(Análise) Century: Maravilhas do Oriente
Título: Century: Maravilhas do Oriente (2018)
Designer: Emerson Matsuuchi
Arte: Chris Quilliams
Editora nacional: Devir
Nº de jogadores: 2 a 4
Um jogo com belíssimos componentes e uma jogabilidade altamente estratégica, Century: Maravilhas do Oriente é um jogo que flerta com o público familiar e também com quem curte euros mais clássicos.
Resumo de Como o Jogo Funciona
Após a preparação do jogo, que conta com um tabuleiro modelar, o jogo inicia e segue em sentido horário, transcorrendo por um número indeterminado de rodadas. O jogador em sua vez pode mover seu barquinho (de madeira) para casas adjacentes e realizar uma ação, que poderá ser colher 2 gengibres (cubos amarelos) ou colocar um posto avançado (caso ainda não tenha naquela peça) e fazer uma troca, que seria ativar o local trocando os cubos designados na peça que se encontra. Existem locais específicos no tabuleiro central com Fichas de Pontos de Vitória, no qual o jogador pode chegar e entregar os cubos necessários e pegar para si aquela peça (e uma nova entra no local). Quando o primeiro jogador pegar sua quarta peça de pontuação, o jogo se encerra. Vence o jogador com mais pontos de vitória (os valores nessas Fichas de Pontos, espaços liberados em seu tabuleiro individual, pontos de Fichas de Bônus e pontos extras por cubos não amarelos ainda em posse dos jogadores).
Mecânicas Principais: Coleção de componentes, movimento ponto-a-ponto, pegar-e-entregar.
Critérios
Ø Qualidade dos Componentes
PRÓS: Peças cartonadas de boa gramatura; Peças de madeira bem pintadas e de excelente qualidade; Caixa firme e com bom acabamento todo em verniz; Manual feito com uma única folha (frente e verso) impresso em um papel com alta gramatura; O jogo vem com potinhos plásticos (ou algum polímero do gênero) de excelente qualidade para colocar os cubinhos separados durante a jogatina.
CONTRAS: Tabuleiros individuais de baixa gramatura (bem fininhos); As peças de cartonadas que cumprem o papel de ser o tabuleiro poderiam ser um pouco maiores, pois em quatro jogadores fica tanta coisinha em cima delas que a informação impressa nela acaba ficando meio ocultada; Organizador interno de boa qualidade, com um plástico de rigidez bacana, porém muito pouco funcional (Nota de Pistolagem: Organizadores como esse me fazem pensar “O que se passava na cabeça do cara que o fez? Ele investiu tempo e dinheiro e saiu ISSO?”. Sério, o organizador não guarda certinho as coisas, não tendo uma separação bacana, você precisa colocar um punhadinho de uma coisa aqui, outro punhadinho da mesma coisa acolá, os tiles grandes também separados, sem espaço para as peças dos jogadores (acabam ficando em saquinhos plásticos (ziplock)) e assim por diante. Uma tragédia. Um dia, quando crescer, quero entender como essa galera que planeja organizador na linha de produção dos jogos trabalha...).
(Todos componentes)
Ø Arte
PRÓS: Chris Quilliams e Atha Kanaani já são conhecidos no universo de jogos de tabuleiro modernos, tendo feito a arte de jogos como Pandemic (series), Coimbra, Clash of Cultures, Azul, Carcassonne, Camel Up, entre tantos outros (a lista é realmente grande, vale a pesquisa!). Em Century: Maravilhas do Oriente temos ilustrações belas nas peças, na caixa e nos tabuleiros individuais que, apesar de pequenas, é bem rica em detalhes.
CONTRAS: As peças que representam as melhorias (Fichas de Bônus) são bem sem graça, contendo apenas iconografia.
(componentes em detalhe)
Ø Curva de Aprendizagem
Baixa. O jogo apresenta bem poucas regras e facilmente memorizáveis, a ponto de não fazer falta uma carta ou guia de ajuda ao jogador. São basicamente três opções de ação e elas fluem muito rápido e fácil. A dificuldade está por conta de saber ler bem os caminhos melhores e não perder tempo enquanto os adversários estão fazendo sua parte!
Ø Presença de Tema
Baixa. O jogo apresenta um leva e traz e... só isso mesmo. Não tem nenhum tipo de mecânica que invoque a dinâmica de comércio, navegação, negociação ou afins. Isso pode ser algo ruim para alguns, eu mesmo costumo reclamar bastante de jogos que perdem chance em apresentar um tema legal, porém devido à complexidade e tempo de jogo de Century: Maravilhas do Oriente, fazendo o jogo se enquadrar como um jogo leve e familiar, a falta de tema não me incomodou, pois não teria muito espaço e tempo para abrir discussões acerca do tema, porém, poderia realmente ter um pouco mais de personalidade na arte, principalmente nas Fichas de Bônus.
(tabuleiros (central acima e jogador abaixo) durante partida)
Ø Rejogabilidade
Média. O jogo segue sempre a mesma dinâmica, porém possui uma preparação do tabuleiro central variável e uma abertura de objetivos aleatória. Estes elementos entregam uma experiência bem divertida para quem gosta de jogos táticos leves, pois será exigido do jogador constante atenção e escolhas a cada rodada, e eles sempre irão variar devido ao tabuleiro modular. Uma critica que faço é em relação às Fichas de Bônus, que apresentam apenas cinco variações e, pelo que senti nas jogatinas, umas acabam sendo mais fortes que outras, como ‘fazer o barco se mover um espaço adicional’, enquanto outras quase nunca são pegas, como ‘três espaços de armazenamentos extras’, logo poderiam ter mais variações de fichas ou mesmo alguma mecânica que interagisse com essa compra de alguma forma, para deixar o jogo um pouco mais assimétrico entre os jogadores e em relação à essas ´ações melhoradas´.
Ø Interação
Media. Existe uma corrida pelos objetivos e pela colocação de peças no tabuleiro antes que os rivais, pois estes espaços vão encarecer a ação para os outros jogadores que chegarem depois, porém não existe um bloqueio de fato, podendo sempre ser contornado de alguma forma (mesmo que pagando cubinhos adicionais). O jogo é uma grande corrida e essa sensação sozinha já ajuda a criar um clima de tensão na mesa, sem usar de muitos artifícios para dar interação entre os jogadores.

(tabuleiro central em detalhe)
Ø Fator Sorte
Relevância na partida: Mínima. Só digo que a sorte presente é mínima ao invés de nenhuma, por causa dos objetivos, que são relevados novos, que estavam ocultos, conforme um novo é adquirido. Dessa forma, é possível que um jogador tenha uma pitadinha de sorte ao ser revelado um novo objetivo, por já ter parte dos cubos necessários para adquiri-lo, mas mesmo isso é bem difícil de ocorrer, uma vez que a corrida acaba fazendo com que os jogadores geralmente juntem apenas os cubos essenciais para os objetivos já dispostos no tabuleiro.
Ø Fator Estratégia
Relevância na partida: Alta. O jogo consegue entregar uma experiência altamente tática (curto prazo) e estratégica (a longo prazo) com poucas mecânicas, porém muito bem integradas. O leva e traz de cubinhos é complementado de forma bem inteligente com a necessidade da colocação dos Postos Avançados (as casinhas que ficam no tabuleiro de jogador), fazendo com que não apenas os cubos sejam pegos na busca imediatista dos objetivos já abertos, porém levando-se em conta a rota mais barata, de tal forma que da metade para o fim do jogo cada posto avançado irá fazer diferença de onde já foi colocado pelo jogador. A verdade é que sem planejamento, você não sai do lugar no placar, só com muita sorte (ou vacilo) dos concorrentes. Nesse sentido, Century: Maravilhas do Oriente é brutal, se levarmos em conta que toda informação realmente necessária já está aberta, a disposição de todos jogadores, logo desperdiçar movimentos em ações que não contribuam para o jogador ou mesmo juntar cubos que não tenham um uso eficiente no futuro, por alguém ter comprado o objetivo na frente, é bem punitivo, porém do melhor jeito possível: Por culpa de alguém, não de um infortúnio da sorte. Deixo, porém, um alerta em relação do (bem) possível cenário de surgimento de AP (analisys paralisys – aquele tempo de a galera ficar pensando no que fazer), devido as opções vastas e todas abertas na mesa, então se a sua turma costuma parar e analisar todas possibilidades, talvez o jogo dure mais do que de imaginado pelo designer e anotado na caixa.

(Organizador (vazio, com algumas coisas, totalmente preenchido).
Cuidado ao mover a caixa por ai ou guardar na vertical!)
Ø BÔNUS: Algumas dúvidas corriqueiras:
- Dá para jogar com crianças? Sim. A criança (e até mesmo quem está começando a jogar) vai entender as regras fácil, porém as chances de ser atropelada por jogadores sérios e competitivos é enorme. A leitura do tabuleiro, das possibilidades e rotas é crucial para se sair bem no placar (que costuma ser apertado em poucas pessoas), então é bom ter em mente que existirá essa barreira, ao menos nas primeiras partidas.
- Funciona bem em qualquer número de jogadores? Sim, muda um pouco o sentimento, mas funciona bem. Em mesa cheia fica tudo mais apertado, mais caro até, até meio caótico para quem olhe o tabuleiro de fora e não conheça o jogo, já em dois fica tudo mais espaçado (já que o tabuleiro central nunca muda de tamanho), porém mais marcado.
- Qual o melhor jogo da trilogia Century? Não sei, quer dizer, sei pela metade, pois nunca joguei o terceiro jogo da saga, Century: O Novo Mundo. Comparando o Century: Rota das Especiarias (o primeiro) com o Century: Maravilhas do Oriente (o segundo, esse aqui analisado), achei o Maravilhas do Oriente bem melhor em vários sentidos (e olha que sou fã de construção de baralho, mecânica central do primeiro jogo), a arte, o sentido temático e a estrutura competitiva do Maravilhas do Oriente avalio como melhores, logo, o segundo jogo achei mais divertido.
- Já jogou em conjunto com o outro Century? Infelizmente não tive oportunidade de unir os dois jogos. Estou aguardando o convite de alguém que tenha o primeiro Century!
OPINIÃO PESSOAL
“O jogo não fez nenhum alarde e eu mesmo o peguei sem nenhuma pretensão em uma troca, imaginando ‘ok, vou jogar uma vez para ver qual é e depois troco’. Que engano, meus colegas de hobby! Joguei e curti muito. Ele é leve, fácil de explicar e de jogar, porém muito estratégico. Ele consegue entregar uma experiência que é quase um misto de Whistle Stop (Caputo. 2017) com Istanbul (Dorn. 2014), porém mecanicamente muito mais simples e direto que ambos, sendo enxugado em todos os sentidos, porém ao contrário do que pode soar, isso é um ponto extremamente positivo para mim! Century: Maravilhas do Oriente é uma excelente opção de jogo rápido, com características de familiar, porém com teor estratégico de um verdadeiro euro raiz.” (
Raphael Gurian, O cultivador de gengibres)
“Century: Maravilhas do Oriente é um jogo que, apesar de possuir elementos simples, como recursos em cubos e tiles para montagem do tabuleiro, consegue unir bem seu tema às suas ações e objetivos. Este possui partidas bastante apertadas, fazendo com que os jogadores corram contra o tempo para pontuar o máximo possível e acelerar o final da partida. Em dois jogadores diminui bastante a possibilidade de haver bloqueios em relação às ações do adversário, o que considero particularmente um ponto positivo, pois colocará à prova quem construiu a melhor estratégia para pontuar mais, sem precisar interferir intencionalmente nos planos alheios. Esta é uma ótima opção de passatempo, com partidas leves e relativamente rápidas, e possui uma arte atraente em seus elementos.” (
Heloisa Fernandes, A apreciadora de pimentas).
Um texto de Raphael Gurian
A ideia deste formato de análise não é explicar um jogo, para isso existem muitos outros textos, vídeos e etc. A finalidade do texto é fazer uma análise crítica acerca de critérios que acho importante e que muitas vezes acabam não sendo explorados em análises de uma forma mais detalhada. Os jogos analisados não seguem qualquer critério comercial, incentivo ou pagamento, sendo escolhidos com base em fontes de vozes da minha cabeça, aliado ao fato de ter já jogado o jogo em questão muitas vezes, a ponto de me sentir confortável em opinar sobre o mesmo.
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