Editoras Deveriam Temer o Consumidor, e Não o Contrário...
Caros Board Gamers
Todos sabem que o Everdell foi um jogo lançado com grande estardalhaço, muita gente ficou animada, o jogo vendeu muito bem, apesar de custar bem caro. Aquela árvore 3D que é preciso reconhecer fica linda na mesa, também elevou bastante o preço do jogo, só para ter praticamente um suporte de luxo, mas ainda assim um suporte. Obviamente não são todos, e muita gente há de discordar, porém, certamente muita gente boa trocaria a tal árvore, por um preço mais em conta. Mas a árvore não é nem o maior dos problemas, porque o fato é que tão logo as pessoas receberam o jogo, elas tiveram a triste surpresa de que algumas cartas vinham com erros graves de impressão. E esses erros não eram nem uma questão de tradução equivocada, mas sim, na carta tal deveria estar escrito isso, ou constar isto e constava aquilo.
Felizmente, nesse caso a Galápagos, pelo menos na aparência resolveu demonstrar alguma consideração com seus consumidores e se comprometeu a reimprimir e reenviar todas as cartas erradas para quem tivesse comprado o jogo. Assim sendo, a princípio a coisa era simples, bastava pegar as cartas erradas, fazer uma nova impressão e mandar para os compradores. A questão é que nem sempre o simples é sinônimo de barato, e consertar esse erro de produção vai sair bem caro para a Galápagos. Só que isso faz parte de algo chamado "risco do negócio" que todo empresário sério conhece, ou deveria conhecer, para não cair em armadilhas e perder dinheiro. É justamente por isso que as empresas investem tanto em controle de qualidade e revisão, porque por mais que isso seja caro, consertar erros nos produtos é sempre mais caro, e prejudica muito a boa imagem de uma empresa.
Até aí estava tudo bem, porque a Galápagos ia fazer a reposição e coisa e tal. Mas de repente eu me deparei com uma atualização a respeito da reposição do Everdell, em um dos tópicos abaixo na ficha do jogo, que dizia o seguinte:
Atualização de
21/05/2021.
Errata oficial disponível na página do produto em nosso site oficial, na área Downloads.
Clique aqui para acessar diretamente.
Neste caso, em especial, conversamos com o estúdio e acordamos que
reimprimiremos as cartas que possuem errata, utilizando a mesma linha de produção que o produto original.
É importante lembrar que essa é uma resolução especial e nem toda errata necessariamente possui reimpressão, mas garantimos que teremos sempre uma solução oficial rápida para disponibilizar aos clientes aqui e/ou na área de Downloads da página do produto.
Levando em conta o tempo de produção e importação para o Brasil, a previsão de chegada no País é de Fevereiro de 2022, com chance de mudanças que serão avisadas à comunidade.
Quando estivermos próximos a essa data, entraremos em contato com todos os lojistas e clientes diretos para alinhar os processos a fim de que todos recebam devidamente seus componentes reimpressos. Não haverá atualização de status aqui até lá.
Esse comunicado me deixou com uma pulga atrás da orelha, porque em um momento a Galápagos diz que "reimprimiremos as cartas que possuem errata", até aí tudo bem, o que estiver errado será consertado. Porém no parágrafo seguinte a empresa diz que "essa é uma resolução especial e nem toda errata necessariamente possui reimpressão, mas garantimos que teremos sempre uma solução oficial rápida para disponibilizar aos clientes aqui e/ou na área de Downloads da página do produto".
Não vou nem comentar a tal resolução especial, como se consertar uma cagada que a própria empresa fez fosse um grande favor, que a Galápagos estivesse prestando, para quem pagou caro pelo jogo. Também não sei quanto a vocês, mas esse comunicado me pareceu muito estranho, porque ao mesmo tempo que a empresa diz que o que tiver errata será reimpresso, logo em seguida ela diz que nem tudo que tiver errata terá necessariamente reimpressão. Pelo que eu entendi a coisa vai funcionar assim, aquilo que estiver errado e a Galápagos achar que deve reimprimir, ela vai reimprimir e enviar, mas aquilo que estiver errado, mas a Galápagos achar que não precisa imprimir ela não vai imprimir, e quem quiser que baixe a errata na página de download e faça ele mesmo a sua impressão do jeito que conseguir e coloque dentro do sleeve da carta. É isso mesmo gente? Eu entendi direito?
Sinceramente, pode ser que o meu conhecimento seja pouco, mas acho difícil de algo assim acontecer na Alemanha, nos USA, na França no Japão ou na Inglaterra (a empresa erra, finge que está fazendo uma gentileza muito grande ao consumidor, e ainda por cima conserta o erro pela metade). E nem é apenas uma questão de aqui ser o Brasil, mas sim daqui ser o Brasil e o produto envolvido ser um board game. Nós estamos no Natal e as pessoas trocam até mesmo os produtos que não gostaram, ou que receberam um número maior ou menor. Se o produto vier com defeito então, aí é troca na certa na loja. Alguém compra uma roupa pelo site, recebe uma blusa, com uma mancha enorme e resolve ficar com ela assim mesmo, porque uma mancha, ou um rasgo, não te impede de usar a roupa, ou melhor dizendo, "dá para usar" ou "não afeta tanto a usabilidade"? É claro que não, porque, muito infelizmente, essa prática só acontece no caso dos board games. E olhem que nós estamos falando de um jogo que custou mais de R$ 400,00, ou seja, não foi um trocado qualquer que sobrou da ida à padaria.
Com toda a sinceridade, eu desejo com toda a força, que chegue fevereiro e a Galápagos faça a reimpressão de todas as cartas erradas, e vou ter grande satisfação se as pessoas voltarem aqui para me dizer, que eu estava errado de desacreditar da Galápagos. Não dá para ignorar que muita gente gostou do jogo, afinal apesar dos erros de produção, ele ainda continua sendo um bom jogo e custou caro para as pessoas, e elas não merecem de modo algum ficar nesse prejuízo. Muito embora, nesse caso eu só acredite vendo, porque credibilidade é algo que a Galápagos já perdeu faz muito tempo. Isso sem falar que é preciso ter sempre esperança, especialmente no final de ano, de que o ano seguinte será melhor que aquele que passou. Então mesmo não acreditando, ainda assim, eu desejo muito que esse evento da reposição do Everdell seja um "turning point", na forma como funciona o nosso mercado nacional de board games.
Nós vivemos em uma sociedade capitalista, como todo mundo sabe. E todo mundo também sabe, mas nem sempre se dá conta, é que numa sociedade capitalista, quem tem o dinheiro é quem tem a força. Pois bem, em uma relação de consumo quem tem o dinheiro não é a empresa, mas sim o consumidor, portanto é o consumidor quem tem a força. Só que as pessoas têm medo de usar essa força, pois existe um receio generalizado, de que as empresas fechem as portas e parem de lançar jogos no país, o que forçaria todo mundo a voltar a importar jogos, o pelo menos até agora ainda é bem mais caro. Certamente isso não tem fundamento algum, porque mesmo que a Galápagos, que representa metade do mercado de board games, ou talvez até mais, se ela fechar as portas, aos poucos outras empresas vão assumir esse vácuo, e, mesmo que leve alguns anos, outras empresas, quem sabe até empresas novas, vão continuar lançando jogos no mercado brasileiro.
Então nós temos de nos livrar desses grilhões imaginários que tolhem a nossa força, reconhecer que enquanto comunidade nós todos somos muito mais fortes do que pensamos e começarmos a agir de acordo. A única coisa que nos impede é que nós temos que começar a pensar mais coletivamente, porque um consumidor apenas, não tem força alguma, mas um grupo grande de consumidores tem toda a força ao seu dispor. Se as editoras de board games não estiverem dispostas a se modificar, a começar a procurar meios de baixar os preços dos jogos, e começarem a investir em controle de qualidade e revisão, nós enquanto consumidores podemos literalmente fazer com que elas façam isso na marra. Basta apenas que cada um de nós resolva parar de permitir, que as empresas nos tratem de qualquer jeito, e todos comecemos a nos fazer respeitar, até mesmo abrindo mão de alguns board games que queremos muito (acreditem, isso não é o fim do mundo, principalmente para quem tem outros 50 jogos na estante, esperando para serem jogados). Já imaginaram se em 2022 as pessoas começassem a exigir serem tratadas como elas merecem ser tratadas, em troca do suado dinheiro, que todas gastam, comprando board games? Imaginem até onde conseguiríamos ir, se todos pensassem e passassem a agir assim.
Pensem nisso.
Eu termino deixando aqui essa mensagem e esse ponto de reflexão, bem como os meus votos de que todos nós tenhamos um 2022 melhor do que o ano que passou, com muito mais felicidade, saúde, prosperidade, paz e principalmente respeito, especialmente no que se refere ao mercado nacional de board games.
Parafraseando o Alan Moore:
OS CONSUMIDORES NÂO DEVERIAM TEMER AS EDITORAS , AS EDITORAS É QUEM DEVERIAM TEMER OS SEUS CONSUMIDORES!
Um forte abraço, boas jogatinas e Feliz Ano Novo.
Iuri Buscácio
P.S. Quem paga a conta é quem escolhe o prato, a bebida e a hora de levantar da mesa.