(Análise) Flamme Rouge
Título: Flamme Rouge (2016)
Designer: Asger Harding Granerud
Arte: Ossi Hiekkala, Jere Kasanen
Editora nacional: Conclave Editora
Nº de jogadores: 2* a 4
(*existe um modo solo oficial no BGG)
Com uma jogabilidade simples, porém cativante e divertida, os jogadores de Flamme Rouge assumem o papel de uma equipe de ciclistas em uma acirrada disputa para ver qual será equipe campeã!
Resumo de Como o Jogo Funciona
Em Flamme Rouge cada jogador controla dois ciclistas, cada um com pequenas diferenças em relação aos valores das cartas que possuem. No início da rodada, os jogadores, simultaneamente escolhem uma carta para cada ciclista das opções que possua, após as cartas serem selecionadas, são reveladas e começando pelo ciclista mais a frente naquele momento todos se movem sentido a linha de chegada, depois são aplicados efeitos de aerodinâmica e da pista, que podem fazer ciclistas se moverem mais casas em relação às cartas selecionadas. Vence o ciclista que primeiro atravessar a linha de chegada (e/ou chegar mais longe).
Mecânicas Principais: Gestão de Mão, Ação Programada.
Critérios
Ø Qualidade dos Componentes
PRÓS: Cartas e cartonados de boa gramatura; Manual com boa escrita e diversas ilustrações.
CONTRAS: As miniaturas de ciclistas são bem frágeis; O tabuleiro individual não é necessário e para o que se propõe não é tão eficiente, podendo ter sido utilizado seu espaço para produzir outros elementos ou mesmo tendo sido utilizado como “referências de regra”; Caixa de um papelão fino; Para que se caiba tudo dentro da caixa confortavelmente é preciso dobrar ou retirar o papelão interno ilustrado; O manual, por ter poucas páginas e ser de um formato grande, amassa com bastante facilidade; Os tipos de miniaturas são facilmente confundidos, uma vez que apesar das poses entre os ciclistas serem diferentes, ainda assim são relativamente parecidas, sendo diferenciadas apenas por uma letra (feita com tinta) nas costas de visibilidade e qualidade medíocre.
(Todos componentes)
Ø Arte
PRÓS: Consegue remeter a época em que o jogo se passa; Pistas com pequenos detalhes demonstrando cuidado do artista; Manual remontando um jornal de época, aproximando-se do tema.
CONTRAS: Com exceção dos rostos dos ciclistas e das cores dos uniformes, as ilustrações dos personagens são praticamente iguais.
(cartas em detalhe)
Ø Curva de Aprendizagem
Fácil. Flamme Rouge é um jogo fácil de ensinar e de jogar. O que aumenta a Curva de Aprendizado é o fato de ser difícil ler com maestria os outros jogadores, dando um ar de ‘aleatório’ ou ‘sorte’ muito maior do que, de fato, venha a ter em partidas com galera mais experiente.
Ø Presença de Tema
Alta. A arte e as miniaturas entregam bem o tema e uma vez que a proposta do jogo é ser familiar, é passível de entendimento o motivo de não se aprofundar em técnicas e características específicas do esporte. Mecanicamente o jogo ainda apresenta algumas relações básicas com o esporte, como a resistência do vento sofrida pelos ciclistas e o uso inteligente dos espaços da pista e o vácuo, entregando um pouco de tema até mesmo na mecânica. Uma curiosidade é o próprio título do jogo e que casa perfeitamente com o tema: Flamme rouge é um termo do ciclismo, com origem na França, ligado à bandeira vermelha que é usada durante a prova para designar o último quilômetro do percurso. Para melhorar a experiência, só colocando Ray Anthony para tocar enquanto joga!
(Ciclistas em detalhe)
Ø Rejogabilidade
Média. Após algumas partidas, elas podem acabar parecendo muito parecidas, principalmente pelo fato de as curvas da pista não terem nenhuma interferência mecânica, servindo apenas para que a pista caiba na mesa, ou seja, na prática a corrida é uma imenso reta. Contudo, as pistas apresentam variação de subidas e descidas que interferem diretamente com o funcionamento das cartas. Se o trajeto não é um ponto forte, por outro lado, os adversários são! A interação é a chave da Rejogabilidade de Flamme Rouge, pois as escolhas dos adversários a cada rodada podem (e vão) interferir de alguma forma com as escolhas das cartas de todos outros jogadores, de forma que um 6 vire um 5 ou até mesmo um 8! Essa interação e leitura dos adversários faz com que o jogo seja divertido e suscite nos jogadores uma vontade de sempre superar os adversários, fazendo com que partidas sejam jogadas umas atrás das outras, prova disso é a própria existência de um aplicativo auxiliar (falarei dele no final do texto).
Ø Interação
Alta. É neste quesito que o jogo se destaca, conseguindo fazer a interação acontecer sempre, de forma proposital ou sem querer, mesmo não gerando nenhum tipo de conflito direto. A quantidade de espaços que um jogador se move pela pista irá interagir com as escolhas dos outros jogadores, alterando de alguma forma o valor escolhido por eles, ajudando (gerando vácuo) ou atrapalhando (impedindo que ocupem o mesmo espaço ou os fazendo tomar vento na cara!). Em Flamme Rouge as cartas são bem balanceadas em relação ao tamanho da pista, de forma que os jogadores precisam sempre estar atentos ao que os adversários irão jogar, tentando prever como se aproveitar de vácuos e não tomar a frente do pelotão, para não ser punido com cartas baixas, que representam o impacto do vento. Jogar de forma desleixada, sem se preocupar com os adversários irá levar alguém para vitória? Acontece, mas tenha em mente que terá usado a sorte como rodinhas e o sabor do podium não será tão gostoso.

(Visão em primeira pessoa durante uma partida)
Ø Fator Sorte
Relevância na partida: Média. As cartas que queremos podem não aparecer em momentos oportunos, de forma que o jogador precisa ter em mente que algumas rodadas não sairão de acordo com os planos. Outro elemento, que não é exatamente sorte mas pode dar uma sensação de ‘Force Sua Sorte’, é o fato de que as ações dos outros jogadores impactam diretamente com seu desenvolvimento e nem sempre temos controle sobre isso, até por não sabermos o que se passa na astuta mente rival.
Ø Fator Estratégia
Relevância na partida: Média. Apesar da sorte presente na compra de cartas e estrategicamente o jogo não dar muitas escolhas a longo prazo além do óbvio, Flamme Rouge é um jogo altamente tático, onde cada rodada tem que ser pensada com calma, pois jogadas futuras irão ser impactadas por escolhas nas cartas feitas no presente. Saber ler a mesa e os adversários para saber quando avançar mais, quando segurar a pedalada, quando jogar cartas baixas para que altas voltem no futuro, quando jogar uma carta alta mesmo sob risco de levar vento e, principalmente, como fazer com que seus dois ciclistas andem em sinergia são elementos muito importantes para o sucesso na corrida. É comum ver um jogador se atrapalhando mesmo sozinho, ao não ter o cuidado necessário com seus dois ciclistas, onde o cenário perfeito seria que a cada nova rodada um deles gerasse vácuo para o outro e evitassem liderar pelotões, e saiba: Não é tão fácil fazer isso, tanto pela interferência dos outros ciclistas quanto mesmo pelas pequenas contas matemáticas (apesar de simples) que vão envolver esses movimentos. Dessa forma, a partida, mesmo se jogada ignorando os rivais, vai exigir um planejamento eficiente do próprio jogador ao lidar com dois ciclistas ao mesmo tempo.

(Organizador para guardar os ciclistas)
Ø BÔNUS: Algumas dúvidas corriqueiras:
- Dá para jogar com crianças? Sim. Como dito, o jogo é simples. Obviamente jogar com crianças menores irá remover a leitura de mesa e malícia, contudo o ato de escolher uma carta devido ao valor e se mover aquele número pela trilha é bem simples, logo, possível de jogar com crianças sem problemas.
- Funciona bem em qualquer número de jogadores? Por incrível que pareça, sim. Mesmo em dois jogadores o jogo funciona bem, devido ao fato de a pista ser estreita (apenas 2 casas de largura) aliado ao fato de cada jogador controlar uma dupla de ciclistas, fazendo parecer que o espaço esteja bem preenchido, passando uma sensação que estão quase sempre ombro-a-ombro. Existem inclusive algumas variantes, inclusive uma variante solo oficial, encontradas na internet para modificar a experiência para quem desejar, como agregar novos pilotos controlados por um automa. Um ponto negativo, porém, é que diferente da maioria dos jogos de corrida, Flamme Rouge não comporta mais do que quatro jogadores (até é possível fazer duplas e cada jogador controlar um ciclista, mas não é a mesma coisa).
- Sobre o aplicativo mencionado, do que se trata? Primeira consideração é: O aplicativo é incrível! Se você tem Flamme Rouge, baixe-o (é de graça). O aplicativo se chama Flamme Rouge Companion, e apesar de ter sido criado com consentimento do designer do jogo, ele não é oficial e endossado pela editora original do jogo, logo ele é gratuito e conta com doações. O aplicativo possui uma função de criação de pistas bem intuitiva, na qual elas podem ser salvas para uso posterior, mas o que realmente é bacana nele é o modo Grand Tour. Neste modo, o aplicativo controla os status dos jogadores ao terminar as corridas, inclusive gerando pontuação, tempo e controlando as cartas de exaustão que ficam acumuladas para uma próxima corrida do torneio. Flamme Rouge Companion é uma excelente ferramenta a ser adicionada para o jogo, principalmente se pretendem jogar torneios com a galera!
(4 telas distintas do aplicativo, cada uma com uma função)
Opinião Pessoal
“Este jogo possui uma característica um tanto rara para a proposta: Ser um jogo de corrida capaz de acomodar poucos jogadores sem que deixe de funcionar. Apesar de com mais pessoas o jogo se tornar mais apertado, e até divertido, em dois jogadores existe uma experiência bem bacana, quase de leitura do rival e blefe, que outros jogos de corrida não proporcionam sempre em poucos jogadores. Este ponto, crucial para mim que costumo jogar mais em dois jogadores, me fez ver em Flamme Rouge não apenas o jogo divertido e inteligente que é, mesmo em sua simplicidade, mas o colocou como um dos meus jogos preferidos de corrida!” (Raphael Gurian, pedalando somente via jogos de tabuleiro).
“
Flamme Rouge é um jogo com temática de corrida de bicicletas, que exige um nível moderado de estratégia por parte dos jogadores. Sua mecânica não o torna um jogo monótono e, ainda assim, nem o faz parecer que se deve correr contra o tempo para chegar ao final do trajeto. Durante a partida os jogadores tendem a manter suas passadas de forma equilibrada e mais bem planejadas a cada turno, conforme administram suas mãos de cartas. O jogo funciona muito bem tanto em dois jogadores quanto em mais. Para quem curte jogos competitivos e de partidas rápidas, esta é uma ótima opção..”
(Heloisa Fernandes, Lola_Fernandes, ...amou o título do jogo!)
Um texto de
Raphael Gurian
A ideia deste formato de análise não é explicar um jogo, para isso existem muitos outros textos, vídeos e etc. A finalidade do texto é fazer uma análise crítica acerca de critérios que acho importante e que muitas vezes acabam não sendo explorados em análises de uma forma mais detalhada. Os jogos analisados não seguem qualquer critério comercial, incentivo ou pagamento, sendo escolhidos com base em fontes de vozes da minha cabeça, aliado ao fato de ter já jogado o jogo em questão muitas vezes, a ponto de me sentir confortável em opinar sobre o mesmo.
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