Marllos Dias::
Podiam aproveitar o embalo de lançar jogos mais antigos e trazer as expansões do Race for the Galaxy pro Brasil.
Raitz::
Sobre o Race for the Galaxy, ele não consta mais no site da Galápagos. Então...
Caros Marllos Dias e Raitz
Foi muito boa a lembrança de vocês do Race For The Galaxy, porque esse é um jogo que representa um excelente caminho alternativo para a situação atual do mercado nacional de board games, mas que as editoras nacionais ignoram solenemente. Ninguém espera, de forma séria, que jogos como Gloomhaven, Clash of Cultures, ou Descent custem R$ 300,00, com aquela quantidade enorme de componentes. Então está mais do que claro, que esse tipo de jogo não é para todo mundo. O problema é que se qualquer jogo, um pouco mais complexo que os party games, e isso inclui os jogos familiares, se todos eles custarem acima de R$ 500,00, o que é que vai sobrar para o pessoal de classe média, que tem empregos normais, com salários normais (que não chegam aos cinco dígitos), e que antes de comprarem board games, tem de pagar aluguel, conta de luz, gás, alimentação, transporte, celular, colégio das crianças, plano de saúde, internet, etc? O que essa galera deve fazer? Passar a jogar só os board games que já possuem, comprados em uma época de preços mais em conta, abandonando completamente os lançamentos? Eles têm de passar a comprar só lançamentos que forem party games, com preço mais acessível? Onde o mercado nacional de board games vai chegar, se a cada ano que passa, os preços cada vez mais altos, excluem cada vez mais, uma parcela maior do mercado consumidor?
Eu sei que esse papo esta para lá de repetido, e ninguém precisa me lembrar disso. Mas isso também é um alerta para um caminho muito sombrio que o board game nacional está trilhando. Se não tem muito o que se possa fazer, para mudar o status quo reinante, pelo menos ainda podemos falar, conjecturar e até lamentar a esse respeito. No mínimo desopila o fígado, e se bota para fora a frustração. Hoje o nosso mercado está cada vez mais viciado em jogos recém lançados, com altíssimo hype e preços estratosféricos. Só que, o que não fica aparente, é que não se vê quase nenhum esforço de consolidar títulos já lançados. Se o jogo lançado aqui não for um verdadeiro fenômeno de vendas, tais como Ticket to Ride, Zombicide, Pandemic, Carcassonne, Terraforming Mars, Dixit, Black Stories, entre outros, a chance de se ver uma expansão é quase nula. Basta lembrar o Imperial Settlers, entre vários outros títulos, que tem uma cacetada de expansões, e nenhuma que eu me lembre foi lançada. Basta ver o tempo que demorou para lançar alguma coisa do Gloomhaven, apesar dele ter sido aquele vendaval que foi. Então para viabilizar as expansões é preciso antes de tudo vender bastante. Mas como isso pode ser feito, se só o que interessa são os lançamentos, cujas tiragens são feitas na base do conta-gotas, com mil unidades por jogo, cada uma custando os olhos da cara?
Nesse sentido, seria fundamental investir em um jogo como o Race For The Galaxy, que é altamente estratégico, composto praticamente só de 150 cartas (salvo engano), e barato. Um jogo como esse seria perfeito para atender, pelo menos de alguma forma, o pessoal que quer algo mais do que party games, mas que não tem tanta bala na agulha assim para bancar os preços atuais. Forçando um pouquinho a barra talvez se conseguisse até produzir esse jogo nacionalmente (tudo bem que meeples e pecinhas são mais barato produzir na China e importar, mas cartas, pelo amor de Deus, isso se consegue produzir por aqui, a preço bom). É possível argumentar também que o Race For The Galaxy não vendeu tão bem assim, a ponto de justificar qualquer aposta nele. Ocorre que ele foi lançado em uma época em que não se investia tanto em formação de hype, como se faz hoje, caso contrário, ou seja, com um pouco mais de divulgação, certamente a história seria outra.
Só que a editora não quer investir em um jogo, cujo preço está na casa dos cento e poucos reais, mesmo que ele tenha potencial para vender milhares de cópias. O que importa é continuar produzindo uma tiragem ínfima de 1.000 unidades, continuar lançando os jogos com o maior estardalhaço possível e continuar vendendo jogos médios a mais de R$ 500,00, e jogos grandes a mais de R$ 1.000,00.
E assim nós vamos vivendo de lançamento em lançamento, sabendo de antemão que provavelmente não vai dar para comprar aquilo que se quer, porque o preço será proibitivo. Com sorte talvez dê para escolher um jogo entre tantos lançados (imagina só a saúde e longevidade, de um mercado onde a maior parte das pessoas compra um produto por ano). E mesmo aqueles que puderem comprar os lançamentos já terão a certeza de que a probabilidade de ver alguma expansão será pequena, então o jeito será se contentar só com o jogo base mesmo.
Com isso a cada Natal que chega, nós vamos vendo o nosso amado hobby trilhando uma senda cada vez mais melancólica. É triste, principalmente quando se pensa em todo potencial de um país com mais de 200 milhões de pessoas, que adoram reunir os amigos em casa, mas infelizmente é a realidade, e cada vez eu vejo menos possibilidade disso mudar algum dia.
Um forte abraço, boas jogatinas e Feliz natal.
Iuri Buscácio