(Análise) Grand Austria Hotel
Título: Grand Austria Hotel (2015)
Designer: Virginio Gigli, Simone Luciani
Arte: Klemens Franz
Editora nacional: PaperGames
Nº de jogadores: 2 a 4
Com uma qualidade incrível de produção e uma arte bem colorida e característica do ilustrador, Grand Austria Hotel é um eurogame italiano digno de estar na prateleira de qualquer amante do gênero.
Como Funciona
Em Grand Austria Hotel os jogadores alternam turnos ao longo de 7 rodadas para recepcionar hóspedes, os servir comidas, contratar funcionários, abrir novos quartos e alocar estes hóspedes. Em cada turno o jogador irá selecionar um dado e fazer a ação correspondente ao valor do dado, potencializando a ação pela quantidade de dados do mesmo valor ainda disponíveis, além de poderem fazer algumas ações extras não obrigatórias. A pontuação ocorre através de hóspedes alocados nos quartos, alguns objetivos gerais, habilidade de final de partida de funcionários contratados e devido a uma trilha (chamada de Trilha do Imperador, que também fornece alguns bônus ou penalidades ao longo da partida). No final da partida, ou seja, após a sétima rodada, quem tiver mais pontos vence!
Mecânicas Principais: Rolagem de dados, Seleção de dados, Coleção de Componentes.
Critérios
Ø Qualidade dos Componentes
PRÓS: Caixa de excelente gramatura; Cartas de excelente gramatura; Peças cartonadas e tabuleiros de excelente gramatura; Manual com folhas de excelente gramatura; Cubinhos e marcadores de madeira de excelente qualidade.
CONTRAS: Parte do manual que explica com mais detalhes habilidades das cartas só tem texto, ficando até difícil encontrar com facilidade exatamente o que buscamos; O manual em si é um tanto problemático, pois apesar de explicar tudo que precisa, ele é uma coleção de enormes blocos de texto, sendo bem fácil o leitor se perder ou então não conseguir achar com facilidade alguma informação mais específica quando necessário; O espaço destinado para marcação dos Kronen (a moeda do jogo) é bem apertado em relação ao marcador redondo utilizado, sendo fácil se perder a marcação, principalmente devido a pequenas pancadas acidentais na mesa – sinceramente aqui achei uma certa economia desnecessária na produção (apesar da excelente qualidade de todo resto), pois cada jogador não pode ter mais de $20, de tal forma que não seria preciso muitos marcadores para simbolizar a moeda.
((Quase) Todos Componentes do jogo)
Ø Arte
PRÓS: Um jogo com a clara assinatura de Klemens Franz na arte, com seus traços firmes, buscando um tom cartunesco e uma paleta de cores bem variada e vibrante, o jogo é bem colorido, chamando a atenção de quem passa pela mesa; Iconografia de entendimento relativamente fácil, salvo um ou outro símbolo que aparece de forma rara; O cuidado com os personagens, os fazendo serem diferentes entre si e até mesmo com algumas participações ilustres do mundo dos jogos de tabuleiro (com maior destaque para a própria escola italiana); O tabuleiro central, onde os dados ficam até serem selecionados, é rico em detalhes e cada coluna expressa bem a ação respectiva do dado.
CONTRAS: Apesar do elogio no uso das cores, o jogo tem cor até demais, destoando um pouco com um ar de elegância e refinamento que o tema traz; Os nomes dos funcionários possuem uma leitura bem ruim devido ao tamanho muito pequeno e a fonte manuscrita que escolheram usar.
(Cartas de Hóspede em detalhe)

(Cartas de Funcionários em detalhe. (‘Tá conseguindo ler bem o nome deles na prancheta? Nem eu.’))
Ø Curva de Aprendizagem
Média. Em termos gerais, o jogo não é difícil: Na sua vez, escolha um dado e faça o que ele faz. Fácil, né? Sim. A coisa começa a complicar devido a pequenas regrinhas fáceis de se esquecer e, principalmente pela curva em entender a necessidade de cada elemento dentro da partida. Qual o momento certo de abrir novos quartos? E de pegar novos hóspedes? Quando vale pegar um hóspede curinga (verde) que gere menos recompensa? É bom estocar comida agora que tem bastante disponível? E esses objetivos, dá para seguir todos? Essa trilha de penalidade, consigo abrir mão dela? E os funcionários... eles não parecem lá tão úteis, e são tão caros... Vale a pena baixar agora? Todas essas perguntas geram desdobramentos práticos durante a partida, de tal forma que jogadores iniciais irão jogar algumas partidas até entenderem bem como as opções do que fazer se conversam e convergem em nuances que podem fazer toda diferença algumas rodadas mais para frente. Grand Austria Hotel, apesar disso, não é um jogo nível hardcore, porém, dentre as opções que não entram na lista dos ‘Pesadões’, ele certamente está entre os mais complexos, principalmente se (erroneamente) lermos sua vibe colorida e tema regado à vinho e strudel como sendo um jogo amigável para iniciantes.
(Mesa durante uma partida (com apenas um tabuleiro de jogador))
Ø Presença de Tema
Alta. Realmente precisamos gerenciar um hotelzinho, com um bar-café pequeno utilizado estrategicamente para encher a barriga dos hóspedes (e bolso dos donos do hotel) enquanto as acomodações são preparadas. Tudo nesse jogo entrega bem o tema: A sensação de captar os melhores hóspedes, mais eficientes colaboradores, precisar saber o tempo correto do serviço de mesa, gerir bem nossa grana e ainda tomar cuidado com os olhos exigentes do Imperador.
(Tabuleiro de seleção de dados. Entrega tema por ter arte, além de economizar custos ao não ter dados personalizados)
Ø Rejogabilidade
Alta. Além da mecânica de seleção de dados, que já entrega certa rejogabilidade pelo fato de sempre apresentar um novo quebra-cabeça a cada rodada, temos diversas cartas de objetivos diferentes (que são gerais, como corridas onde quanto antes fizer, mais pontua), cartas bem variadas de hóspedes e funcionários. Os tabuleiros de jogadores também apresentam diferentes layouts dos cômodos, aumentando o fator Rejogabilidade mais um pouquinho.

(Tabuleiros individuais com seus
layouts específicos (o outro lado é uniforme))
Ø Interação
Média. Apesar de não existir interação direta entre os jogadores, durante toda partida existirá um sentimento de tensão competitiva, seja para pegar hóspedes, correr atrás dos objetivos e mesmo na escolha dos dados – lugar onde os bloqueios acontecem com mais frequência (intencionais ou não).

(‘Tabuleiro central’ durante a partida. Bloqueios na compra de cartas e busca pelos objetivos)
Ø Fator Sorte
Relevância na partida: Baixa. Grand Austria Hotel é um jogo de seleção de dados, mas isso não significa que o jogo tem uma relevância de sorte que define vencedor. Os dados estão presentes como elemento de aleatoriedade nas oportunidades, algo que deve ser levado em conta na estratégia (longo prazo) e tática (curto prazo) dos jogadores. Saber quando pegar determinado dado e quando passar para forçar uma rerolagem é imprescindível para um bom jogador de Grand Austria Hotel. Existem ainda dois montes de cartas, um de Hóspedes e um de Funcionários, quem impactam pouco o desfecho do jogo também.
A única crítica ao Fator Sorte que faço é em relação ao monte de cartas dos Funcionários, onde os compramos sempre fechados e não de uma fila aberta, como os hóspedes. Se pelo lado do impacto da sorte isso pode ser negativo, pelo lado do tema é algo positivo, afinal a empresa não escolhe quais Currículos recebe, tendo que trabalhar com o que tem a sua disposição – diferente de clientes que estão em um hall de espera onde o maitre vai recepcionar quem é mais interessante para o estabelecimento (isso soa meio cruel, eu sei... mas é como funcionam alguns lugares que se veem elitizados, infelizmente, como é o caso do tema do jogo - Já explicando para não acharem que estou buscando treta à toa!).
Ø Fator Estratégia
Relevância na partida: Alta. Relevância tão alta como os critérios de exigência do Imperador. Durante a partida o jogador PRECISA saber o que vai fazer e colocar em prática seus planos com determinação, caso contrário ele irá ficar perdido em um nem-lá-nem-cá que fatalmente irá o colocar em uma situação ruim na trilha de pontuação. Existem alguns pontos de interesse que não podem ser negligenciados para se obter uma boa pontuação como: A. Estar atento à Trilha do Imperador, pois ela pode dar uma boa quantia de pontos além de alguns bônus e penalidades que farão toda diferença entre jogadores; B. Analisar e ir em busca dos objetivos desde os primórdios da partida, uma vez que eles pontuam bastante; C. Saber valorizar seus funcionários, por mais caro que pareça ser baixa-los, eles tendem a dar habilidades, recursos ou pontos essenciais para que no final da partida, sinta que renderam até como se o jogador tivesse tido alguns turnos extras!
Todos estes elogios em relação a relevância do Fator Estratégia, contudo, apresenta dois pontos negativos. O primeiro é o fato de o jogo não ser muito amigável para iniciantes (mas isso se contorna com tempo de mesa, então jogue bastante!) e o segundo (que infelizmente não tem como mitigar de nenhuma forma* (note esse asterisco para o futuro)) é o fato do jogo apresenta um downtime (tempo de espera entre os turnos) gigantesco. Este downtime acontece na realidade por dois fatores: 1. A complexidade estratégica devido à grande gama de escolhas e seus desdobramentos, como já foi dito; 2. O formato da ordem de turnos, onde o último jogador a escolher o primeiro dado é o primeiro a escolher o segundo dado (ficando algo como 1º, 2º, 3º, 4º, 4º, 3º, 2º, 1º). Como cada jogador precisa analisar a devolutiva da jogada anterior para definir certinho o que fará, o tempo entre o 1º jogador jogar a primeira vez e depois jogar de novo é muito grande, exatos 6 ‘pensadas-e-jogadas-dos-outros e isso pode fazer a partida ficar arrastada e maçante dependendo do tempo de A.P. (Analysis Paralysis – o tempo que o jogador pensa e decide o que fará) da galera na mesa.

(Tudo na caixa. Aquele belo organizador genérico sendo a melhor solução!)
Ø BÔNUS: Algumas dúvidas corriqueiras:
- * Aquele asterisco: “Essa ordem de turno demorada estraga a experiência?” Sim, pode estragar, infelizmente. Se a galera na mesa demora muito para jogar ou o tempo disponível é curto, o jogo pode se tornar meio maçante e a galera ficar acelerando, algo que não acho legal. PORÉM existem alguns pontos IMPORTANTÍSSIMOS a serem levantados:
1. Esse impacto negativo não existe jogando em 2 jogadores, mesmo utilizando essa ordem 1º, 2º, 2º, 1º, já que o tempo de espera fica bem curto e em 2 o engajamento competitivo é geralmente mais acirrado, o que faz um jogador sempre prestar atenção exatamente no que o outro está fazendo;
2. O próprio designer Simone Luciani disse que a escolha de colocar essa ordem era devido a criar um bom balanceamento para o jogo. MAS DAI PELAS RECLAMAÇÕES ele mesmo forneceu uma variante oficial para mudar isso, onde os jogadores jogam em ordem horária (como a maioria dos jogos). Se tiver interesse de utiliza-la, basta procurar no portal BoardGameGeek que tem lá ou mesmo nos arquivos e fóruns aqui da Ludopedia!
- “Roda bem em qualquer quantidade de jogadores?” Tirando o problema citado acima, roda.
- “Tem variante solo?” Tem, mas feita por fãs. Na verdade, mais de uma, até mesmo cooperativa. Vale a pena dar uma procurada em arquivos e fóruns pela internet.
- “O jogo tem expansões?” Em 2021 está anunciada a primeira expansão, chamada ‘Let’s Waltz’ (‘Vamos Valsar’, em tradução livre). Ela irá trazer diversos módulos com novas mecânicas, novas áreas de interesse e mesmo novos recursos, além de um modo solo oficial. Como não tenho o jogo em mãos ainda (e ainda não foi oficialmente anunciado para o Brasil) não tenho como fazer considerações sobre o mesmo.
- “Tem coisinha 3D para comprar?” Tem, e muito legais. São basicamente os recursos que ao invés de cubinhos, são miniaturas do que representam (xícaras, pedaços de bolo e assim por diante). Único ponto é que a iconografia da carta ainda é um cubo, logo o que relaciona o recurso em 3D com a carta é a cor do cubo impresso na carta.
- “Organizador é essencial?” Essencial mesmo, nenhum nunca é, mas vai do tempo que a pessoa quer disponibilizar para organização. Em geral, a preparação de Grand Austria Hotel é rápida, mas ter um organizador ajuda mais ainda, principalmente tendo em mente que os cubos são bem pequenos e podem se perder no chão e pela mesa se apenas ficarem soltos sobre ela. Eu sempre recomendo o uso de organizadores (principalmente estes plásticos de lojas de utilidades, por serem baratos e leves).
Opinião Pessoal
“Um dos meus jogos preferidos da escola italiana, Grand Austria Hotel é prazeroso de ver e de jogar. Sua mecânica de seleção de dados é complementada por uma sensação satisfatória de tentar sempre gerir combos maiores em cada turno, ultrapassando a noção básica de apenas realizar a ação direta que o dado disponibiliza. Infelizmente não é um jogo tão acessível, o fazendo não ir para mesa tão cedo com jogadores iniciantes, porém quando vai é sucesso garantido! Em dois jogadores, inclusive, sempre termino a partida achando que poderia ser algumas rodadas mais longa!” (Raphael Gurian, O maitre de terno amarelo)
“Grand Austria Hotel é um jogo interessante em sua temática, no qual você deverá atender os pedidos de seus clientes no restaurante do hotel até que se satisfaçam e garantir que estes possam passar a noite em um quarto disponível. Apesar de possuir uma mecânica simples, o jogo funciona muito bem. Ele apresenta componentes como cartas, dados, recursos e tabuleiros principal e individual, e também possui um fator importante de sorte, que irá influenciar no sucesso de cada jogador, tanto no deck de cartas quanto na rolagem de dados, apesar de apresentar a possibilidade de rerrolagem para que os jogadores possam realizar as ações necessárias em seu turno. Outro detalhe é que seus tabuleiros individuais variam nas cores dos quartos, fazendo com que cada jogador crie sua própria estratégia a cada partida. Este é um jogo leve e divertido, que vale bastante a pena tê-lo na coleção.”
(Heloisa Fernandes, Lola_Fernandes, A chef de dólmã vermelho)
Um texto de
Raphael Gurian
A ideia deste formato de análise não é explicar um jogo, para isso existem muitos outros textos, vídeos e etc. A finalidade do texto é fazer uma análise crítica acerca de critérios que acho importante e que muitas vezes acabam não sendo explorados em análises de uma forma mais detalhada. Os jogos analisados não seguem qualquer critério comercial, incentivo ou pagamento, sendo escolhidos com base em fontes de vozes da minha cabeça, aliado ao fato de ter já jogado o jogo em questão muitas vezes, a ponto de me sentir confortável em opinar sobre o mesmo.
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