Rock’n Roll Manager – It’s Only Boardgame (but I like it)
Título: Rock’n Roll Manager (2016)
Designer: Leandro Pires
Arte: Roe Mesquita; Henry Chen
Editora nacional: Conclave
Nº de jogadores: 2 a 5
Em Rock’n Roll Manager cada jogador representa o empresário de uma banda de rock, tendo que gerenciá-la em busca de se tornar a banda mais cultuada de sua geração. O jogo possui regras simples e um tema agradável e fora do convencional universo geek ou eurogame, tornando Rock’n Roll Manager uma excelente opção para jogadores iniciantes ou casuais.
Apesar do título em inglês, vale salientar que o jogo é nacional (designer e produção brasileiros). Então coloca aquele Elvis ou Raul para tocar e me acompanhem!
Critérios
Ø Arte
A arte do jogo, no geral, é muito boa. O jogo apresenta uma paleta de cores colorida e viva, o que atrai a atenção do jogo montado na mesa, ao mesmo tempo que consegue não seguir vertentes específicas dentro do universo musical (o que poderia ter acontecido, por exemplo, ao usar tons mais escuros, criando um ar sério ou macabro, para se aproximar de um estilo mais gótico ou pesado). A arte da caixa é bem bonita, privilegiando tons de azul escuro e cinzas, mostrando um palco composto por enormes (mesmo!) caixas de som, a plateia vibrando e a ilustração, levemente caricata mas bem fiel e facilmente reconhecível, de grandes nomes do universo do rock como Freddie Mercury (vocalista da banda Queen), Gene Simmons (baixista e vocalista da banda Kiss), entre outros. Ao longo do manual, assim como em alguns componentes do jogo, como o tabuleiro individual de jogador, temos a ilustração destes famosos artistas novamente.
Em relação à arte presente nos componentes, temos o desenho da silhueta de instrumentos musicais e iconografias, tudo facilmente identificável. O jogo é praticamente independente de idioma, salvo o tabuleiro que possui algumas palavras para identificar os locais de alocação. Falando sobre o tabuleiro, apesar de possuir uma bela montagem como imagem de fundo, ela fica praticamente escondida atrás das informações, cartas e marcadores, de tal forma que não tem quase destaque. Na minha opinião, o designer e os ilustradores perderam uma boa chance de criar algo que aproximasse o layout e arte do tabuleiro ao tema, como um “mapa” ou mesmo “planilhas de gerenciamento”.
[Ilustrações presentes no tabuleiro individual e no manual. Sensacionais!]
Ø Qualidade dos Componentes
O jogo possui muitos elementos, e em suma, todos de boa qualidade. Os marcadores e tabuleiros possuem uma boa gramatura, assim como as cartas com exceção de um elemento que serve como guia de preço do local ‘Loja’, que é um papelão colorido, mas bem fininho. Os marcadores dos jogadores (discos, cubinhos e peões), por outro lado, são daquele plástico meio translúcido que lembra uma bala de goma. Este fato não afeta em nada, porém algumas pessoas não gostam muito destes marcadores, para mim, o único problema deles consiste na coloração dos peões de jogador preto e do azul, que se o ambiente é pouco iluminado, podem ser facilmente confundidos entre si.
Dois elementos que chamam a atenção em Rock’n Roll Manager são os marcadores de dinheiro, que são no formato de palhetas (aquelas peças pequenas em formato triangular que músicos usam para tocar instrumentos de cordas, como guitarras e violões), e os marcadores de jogador que servem como “peões”, que são mãozinhas em riste com os dedos indicador e mínimo levantados, fazendo o icônico símbolo da mão chifrada (em português mais claro: Fazendo chifrinhos!), gesto introduzido no universo do rock pelo lendário vocalista Ronnie James Dio (ou só ‘Dio’ para os íntimos).
Porém nem tudo é elogio. O jogo apresenta uma carta com erro, onde os ícones foram duplicados de outra carta já existente, o que faz com que as pessoas imprimam a versão correta e façam um paste-up (que é quando colocamos um papel impresso junto à carta, dentro do sleeve (aqueles plastiquinhos que servem para proteger as cartas)), o ruim disso é que durante o jogo em si não ficamos com as cartas na mão, logo se não fosse por este detalhe, não haveria real necessidade do uso dos sleeves (protetores de cartas). Outra coisa que pode incomodar um pouco é o pouco espaço existente nas trilhas “Talento” e “Hit Parade”, que obrigam marcadores ficarem apertados uns sobre os outros, dificultando um pouco a visualização.
O manual possui uma boa qualidade de impressão, porém muito texto, blocos e blocos de texto, junto de pouquíssimos exemplos e ilustrações, o que pode dificultar a vida de novos jogadores. Por fim, a caixa, é de uma qualidade boa, relativamente grossa e com um acabamento fosco, nada a se reclamar.
[Componentes de jogador, com destaque nas icônicas mãozinhas chifradas]
Ø Curva de Aprendizagem
Rock’n Roll Manager apresenta regras fáceis e bem amarradas, o que o torna um jogo de aprendizagem fácil. Ao longo da partida, raríssimas vezes vi gente com dúvidas, pois as ações são bem sinalizadas no tabuleiro.
A dificuldade, portanto, está em superar seus adversários e aprender a decidir quais melhores momentos para ocupar os espaços de ação, pois o jogo é bem apertado neste sentido. São poucas ações e resolvidas após todos terem alocados seus peões em uma ordem específica, o que gera muitos bloqueios (e muitas vezes não intencionais).
Ø Presença de Tema
É impossível colocar o jogo na mesa e o assunto “música e rock” não surgir na conversa. Primeiro que temos os componentes que esbanjam apelo ao tema, como o dinheiro em forma de palheta, as mãozinhas chifradas dos peões e mesmo os tabuleiros individuais, com a ilustração de um artista famoso e sua respectiva banda, que tem seus nomes alterados, o que dá uma bela animada na mesa, como Gun’s and Roses que vira Sword’s and Daisies (que traduzindo de forma livre, de ‘Pistolas e Rosas’ vira ‘Espadas e Margaridas’) ou Queen que vira King (‘Rainha’ e ‘Rei’, respectivamente), entre outras.
Mecanicamente, a música fica de fora, pois como somos empresários, gerentes da banda, e não membros da banda em si, vamos sentir a parte administrativa, onde iremos na loja adquirir novos instrumentos, ir no estúdio para lançar um novo disco ou colocar nosso peão roqueiro em um espaço que simboliza um show realizado. Logo, na prática mesmo, excluindo-se o bom trabalho feito com a arte, Rock’n Roll Manager não aborda tanto o tema de música ou rock em si, apenas o gerenciamento da banda, porém ainda assim de forma bem superficial uma vez que o jogo é leve e as escolhas não possuem uma profundidade administrativa ou econômica. Contudo, apesar de isso soar como uma crítica (e é um pouco), como o jogo se enquadra como do tipo ‘leve’, devemos reconhecer que uma abordagem mais profunda e pesada do tema de administração iria distanciá-lo do seu propósito.
Ø Rejogabilidade
Rock’n Roll Manager possui alguns elementos que trazem uma certa rejogabilidade, como diferentes objetivos a serem seguidos ou a ordem em que itens aparecem na loja. Algo interessante de Rock’n Roll Manager e, particularmente, acho legal em jogos que conseguem este feito, é que conforme as pessoas vão se familiarizando com o jogo tendem a ser mais agressivas, fazendo bloqueios intencionais e cometendo menos erros, aumentando assim a interação proposital entre jogadores e dificuldade de se vencer a partida. Além disso, o jogo possui oficialmente uma variante no manual que o deixa levemente mais difícil, pois altera a ordem de uma resolução na fase de pagamentos, o que pode ser uma alteração interessante quando a mesa estiver bem familiarizada com o jogo (para não ser punitivo demais).
Uma coisa que pode causar certa tristezinha, um “- Poxa vida” em algumas pessoas, é o fato do jogo possuir apenas cinco bandas, logo aquele cara que é mega fã de uma determinada banda e ela não está em jogo pode soltar um “- ...Tá bom, vai essa aqui então”. Na minha opinião, o jogo poderia ter vindo com uma maior quantidade de bandas (claro, estou falando desconsiderando qualquer relevância nos custos de produção) e talvez com algum diferencial maior entre elas, além (ou, ao invés) de apenas algumas fichas de instrumentos diferentes já impressas no tabuleiro de cada uma.
Ø Interação
Rock’n Roll Manager é um jogo de alocação de trabalhadores, logo toda interação se dá de forma indireta, porém de diversas formas diferentes: Na alocação, tanto no local onde se coloca o peão como na ordem que se coloca; Na realização dos objetivos, que só podem ser realizados uma única vez, e pelo jogador que primeiro cumpriu; Em uma espécie de corrida pela maior quantidade de determinados instrumentos musicais (Festivais), que ocorre apenas em algumas rodadas; e na pontuação final, que gera alguns bônus de acordo com alguns critérios (quem tem mais dinheiro, por exemplo).
O jogo, por possuir uma fase de resolução onde os locais são resolvidos em ordem, seguindo a ordem de leitura (esquerda para direita), existem muitos bloqueios, mesmo não intencionais, onde o jogador coloca seu peão por ser sua melhor ação e não para prejudicar o adversário.
[Tabuleiro com todos componentes montado na mesa (4 jogadores)]
Ø Fator Sorte
Temos em Rock’n Roll Manager pouca influência de sorte, onde ela está presente apenas na revelação de algumas cartas e nos instrumentos que entram no mercado, porém como estes elementos surgem antes dos jogadores tomarem suas decisões, o ‘azar’ quase não impacta os jogadores (salvo ele precise MUITO de determinado instrumento e ele não esteja disponível).
Ø Fator Estratégia
Apesar de ser um jogo leve, Rock’n Roll Manager exige que os jogadores pensem bem e saibam o que estão fazendo. Jogar apenas colocando seus peões em locais sem pensar direito irá fazer com que suas ações não sejam otimizadas, algo bem penoso e que certamente deixará o jogador para trás no placar. Um elemento interessante que o jogo traz é que dependendo de sua pontuação na trilha de pontos, você tem um custo a pagar entre as rodadas (que seria, tematicamente, o custo de manutenção da banda, onde quanto mais famosa, maiores os gastos), este simples elemento dá um balanceamento legal ao jogo, pois quem está na frente precisa se planejar financeiramente melhor, caso contrário no final das rodadas irá sofrer as consequências de sua má administração, perdendo pontos (ainda mais pelo fato da pontuação final do jogo costumar ser bem apertada, com poucos pontos de diferença entre os jogadores).
O jogo traz, como já foi mencionado, cinco bandas diferentes, onde cada uma delas inicia com um marcador de instrumento de um tipo diferente a mais do que as demais bandas. Isto é interessante, pois cria uma pequena diferença entre os jogadores, porém ocasiona um pequeno problema: Alguns objetivos estão ligados diretamente à quantidade desses marcadores, logo uma banda que, por exemplo, comece com uma guitarra a mais, terá vantagem sobre as demais bandas caso o objetivo “ter os cinco níveis de guitarra” (ou ‘Guitarrista nível 5’, conforme o manual) estiver em jogo. Dessa forma, aprecio a assimetria inicial dos instrumentos, porém acredito que elas deveriam ser selecionadas de alguma forma pelos jogadores no início da partida, com formas de mitigar esta seleção de acordo com os objetivos abertos. Apesar desta crítica, o jogo é altamente estratégico, exigindo planejamento adequado a longo prazo pra se cumprir os objetivos e vencer os festivais (ambos fazem muita diferença na pontuação final), assim como altamente tático, fazendo o jogador escolher as alocações de acordo com o que os outros jogadores estão fazendo, para não levar bloqueios indesejados.
Opinião Pessoal
“Existem alguns jogos que se vendem pelo tema, principalmente se feitos focando um público mais casual. Alguns destes jogos se saem bem, outros nem tanto. Rock’n Roll Manager com certeza é do primeiro tipo: É um jogo com um tema super atraente, uma produção bacana e uma dinâmica mecânica de jogo muito boa, que mesmo jogadores iniciantes irão conseguir entender o jogo e montar táticas sem muita dificuldade. O tema sozinho já é um belo diferencial e pelo tempo de jogo ser curto, não passando de uma hora (quando já o conhecem), Rock’n Roll Manager acaba vendo bastante mesa.” (Raphael Gurian, gerenciando a australiana AB/CD, a banda amarela)
“Rock'n Roll Manager é um jogo de uma mecânica simples com alocação de trabalhadores e funciona muito bem com o tema. De uma forma bastante estratégica, o jogador terá que alavancar a carreira de sua banda escolhida através de ensaios, lançamento de álbuns, shows e festivais para garantir que permaneça na parada de sucesso o máximo de tempo possível. Seus músicos deverão aperfeiçoar suas técnicas musicais para atingir objetivos e conseguir mais pontos. A sorte estará presente somente na colocação randomizada das cartas de festivais e shows e nas peças de instrumentos dispostas na loja. Porém não deve esquecer que só há espaço para uma única banda no topo do sucesso, então não se surpreenda se bloquear a banda concorrente ou for bloqueado também, diversas vezes durante a partida. Os marcadores de mãozinhas e a arte possuem uma ótima qualidade, dando mais orgulho ainda de saber que é um jogo nacional.” (Heloisa Fernandes - Lola_Fernandes, no comando da clássica londrina King, a banda vermelha).
Um texto de
Raphael Gurian
A ideia deste formato de análise não é explicar um jogo, para isso existem muitos outros textos, vídeos e etc. A finalidade do texto é fazer uma análise crítica acerca de critérios que acho importante e que muitas vezes acabam não sendo explorados em reviews de uma forma mais detalhada. Os jogos analisados não seguem qualquer critério comercial, incentivo ou pagamento, sendo escolhidos com base em fontes de vozes da minha cabeça, aliado ao fato de ter já jogado o jogo em questão muitas vezes, a ponto de me sentir confortável em opinar sobre o mesmo.
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