O jogo possui um conjunto de mecânicas bastante sólidas. A arte é muito bonita. O tema é o ponto fraco do jogo.
Não me entendam mal, sou professor de física e astromo amador e acredito que se o jogo tivesse um tema sobre um mundo de fantasia de fadas e duendes lhe cairia muito melhor. Um jogo de temática espacial normalmente tende a extrema fantasia ou algo que tende mais realismo (note que eu não disse realista). Pois bem, Supernova é um jogo que quer se vender como um realismo sci-fi mas é na verdade uma obra de extrema fantasia.
Qual o problema disso? Nenhum se você estiver interessado apenas em mover componentes de um jogo abstrato.
O tema trata do confronto improvável entre marcianos e terráqueos. Tudo bem visto que outros jogos de fantasia tratam de orcs espaciais e coisas do tipo. Mas o grande motivo do conflito se daria pelo suposto fato de que o nosso sol iria explodir em uma supernova. No vou dizer que isso não é possível, mas até onde sabemos, com a ciência atual isso não pode acontecer pois nosso sol não possui massa suficiente para isso. Uma supernova é algo que acontece somente com estrelas muito passivas e nosso sol, pobre coitado, é muito pequenino comparado aos às gigantes espaciais.
Quando soube do lançamento do supernova cheguei todo empolgado na minha sala de aula e comentei com alguns alunos sobre a possibilidade de adquirirmos o jogo para a escola. Mas um dos alunos (sempre tem um) me inquiriu:
"Você sempre falou que nosso sol não tem massa suficiente para se tornar uma supernova".
Foi com os alunos, que aprendi mais essa lição: devemos ter coerência com as nossas palavras, com o que acreditamos e com todas as coisas que fazemos. É incrível como entro em uma sala de aula e deixo-a a com a sensação de que aprendi muito mais do que consegui contribuir para o aprendizado daqueles garotos e garotas.
Me senti orgulho por aqueles jovens mas ao mesmo tempo triste pelo autor que deveria ter pesquisado um pouco mais sobre o tema de seu próprio jogo buscando não um realismo mas coerência. Eu entendo que o design do jogo nos leva por vezes a uma simplificação das situações às quais se deseja representar mas por mais que seu jogo seja fictício ele deve ter coerência com a realidade onde se insere. Se Supernova tratasse de uma guerra entre civilizações próximas a Eta-carinae (por exemplo) estaria tudo bem. Ou se o houvesse alguma menção sobre um processo desconhecido que inflacionou o sol ou tratasse até mesmo da possibilidade de existir um buraco negro próximo a nós (massa escura?) estaria tudo bem. Mas o sol como o conhecemos não. Ele não pode se tornar uma supernova.
Eu prontamente respondi aos meus queridos e queridas que "deveria ter calma pois era apenas um jogo de fantasia". Quem conhece adolescente sabe o como eles são quando estão com alguma vantagem em relação a você. Principalmente se você for o professor ou a professora deles. Descartada a idéia de adquirir os jogos pra escola, voltamos para as leis de Kepler e Newton e ao final da aula perguntei ... E se a teoria dos universos paralelos estiver correta e houver em outro universo marcianos e terráqueos lutando pelos recursos do sistema solar?
No quero dizer com isso que o autor errou ou algo sim. Pelo amor de Deus. É sua obra, são suas idéias, ele escolheu criar o tema dessa forma. Essa reflexão me veio hoje pelo fato de estar tentando encontrar uma forma simplificada de tratar as interações gravitacionais em um jogo que criei para explicar as Leis de Kepler e a Lei da gravitação Universal de Newton nas minhas aulas de física. O que quero dizer é que os autores brasileiros precisam ser bastante cautelosos na criação de seus jogos.
Cautelosos com o que? Hoje percebo que todo mundo quer lançar seu jogo e as possibilidades pra isso são melhores que eram 5 anos atrás. Só que o que estou notando haver uma pressa para que o jogo seja lançado. Tomando como exemplo o tempo que o QUANTUM levou de sua idéia inicial até sua finalização eu fico abismado como conseguem fazer, testar e lançar um jogo em 4 meses (não é o caso do Supernova).
Recentemente vimos o jogo Zodíacos sair da financiamento coletivo e voltar para a forja. Isso resultou na parceria com a INTZ (deixo aqui minha torcida pela KABUM) e me pergunto: o jogo não estava pronto antes? o que me da garantias de que agora de fato está pronto? Será que eu vou comprar um produto completo ou vou ter que esperar por uma DLC para ter o produto or inteiro? Isso tem acontecido também com a industria de games eletrônicos. Jogos feitos as pressas e lançados com vários erros (Assassins creem Unity, só pra citar um blockbuster).
No caso do supernova o jogo foi lançado para 2 jogadores e depois o autor lançou regras para mais jogadores. Funciona? Bom não as experimentei mas pelo que li me parecem coesas. Como disse as regras desse jogo atendem ao que ele se propõe. Mas a pergunta é? Conheço bastante relato de pessoas que não adquiririam o jogo por que é apenas para "dois jogadores". Acho isso uma desculpa meio infundada visto que boa parte deste jogadores deixam seus jogos empoeirando na estante e raramente possuem uma mesa com 4 ou até mesmo 3 jogadores para lhe fazer companhia. Mas o fato de posteriormente uma regra para mais jogadores ter sido lançada me faz pensar: Será que o jogo não necessitaria de mais tempo na forja? Olhando os fatos e refletindo sobre minha crítica ao tema do jogo eu acho que sim.
A única coisa de Supernova que o jogo possui é o fato de que de uma hora pra outra, sem prévio aviso ele surgiu, nos surpreendeu, iluminou tudo e se apagou.
É uma opinião pessoal. Fruto de uma experiência pessoal. Uma crítica dirigida a um jogo que vi com bons olhos, mas do qual me distanciei pela forma com a qual essa crítica foi recebida e citada, por vezes em tom irônico e desrespeitoso. É uma pena.