NOTA: Olá, guerreiros e guerreiras do plástico e do papelão! Uma observação rápida sobre uma novidade singela nos textos daqui por diante: a adição de dois novos critérios. Estou sempre ouvindo os colegas de hobby e me esforçando para melhorar o conteúdo, dessa forma, ao final do texto abordarei dois critérios novos, sendo “Tempo de Preparação”, no qual relato a dificuldade, demora e demais observações relacionadas ao aspecto da montagem do jogo na mesa e “Preço e Valor Percebido”, critério o qual comento sobre minha visão do custo-benefício que o jogo proporcionou e minha percepção sobre a relação entre o custo do jogo e os componentes presentes. Enfim, essa é a novidade, e não à toa o jogo escolhido da quinzena foi Dragon Castle... sem mais enrolações, vamos ao texto:
(Análise) Dragon Castle
Título: Dragon Castle (2017)
Designer: Hjalmar Hach, Luca Ricci, Lorenzo Silva
Arte: Cinyee Chiu
Editora nacional: Galápagos
Nº de jogadores: 2 a 4
Inspirado no jogo chinês centenário Mahjong, pelo menos em relação aos componentes, Dragon Castle se apresenta como um jogo abstrato, de excelentes componentes e que exige dos jogadores atenção e orientação espacial.

Resumo de Como o Jogo Funciona
Uma partida de Dragon Castle ocorre durante uma quantidade indefinida de rodadas, onde em cada uma delas os jogadores irão escolher peças de um tabuleiro central, mediante a algumas limitações e as colocar em seu próprio tabuleiro, formando linhas, colunas e mesmo pilhas. Algumas das ações possíveis geram pontos para os jogadores, que no final da partida são somados e o jogador com a maior quantidade de pontos é o vencedor. Adicionalmente, existem cartas de poderes (espíritos) que fornecem habilidades específicas à partida, além de cartas de pontuação (dragões) que concedem pontos extras.
Mecânicas Principais: Seleção de Peças, Colocação de Peças
Critérios
Ø Qualidade dos Componentes
PRÓS: Peças (muitas) feitas de um material resistente, com imagens em baixo relevo e pintadas de excelente qualidade, que lembram peças de dominó (das boas); Cartas de boa gramatura; Peças de Santuário (as que se parecem telhadinhos) de excelente qualidade e resistência; Manual de boa qualidade em geral; Organizador plástico confeccionado com um bom material e que comporta tudo de forma adequada (até sobram espaço para mais cartas – e com sleeves!).
CONTRAS: A preparação seria bem mais prática se viesse uma sacolinha (bag) para jogar todas peças dentro, misturá-las e depois montar o tabuleiro central; Os tabuleiros são folhas finas, não muito mais grossas que cartolinas.
(Todos componentes)
Ø Tempo de Preparação de Partida
Alto. Preparar Dragon Castle na mesa é demorado e, além disso, bem chato. São muitas peças que devem ser embaralhadas, preferencialmente sem olhar suas imagens, e montadas em algum formato específico (de acordo com o número de jogadores e/ou variações diversas). Se não bastasse o tempo, pessoas desastradas tendem mais a atrapalhar do que ajudar, uma vez que uma esbarrada errada e algumas pilhas podem cair. Sinceramente, esse é de longe o ponto fraco do jogo, sendo até mal resolvido por parte dos designers (que são bons designers, no geral), uma vez que olhar sem querer onde determinada peça foi colocada pode interferir diretamente na estratégia do jogo, mesmo sem querer, pois, a habilidade humana de ‘desver as coisas’ ainda não foi desenvolvida. Resultado: Irá perder alguns minutos montando pilhas de peças, sempre tentando olhar para algum outro lugar e com cuidado para não esbarrar e derrubar uma pilha já montada.
Ø Arte
PRÓS: Apesar de ser um jogo simples e quase abstrato em tema, as ilustrações são incríveis, principalmente das cartas de animais e dragões, possuindo uma identidade visual própria, semelhando-se a pinturas aquareladas. Os componentes de peças e santuários são bem modelados e fazem sentido dentro do tema.
CONTRAS: Os tabuleiros são cenas de fundo sem vida e pouco inspirados, que apesar de sua arte ficar, ao longo da partida, encoberta por peças, poderia ter as bordas mais bem trabalhadas; Os marcadores de pontuação são sem graça e não representam nada específico.
(Componentes do jogo em detalhe)
Ø Curva de Aprendizagem
Média. Aprender a jogar Dragon Castle é fácil. No modo básico são apenas três ações possíveis e a pontuação não apresenta dificuldade de entendimento. O jogo ainda possui as cartas que inserem um grau de dificuldade maior, com novas possibilidades de ações (animais) ou pontuações (dragões). Contudo, apesar das regras simples, dominar o jogo é bem mais difícil! Além de uma atenção constante nas peças, saber onde as colocar no tabuleiro pessoal e em qual momento é bem importante, exigindo uma leitura do que os outros jogadores farão, sem contar que o jogador se frustrar sozinho, se arrependendo de onde colocou uma peça é normal nas primeiras partidas, até pegar o jeito. Tudo no jogo se trata sobre ser eficiente em cada rodada e isso leva um tempo para assimilar.
Ø Presença de Tema
Baixa. Fora a bela ilustração mais nada entrega tema no jogo, o aproximando bastante de um jogo abstrato (como acontece em outro jogo do mesmo designer, Fotossíntese (análise já postada em
https://www.ludopedia.com.br/topico/54009/analise-fotossintese). Apesar disso, existe um parágrafo apresentando o enredo do jogo, algo que muito eurinho por aí sequer se esforça.
(tabuleiro central preparado para uma partida)
Ø Rejogabilidade
Média. O jogo possui uma sensação sempre parecida, não apresentando muitos caminhos diferentes para vitória, porém ele se esforça bastante para entregar, ao menos, algumas variáveis dentro da mesma mecânica central, como variações de ações e pontuação (presentes nas cartas, o qual sempre entram uma de cada nas partidas) e diversos formatos de preparação das peças no tabuleiro central. A união destas duas características consegue fazer a vida útil do jogo se estender consideravelmente, uma vez que saber usar bem as ações e pontuações adicionais e ler o formato do tabuleiro é crucial para se obter uma vitória no jogo.
Ø Interação
Média. A interação ocorre basicamente em dois aspectos: o primeiro em relação a compra de peças, onde o jogador ao pegar uma peça (ao menos na maioria das vezes) libera nova peça disponível para ser pega por adversários, o forçando a pensar bem sobre o momento que pega determinada peça; e o segundo é no gatilho de final de jogo, pois a partir de um momento da partida (terem peças apenas no andar térreo do tabuleiro central), os jogadores podem optar por pegar um Marcador de Invocação do Dragão, que além de lhes conceder 2 pontos de vitória, serve para ativar o final da partida, uma vez que todos tenham sido pegos, o que impacta diretamente as escolhas do oponentes se a leitura do jogo estiver afiada.

(Tabuleiro individual durante a partida)
Ø Fator Sorte
Relevância na partida: Muito Baixa. Com exceção da surpresa na revelação de peças quando alguma delas sai do tabuleiro, revelando a que estava abaixo, não há mais nenhum elemento que insira sorte na partida. Há quem diga (já ouvi comentário assim) que a ordem que as peças são reveladas importa, e realmente importa, porém como isso é definido no início da partida, não vejo necessariamente como um elemento de sorte e azar agregado ao jogo, mas um fator de aleatoriedade intrínseco, como uma pilha de cartas embaralhada em uma determinada ordem, por exemplo, contudo, como fora isso toda informação do jogo é aberta, não acho que somente isso seja o suficiente para dizer que a sorte impacta a partida de alguma forma.
Ø Fator Estratégia
Relevância na partida: Média. Dragon Castle exige que os jogadores aprendam a ler os adversários, o tabuleiro central e, talvez o mais importante, colocar peças em seu tabuleiro individual. Um bom exemplo de leitura que o jogo exige do jogador está relacionada com o gatilho de final da partida, onde em sua vez, o jogador tem a opção e realizar uma ação comum ou, ao invés disso, pegar o marcador de Invocação do Dragão (ganhando 2 pontos e abrindo a mão de fazer sua ação do turno). Saber o que vale mais a pena vai depender do quanto o jogador vê de possibilidades no tabuleiro central em relação a quantos pontos ela lhe renderá, o que acaba, inevitavelmente, gerando um AP (Analysis Paralysis: aquele tempo de parada para se pensar). O AP (se não sabia, agora já sabe o que é isso) é algo bem corriqueiro em Dragon Castle, uma vez que o jogador pode simplesmente ficar paradão observando o tabuleiro e os desdobramentos possíveis enquanto a galera fica esperando... porémmmm, nem sempre existem muitas opções viáveis, inclusive, por vezes existem opções de escolha de peças no tabuleiro central bem óbvias, principalmente conforme as peças vão se acabando, que acaba por balancear um pouco esse aspecto do AP (que para muitos pode ser algo bem negativo, a depender da mesa). Em suma, apesar da baixa sorte e alta necessidade do jogador fazer escolhas de forma consciente, o fato de algumas vezes existirem escolhas meio óbvias (ao menos no tabuleiro central) reduzem um pouco o aspecto do Fator Estratégia, mas distante disso ser um divisor de águas para que eu ache que o jogo é ruim, ao contrário, escrevo por gostar genuinamente dele!

(Como ficam os componentes organizados na caixa com o insert original de papelão)
Ø Preço e Valor Percebido
Bom. Quando peguei o jogo, tinha um valor percebido Excelente, pois paguei por volta de cento e poucos dinheiros em uma Black Friday, sendo um daqueles jogos que dão uma flopada (não vendeu como esperado) e eu, sinceramente, não consigo entender bem o motivo (Coimbra, Blackout: Hong Kong e Kick Ass (que é do mesmo designer de Dragon Castle, aliás), foram um choque para mim). Hoje, estando por volta da casa dos R$200, devido a alta qualidade das peças e das possibilidades variadas que o jogo apresenta, sem complexidade nas regras, sendo acessível para qualquer público, ainda acho que esteja coerente e dentro do esperado.
Ø BÔNUS: Algumas dúvidas corriqueiras:
- Dá para jogar com crianças? É possível, porém a depender da idade, elas perderam parte da leitura, deixando o jogo bem direto e sem a marcação com os adversários, algo que considero essencial.
- Funciona bem em qualquer número de jogadores? Sim, pois o tabuleiro se adequa em quantidade de peças para o número de jogadores, e por uma questão prática, fica difícil marcar todos adversários na mesa, resultando no jogador marcando mais o próximo, a sua esquerda, logo jogar em dois, três ou quatro o sentimento geral é o mesmo!
Opinião Pessoal
“Possuindo componentes de excelente qualidade, Dragon Castle reinventa um jogo clássico aos moldes modernos. Mesmo não entregando muito tema, o jogo se esforça e coloca elegância sobre a mesa, de uma forma que exige dos jogadores atenção e bastante leitura situacional. Acredito não ser um jogo para todos os públicos, por não ter momentos de tensão ou surpresa, porém quando jogado tendo em mente a proposta, e um belo chá ao lado, é uma experiência divertida.” (Raphael Gurian, o dragão da devoção)
“Dragon Castle é um jogo interessante, em que os jogadores precisam construir o maior e melhor templo, combinando as peças na ordem certa e finalizando com os telhados de santuário para pontuar as construções. As cartas representam espíritos e deuses, que irão potencializar as pontuações ao final para os jogadores. É um belo jogo, com componentes de ótima qualidade, que lembra bastante a dinâmica e o visual do antigo jogo chinês Mahjong, mas com um contexto mais aprofundado em sua história e objetivos. É um jogo estratégico de nível médio de dificuldade, que vale muito a pena ter na coleção.” (Heloisa Fernandes, o espírito da fé).
Um texto de
Raphael Gurian
A ideia deste formato de análise não é explicar um jogo, para isso existem muitos outros textos, vídeos e etc. A finalidade do texto é fazer uma análise crítica acerca de critérios que acho importante e que muitas vezes acabam não sendo explorados em análises de uma forma mais detalhada. Os jogos analisados não seguem qualquer critério comercial, incentivo ou pagamento, sendo escolhidos com base em fontes de vozes da minha cabeça, aliado ao fato de ter já jogado o jogo em questão muitas vezes, a ponto de me sentir confortável em opinar sobre o mesmo.
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