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Sobrevivendo em City of Horror
Redator: Daniel Portugal
Achei que estaríamos seguros na cidade, pelo menos por um tempo, porém os mortos estão sempre famintos e dispostos a voltar. E numa noite, eles chegaram em bandos, não havia como detê-los, mortes espalhadas por todo lado, saqueadores aproveitavam, nós nos agarrávamos a tudo que pudéssemos usar como arma. A ambulância ficou presa num difícil acesso e o caminhão com suprimentos capotou. Num último suspiro de esperança, um agente federal pede por socorro e o resgate por helicóptero virá em quatro horas. Estamos cercados e com medo!
Quando olho para meus companheiros, um olhar suspeito, percebo o modo como seguramos nossas armas e me questiono se o perigo não é maior ainda!
Este é o cenário de City of Horror, um jogo de sobrevivência e negociação, de 3 a 6 jogadores, repleto de zumbis, lançado pela Repos Production em 2012, do designer Nicolas Normandon.
Pedaços pra todo lado
Pela cidade, há 7 locais utilizados como esconderijos adaptados, precários e sem espaço suficiente para todos.
A caixa d’água com a vantagem de avistar primeiro quem chega de longe, mas é fácil de ficar encurralado;
A igreja, onde uma prece é bem-vinda e as grossas portas podem contê-los o tempo necessário para recuperar o fôlego;
O arsenal, para negociar armas e estratégias de ataque;
O banco, embora dinheiro não vá servir para nada, é um ponto seguro;
O hospital, onde é possível conseguir o antídoto e aumentar as chances de ser aceito e resgatado;
A encruzilhada: o pior lugar. Talvez você até encontre um pouco de comida, mas recheada de zumbis.
Mas eu devo ficar simplesmente imóvel esperando a morte chegar?
Em City of Horror, todos controlam personagens enfrentando uma invasão de zumbis. Quanto maior o número de jogadores, menor a quantidade de personagens e cartas de ação iniciais.
Não, o jogo não é cooperativo, embora, em alguns momentos, seja necessário fazer alianças, para desfazê-las num momento seguinte, traindo seus companheiros. Às vezes, a única saída é empurrar o adversário na direção dos zumbis e fugir, torcendo para que apenas uma morte seja o suficiente.
A cada hora/turno, os zumbis chegam através de cartas de invasão que determinam onde surgirão. Já os personagens se movem pelos 7 lugares do tabuleiro e finalmente cada local é resolvido.
Resistindo à investida dos zumbis, ao final dos quatro turnos, os jogadores somam os pontos de seus personagens vivos, além de verificar a comida acumulada, bem como o antídoto (pelo menos um por personagem garante acesso ao helicóptero).
Em seis momentos sua vida pode chegar ao fim
Um turno de City of Horror é formado por 6 fases:
Fase 1. Observação/Caixa d’água: “daqui de cima, vejo além do alcance”. Somente os jogadores que possuem personagens nesse local, poderão ter acesso prévio à carta de invasão, sabendo antecipadamente que locais os zumbis ocuparão nesse turno.
Fase 2. Escolha da carta de movimento: “pedra que rola não cria limo”. Essa carta será usada na fase 4.
Fase 3. Invasão: “bons sonhos são feitos disso”. Grupos de zumbis concentram-se à entrada dos diferentes locais, grunhindo, arranhando e forçando a passagem.
Fase 4. Movimento do personagem: “corre, galera!”. Nenhum lugar é seguro, os jogadores precisam mover UM de seus personagens. Porém, isso obedece à ordem do turno, se escolher um local que esteja lotado, você irá direto para a encruzilhada. E acredite em mim... você não vai querer estar lá!
Fase 5. Resolução do local: “Amigo é coisa pra se guardar debaixo de sete palmos”. Aqui está realmente toda a diversão! (veja logo a seguir)
Fase 6. Mudar o primeiro jogador
OK! Eles vão entrar no local onde estamos, o que faremos?
Calma, muita calma, vamos seguir o regulamento!
1º Ativação do local: os personagens confinados em cada local usufruem de seus efeitos. Por exemplo, é possível trocar cartas, receber antídotos, recuperar um personagem, achar comida, etc.
2º Ataque zumbi: em cada local do tabuleiro é preciso haver uma quantidade mínima de zumbis para que eles consigam invadir e matar um personagem. Pobrezinho! Porém, é nesse momento em que os jogadores podem (e devem) discutir à vontade para decidir o que fazer. O mais corriqueiro é usarem cartas que matam zumbis, reduzindo assim a quantidade e impedindo a invasão. Uma sobrevida!
É nesse ponto que o jogo mostra todo seu potencial: não é obrigado matar zumbis, as cartas são valiosas, uma vez gastas, é difícil recuperá-las. Começa um jogo de empurra-empurra, discussão sobre quem deveria agir, reclamações, acusações, complôs são formados, ameaças, dedo na cara. Quando um jogador age e extermina os zumbis, com certeza o fará para salvar a própria pele, do contrário sofreria consequências danosas.
Por outro lado, se ninguém matar os zumbis, eles invadem o local e famintos irão devorar um dos personagens. Nesse momento, não há volta, os jogadores que possuem personagens ali devem votar, apontando, todos ao mesmo tempo, para quem deve morrer. É triste, eu sei!
Todos os jogadores que têm direito a voto erguem suas mãos. Os jogadores contam 1, 2, 3 em voz alta e no 3 devem apontar para um jogador.
Antes dessa fatídica votação, mais conversas e promessas sobre intenção do voto. Sangue nos olhos, persuasão e em poucos instantes: traição. Aquele que prometeu votar em X acaba mudando de opinião na última hora e vota em Y. O personagem mais votado morre, se houver empate, o jogador inicial deverá decidir. Mais uma coisa a se considerar: bajulação.
3º Por último, os espólios. Se houver cartas ou antídotos no local que está sendo resolvido, ocorre mais uma votação da forma citada anteriormente, para decidir quem deverá distribuir os itens (podendo ficar apenas com 1 item, tendo que repassar os demais).
Facada nas costas
Ao melhor estilo The Walking Dead, os zumbis são perigosos sim, entretanto, as pessoas são mais. Todo tipo de negociação é livre. Diversos acordos e juramentos são feitos, mas NADA DISSO, mas NADA MESMO, precisa ser cumprido. Então, em certa ocasião é comum você ajudar um adversário, pensando em algum ganho futuro e quando chega a hora de obter o mesmo auxílio, ele simplesmente dá as costas e não move uma palha (ou melhor, uma carta).
“Não contavam com minha astúcia”
Basicamente, há três maneiras para lidar com os zumbis:
I. Passar despercebido: saber se deslocar pelos locais, mantendo-se, a cada novo turno, em locais propícios e de fácil eliminação dos zumbis.
II. Cartas de ação: essas cartas servem para matar zumbis, para ficar invisível, ter voto dobrado, impedir movimento, deslocar zumbis de um local para outro, criar espaços extras num local já lotado, etc. São muito importantes, é bom economizar.
III. Poder dos personagens: todos os personagens possuem dois lados. Do lado “descansado”, significa que seu poder ainda não foi usado e ao chegar com um personagem ao final do jogo sem usar seu poder, ele valerá mais pontos. Já do outro lado, significa que esse personagem foi gasto e consequentemente seu poder foi utilizado, ele valerá menos pontos no final do jogo. É possível recuperá-lo com certas cartas e locais.
Aparece cada tipo!
Existem 21 personagens no jogo, eis alguns em destaque:
A mulher grávida: quando usada, ela dá à luz e passa a ter dois votos durante qualquer votação. Obviamente, ele não pode retornar para seu estado prévio de grávida.
A loira escandalosa: sem parar de gritar atrai mais e mais zumbis.
O vovô e a vovó: casalzinho difícil de lidar. Ele não vota e ela não se move, porém valem bons pontos se chegarem vivos ao final.
O garotinho e garotinha: eles são pequeninos, fácil para se esconderem e ficarem invisíveis.
O guarda e seu cachorro Rex: eficientes, matam com um só golpe dois zumbis.
O ladrão: rouba uma carta de ação de outro jogador.
Aqui a gente adora
O sacrifício é grande. Embora o jogo não seja de grande complexidade, você termina uma partida bem desgastado, porque do início ao fim será preciso negociar, os ânimos se alteram e o falatório constante pode conduzir a berros. Tudo amistoso, é claro!
Para jogar City of Horror na sua plenitude é preciso entrar no clima, tanto diante dos zumbis que se aproximam e clamam por sua carne, como participar ativamente das discussões e conflitos que surgem durante a partida. A todo instante é preciso gesticular, chamar a atenção do adversário, fazer carinha de anjo e dissimular.
Alguns dependem da boa oratória ao explicar porque devem ser salvos em determinado momento, verdadeiras teses de sobrevivência. Se você for daqueles mais bonzinhos ao ponto de cair nessa conversa fiada, com certeza, não irá durar muito.
E aí? Que me diz? Você tem sangue frio ou quente? Você busca a sobrevivência custe o que custar? Adora toda essa confusão? Então City of Horror é pra você!
“Ouço o barulho do helicóptero, me ajude a subir que depois eu te ajudo, eu prometo...”