Olá, Estevão. É sempre muito bom tê-lo aqui em meio às discussões do canal, especialmente uma pauta tão séria como essa. Seja muito bem vindo.
Claro que você é mais do que qualificado para participar da discussão, você deu uma verdadeira aula aqui. Obrigado por compartilhar seus pensamentos conosco.
HU3Brutus::Primeiramente acho que podemos concordar que Puerto Rico é um jogão. Quem já jogou ao menos umas 10 partidas com gente experiente sabe o quanto o jogo é disputado e difícil de dominar.
Sim, inegável. Puerto Rico é um jogão. Já joguei bem mais do que 10 partidas e entendo o que você está falando. Estou longe de dominá-lo.
Um dia ainda vou fazer um review sobre o jogo como um todo, hoje o foco da discussão está na questão do racismo. Um dos melhores
guias estratégicos que eu já li sobre esse jogo se encontra nesse link (obs: texto em inglês). Recomendo muito a leitura para aqueles que querem melhorar no jogo.
Concordo com você, estrategicamente falando, é imprescindível algum grau de investimento na produção dos bens, esse é o núcleo estratégico do jogo.
Mais sobre isso no review do jogo propriamente dito.
HU3Brutus::Estou levantando essa questão, pois para mim é evidente que o jogo é de várias formas muito ligado à temática que remete. Não apenas no contexto de exploração de pessoas, mas de exploração social do trabalho e de recursos naturais, sugando qualquer forma de autonomia local. Esse é um regime de exploração generalizado e acho que Puerto Rico é muito feliz em conseguir absorver isso de forma tão realista, ainda que de forma um pouco abstrata.
Perfeito! Isso resume muito bem o que você passou com o panorama traçado ao longo do seu texto. Existe uma dívida histórica muito grande por parte das nações que hoje são consideradas "desenvolvidas".
HU3Brutus::Confesso que tenho um conflito interno que não sabe ponderar se o melhor é abolir um jogo de tabuleiro que toque na ferida expondo tanta exploração. Pintar um mundo colorido como se o passado fosse sempre uma aventura feliz não me parece algo muito saudável. Assim, me parece muito melhor que possam haver jogos que como Puerto Rico possam ser pontos de partida para que essas questões muito importantes sejam discutidas socialmente.
Não, isolar-se em um castelinho de cristal, pintar um mundo cor de rosa e fingir que está tudo bem nunca resolve nada. Jogos como Puerto Rico são necessários. Como você colocou muito bem anteriormente, Puerto Rico é bem sucedido ao conseguir retratar isso, mesmo que de forma abstrata. Graças a esse jogo estamos desenvolvendo essa discussão aqui.
HU3Brutus::Acho engraçado que é possível fazer um filme ou documentário contando as agruras do nazismo, do apartheid e de diversos outros eventos doloridos da história e eles podem ser considerados críticos, mas a existência de jogos de tabuleiro com temas delicados seja tão criticada. Acho que a experiência alemã com o nazismo mostrou para eles a necessidade de manter a ferida aberta para que aquele contexto não se repita. Nas escolas alemães esse tema é constantemente recuperado e inclusive nos brindou com uma bela obra como o filme "A Onda" que em sua primeira versão foi feito para ter 50 min e ser exibido como parte da aula nas escolas.
Excelente referência com o filme "A Onda". As feridas são registros, lições justamente para que novas feridas não apareçam. Ainda temos muito o que amadurecer nesse aspecto, mas chegaremos lá. As respostas solidárias que vejo aqui renovam a minha esperança na humanidade.
HU3Brutus::Enfim, é dificil saber se Puerto Rico foi feito com a intenção de expor a escravidão como modelo ou se é apenas um documento histórico bastante preciso. Não tenho noção se o designer já se pronunciou a respeito, mas sabendo que a obra sempre supera o artista, creio que independente da sua intenção, Puero Rico continua sendo mecanicamente um dos jogos mais bem feitos da história, uma bela implementação da temática de um período histórico e o perfeito jogo para mantermos essa história sendo contada e criticada, de modo que essas ideias de supremacia e exploração nunca mais se repitam.
Um abraço,
Verdade, também não sei dizer se o designer tinha isso tudo em mente quando projetou o jogo, mas seu apontamento é certeiro, "a obra sempre supera o artista". Puerto Rico possui um valor que vai além de um design bem feito em termos de jogos de tabuleiro. Que esse valor seja apreciado de forma devida para que não reproduzamos na prática o que ali está simulado.
Forte abraço.