Caros Boardgamers
Recentemente foi anunciada a parceria entre a Asmodee e a Netflix, para a produção de board games, baseados nas séries da produtora (faz muito tempo que a Netflix deixou de ser apenas mais uma plataforma de streaming). Os primeiros jogos são adaptações das séries Ozark e Squid Game (batinha frita um, dois, três...).
Sempre que eu me deparo com esses jogos baseados em séries de sucesso, fico sempre com o receio de que os criadores não se esforçarão tanto para criar algo original e inovador. Primeiro porque há o limite daquilo que foi feito no próprio filme ou série de sucesso. Segundo porque como já existe uma grande base de fãs, os criadores tem a certeza de que o jogo vai vender, independente da sua qualidade. Tem gente que compra qualquer coisa do Star Wars ou da Marvel, só porque na caixa vem escrito Star Wars ou Marvel. Basta lembrar, que muita gente comprou o "Star Wars: Império vs Rebelião", que é um jogo bem mequetrefe, e a adaptação "Carcassonne Star Wars", que alguns dizem ser uma implementação muito ruim do Carcassonne. Dois verdadeiros caça-níqueis.
Quem tem mais tempo de hobby, certamente deve lembrar o rebuliço causado pelos "Game of Thrones Card Game" e o "Game of Thrones Board Game". Na época todo mundo queria comprar, não só porque a série estava no auge, mas também porque lançamentos nacionais de board games ainda não eram comuns por aqui. No final acabamos com um jogo bem regular (Game of Thrones Board Game) e com outro que, na minha opinião é um total desperdício de tempo e de dinheiro, de tão ruim (Game of Thrones Card Game). Esse só não é o pior jogo relacionado à série, porque nada bate o desastroso "Intriga em Esteros", que ocupa a lamentável colocação 3.044 no ranking Ludopedia.
Por outro lado, existem jogos que são excelentes, não porque derivam de um filme ou série de sucesso, mas porque são jogos bons por si mesmos, e a ambientação apenas os torna jogos melhores. É o caso por exemplo do "Senhor dos Anéis: Jornadas na Terra Média", do "The Godfather: Império Corleone" e do "Dune Imperium".

Talvez o truque seja não tentar reproduzir exatamente o que ocorre no jogo, mas sim aproveitar o cenário e criar algo que passe a experiência de se fazer parte daquele mundo. É exatamente isso que ocorre nos três jogos que eu citei anteriormente. Pensando assim, eu me pergunto quantas vezes o sujeito vai querer repetir aqueles joguinhos simples do "Squid Game", que aparecem na série, e que parecem ser o argumento principal do board game. A série é sensacional, embora moralmente muito pesada, e as brincadeiras têm o diferencial de, apesar de serem simples, se estar apostando a vida neles, literalmente. O "Resta Um" é um joguinho bem simples, mas se uma pessoa estiver disputando com outra, para ver quem deixa menos peças ao final, e o perdedor for executado, a coisa é muito diferente.
E não precisa nem pensar nessa situação extrema de se apostar a vida. Basta pensar na diferença que é jogar, por exemplo, uma simples partida de Splendor, Projeto Gaia, Acquire, ou Wingspan, onde tudo que se arrisca é apenas a partida, e disputar uma semifinal do World Series of Boarding Game, onde o que se disputa são prêmios vultosos em dinheiro.

Obviamente essa tensão não será reproduzida no "Squid Game:Let The Games Begin", que me pareceu estar muito focado exatamente naquilo que acontece na série, e limitado por isso. Daí o meu receio com esses anúncios. Se essa parceria entre Asmodee e Netflix resultar em jogos mais próximos da experiência do "Senhor dos Anéis: Jornadas na Terra Média", do "The Godfather: Império Corleone" e do "Dune Imperium", para manter apenas aqueles citados anteriormente, acho que a iniciativa pode gerar bons jogos. Por outro lado, se o foco for fazer exatamente aquilo que acontece nas séries, como parece ser o caso desse "Squid Game", acho muito difícil que se produza algum jogo que valha a pena.
Por fim, vamos aguardar os "próximos episódios dessa série", e torcer para o melhor.
Um forte abraço e boas jogatinas.
Iuri Buscácio