria fazer, mas é um puta jogo. Também gosto do fato dele usar as
cartas pra fazer coisas diversas, como fazer entregas nas cidades grandes (é como você desbloqueia as habilidades do seu tabuleiro individual), ou construí-las para usos diversos.
A carta pode ser construída, ou com os símbolos laterais, ser entregue em uma missão, ou em uma cidade como um bem.
Tem construção que vai te dar
efeito passivo; tem construção que vai te dar um
trabalhador em um ponto do mapa, e quando você parar lá vai poder fazer a ação dele, e tem construções que interagem com os
marcadores de sinergia. Marcadores estes que te dão
muitos benefícios se tu conseguir combar legal.
Há também a interação com a
reputação que você, como
navegador itinerante, pode gerar com as mais
diversas bandeiras. O jogo dá muitos pontos
dependendo de como você ficou nas trilhas com os diversos países em conflito no território caribenho, e vale a pena
você investir mais do que em um sempre que possível.
As trilhas de reputação são provavelmente a parte mais importante desse jogo.
Maracaibo é
meu jogo favorito do Pfister, e ele roda bem em
qualquer quantidade de jogadores. Nunca cheguei a jogar o chamado “
modo campanha”, mas assumo que seja interessante, e é uma
proposta bem diferente dos jogos com peso similar.
Recomendo
pra você que curte jogo nessa pegada de navegante mercador tentando se virar no meio de uma guerra entre três bandeiras colonizadoras (
muito específico, eu sei),
e pretende se aproveitar do mercado enquanto a treta tá rolando (
e de vez em quando sair na mão também, porque não?).
Espanha tomou tudo, vish.
Seja você um colonizador ou um mercador, o importante aqui é aproveitar as oportunidades na hora certa. Monopólio pode te beneficiar, mas vale mais a pena seguir a maré na maioria das vezes. Seja influenciando regiões ou nações.
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