Jogando Solo: Digital > Analogico?
"Todo hobbysta, um dia experimenta o sabor do jogo solo."
** Texto no formato original em https://medium.com/spiel-des-djows/jogando-solo-digital-analogico-8ab98aa1179 **
Jogos de tabuleiro já se tornaram famosos no nosso Brasilsão, o preconceito em geral ja é até baixo, e os comentários do "É tipo War" nem são tão comuns. No entanto um preconceito ainda é recorrente: jogar solo. Principalmente em quem recém pisou no hobby, mas até os veteranos se enquadram aí… eu me enquadro aí. Me siga nesse raciocínio e veremos quem está no mesmo barco que eu.
Se for pra jogar solo, não deveria estar no meu videogame?
Minhas Experiências Solo
Tive apenas duas experiências, totalizando 5 partidas. 1 de
Suburbia e outras 4 de
Pax Pamir. Em ambos, a primeira partida foi para entender melhor as regras antes de por na mesa, não era motivado por:
"quero me divertir agora", e sim um investimento pra diversão que viria com os jogadores reais depois. Em ambos os jogos fiquei com a impressão de
"E não é que isso funciona razoavelmente bem?". Ao mesmo tempo em que era um sentimento positivo, de forma alguma era o suficiente pra eu me dizer:
"Mal posso esperar para chegar em casa e jogar uma partida sozinho hoje a noite". Longe disso.
Essas primeiras partidas só para "testar as regras" aconteceram a bastante tempo atrás, semestres atrás. Hoje, enquanto escrevo isso, estou com uma faringite bacteriana tensa e pensei:
"Vamos testar esse Pax Pamir solo agora que já joguei tanto com seres humanos e fazer um benchmark". Joguei duas partidas, na primeira rolou muito downtime para aprender a pilotar o
oponente automatizado, que é bem engenhoso.
O verso do deck do automa é usado em conjunto com as tomadas de decisão da carta atual.
Diferente do que foi relatado pelo @
red_djow no seu post do
Clãs de Caledonia o modo solo aqui não muda o "apelo do jogo original". O conhecimento adquirido contra jogadores reais, funciona da mesma forma aqui. O bot, chamado de
Wakhan, não acrescenta regras, apenas remove algumas para si, já que ele joga para todas as facções sempre e pode comprar e jogar carta em uma ação em vez de duas como um jogador normal. Isso o torna
bem forte, mas que na verdade serve para compensar
as cagadas que ele faz durante o jogo.
Sim, cagadas. É bem comum ver jogadas que você pensa:
"WTF? Pior escolha possível.". Pax Pamir coloca muita importância no timing, por ser um jogo majoritariamente tático, e não me parece plausível que se monte um fluxograma para representar as melhores escolhas sempre. Isso é compensado pelo fato dele fazer o dobro de ações por turno, mas ainda assim
de tempos em tempos ele faz jogadinhas louváveis que te deixam de cabelo em pé. O fato é que foi
divertido e desafiante, porém não muito para eu
querer repetir a experiência.
Pergunto a vocês leitores se o "Bot Meio Burro + Vantagens" é o design padrão de bots de modo solo, afinal de conta, é um jogo analógico e não algo digital com IA elaborada.
E ai entra o grande ponto:
jogos digitais.
Digital VS Analógico: Solando os Temáticos
Primeiramente: tudo é comparável. Doa a quem doer. Eu prefiro Laranjas à Bananas, não importa se é uma comparação de medidas destoantes. Tudo é comparável já que invariavelmente você fará uma escolha entre coisas distintas.
Partindo dessa premissa,
eu digo que não curto
jogos digitais cujo o objetivo é apenas aumentar score, como
Tetris, ou conseguir chegar mais longe com desafio crescente, como Shoot ’em ups que nem
Metal Slug. Hoje em dia só consigo dedicar tempo para jogos
solo "arte", como
Limbo, ou então jogos cuja a narrativa seja o cerne como a série
Uncharted ou
The Witcher. Quero viver o máximo possível de
imersão.
Metal Slug, reconheço os méritos mas não me vejo passando horas jogando ele.
Eu (ênfase em mim) não acredito que um ambiente não automatizado (a.k.a Jogo de Tabuleiro), favoreça a imersão temática, diferentemente de um
Jogo Digital que pode fazer isso. O digital, consegue dar tantos elementos: música, voice over, aleatoriedade e
principalmente abstração. Já que é uma quebra de flow, ter que parar para consultar regras, e elas certamente serão consultadas, o que diminuí a imersão, e isso no momento X, é como se no clímax de um filme algum parente começasse a falar com você. E piora: nas partidas subsequentes, você já terá spoilers da narrativa.
E ai você pergunta:
"Mas Israel, Suburbia não é um jogo de narrativa e Pax Pamir até é, mas não é bem o foco". Realmente, jogando o solo do
Pax Pamir eu ignorei completamente o tema durante a partida. E olha que tem muito
Flavor Text nas cartas, como por exemplo essa:
Enquanto viajava na Asia disfarçado, Pottinger encontrou a cidade de Herat (um dos locais do jogo) em cerco por forças Persas. Ele então se revelou para o comandante local e ajudou as forças Afegãs a derrotar os Persas […] — Minha tradução.
Uma bela história que passa batida e daria uma grande cena de filme e/ou jogo digital.
Na hora que eu, sozinho, coloquei essa carta em jogo, ignorei completamente o tema, mesmo lendo o
flavor text. Esse plot poderia ser muito bem representado numa partida de RPG, já que o aspecto mecânico é muito mais flexível. Além disso, a atuação do Mestre e Jogadores pode fazer que a imersão seja muito maior que qualquer obra digital. Porém, aqui na minha partida solo foi
irrelevante.
"Mas, Israel, isso é culpa do Pamir que claramente não implementa o aspecto temático tão bem, já jogou Eldritch Horror, Robinson Crusoé ou Fire Team Zero"? —
Leitor inconformado.
Já joguei todos esses. Não solo no entanto e não vou entrar no mérito do meu desgosto por jogos co-op, mas
não vejo como a versão solitária poderia ter sido melhor, os problemas de imersão ainda seriam os mesmos…
eu imagino. E sim,
estou falando sem ter experimentado. Posso estar me equivocando aqui? Pergunto à vocês solo players, é possível achar uma versão solo melhor do que co-op, mesmo com um grupo/jogador bem calibradinho? Ainda
tenho esperança? O que indicam?
Digital Vs Análogico: Solando os "Euros"
E quando vamos para o
solo de jogos mais
mecânicos por assim dizer, como o próprio
Suburbia? Qual o seu lugar?
Para mim realmente é apenas para o
aprendizado e/ou para
fazer uma sessão de degustação de game design. Não consigo me ver "ansioso" para jogar uma partidinha solo, como aparentemente é o caso de algumas pessoas. E fora esses dois casos, me parece ainda que no caso de alguém que "genuinamente se diverte" com o Solo, se houvesse uma versão digital, seria
só melhor a versão digital. Sem setup, sem armazenamento, você já sabe as regras, só quer experimentar o design. Se as versões digitais dos meus jogos favoritos como
Castles of Burgundy, tivessem versão solo, e eu gostasse de jogar solo, ainda assim me pareceria melhor jogar no digital mesmo. Tema já não tem, você quer só a mecânica, sem upkeep, sem setup. Por que querer algo diferente?
Existe algum outro motivo que não o
“Se desconectar um pouco da tecnologia” para preferir o
modo solo? Existe algum benefício mais palpável disso? Ou seria o mesmo argumento do
Livro Digital VS Analógico: saudosismo e fetiches por cheiro de papel/papelão novo? Um ponto evidente é que, alguns jogos não possuem correspondência
exata no meio digital, então acaba se tornando o único lugar para degustar aquele design. Minha dúvida é mais na linha de: entre jogar
Suburbia solo, não seria melhor ir jogar
Sim City no PC, que apesar de diferente
tende a dar o mesmo feeling?
Claro que gosto é algo inerentemente pessoal, mas é interessante tentar comparar. Fica minha pergunta: quem
gosta de imersão temática,
não gosta de spoiler,
e não vê filme repetido tem espaço para curtir algum jogo solo? Existe algum erro muito grande que estou cometendo, ou realmente não é pra mim? Como você se inseriu no mundo solo? Comente, seja respeitoso e vamos discutir isso.