Rajas of the Ganges foi recentemente anunciado no Brasil pela Devir e isso foi bastante comemorado. Não à toa: o jogo realmente despertou muita atenção dos jogadores desde que foi anunciado. O jogo do casal Inka e Markus Brand, designers do vencedor do Kennerspiel des Jahres do ano passado — os jogos da série Exit — , e também de jogos como Village e Murano. A arte do jogo ficou por conta de Dennis Lohausen, mesmo artista de Terra Mystica e As Viagens de Marco Polo, além de Camel Up, A Feast for Odin, The Oracle of Delphi e vários outros jogos de renome.

Ou seja, o jogo já chegou com grife e a super coalizão HUCH! e R&R Games (da qual eu já falei por aqui no jogo Ulm) não deixou passar. E digo mais, o jogo é forte candidato a vários prêmios nesse ano de 2018. Quer saber o por quê?

RAJAS DO RIO GANGES

O Rio Ganges, um dos 20 maiores do mundo, é considerado sagrado para os hindus e sua localização exerce um importante papel durante o desenvolvimento do subcontinente Indiano, abastecendo cerca de 400 milhões de pessoas. O rio nasce no Himalaia e corta a porção Norte da Índia, além de Nepal e Bangladesh, banhando importantes cidades da região.

No jogo, cada jogador assume o papel de raja ou rani, os poderosos líderes das castas mais altas na Índia durante o período mogol, controlando uma porção de terra onde você deverá construir e se expandir — no seu tabuleiro pessoal. Seus trabalhadores são poucos, apenas 3 no começo da partida, mas você pode aumentar sua equipe até 5 trabalhadores no jogo normal, ou 6 em uma das variantes. O objetivo do jogo é se tornar o raja (ou rani) com maior riqueza e fama, controlados por duas trilhas que correm em sentidos opostos no tabuleiro. O jogo acaba quando qualquer jogador avançar o suficiente em ambas as trilhas de forma a fazer com que seus marcadores se cruzem por ela, dando início à última rodada do jogo.



Os dados, diferente do que se imaginava, são recursos no jogo e servem para você pagar pelas ações executadas por seus trabalhadores, numa das utilizações mais interessantes que já vi da mescla "rolagem de dados" e "alocação de trabalhadores".

No seu turno, o jogador poderá gastar um de seus dados para executar uma ação possível no tabuleiro com seu trabalhador. Cada jogador está limitado a ter 10 dados, sendo estes colocados na estátua em sua própria área de jogo (apesar do manual afirmar que se trata da estátua de Kali, já sabemos que isso está incorreto, conforme esse tópico no BGG). Eles podem ser de quatro cores distintas — azul, laranja, roxo e verde — que não tem significados específicos. Algumas das áreas de ação irão exigir determinada cor, outras irão exigir um valor nestes dados; cabe ao jogador decidir quando usar cada um e isso é fantástico.

AUMENTANDO RIQUEZA E FAMA

As ações tem como meta, basicamente, aumentar a riqueza ou a fama do jogador, que são marcadas todas na trilhas ao redor do tabuleiro. Não há moedas. Se o jogador gasta ou ganha dinheiro, ele apenas se move por essa trilha. Se você coloca seu trabalhador para negociar iguarias, tecidos ou cereais, o objetivo é crescer seus status e manter o equilíbrio entre eles.



Para um jogo que depende muito da rolagem de dados, Rajas está muito coeso com sua proposta e permite aos jogadores praticamente utilizarem qualquer rolagem, seja ela alta ou baixa. Números altos garantem boas opções de trocas por construções para seus domínios, enquanto que números baixos podem ser utilizados para avançar no rio — que é repleto de bônus interessantes. Além disso, os jogadores podem gastar seu "carma" para mudar a face de um dado, algo que mitiga bastante o fator sorte do jogo. As cores dos dados também vão ditar ao que você terá acesso, mas independente da cor, você sempre terá uma ação possível, mesmo que seja a de trocar seus dados por outros.

Ao terminar de alocar todos os trabalhadores, os jogadores apenas os recolhem da mesa e já podem iniciar um novo turno, de forma bem rápida e sem a necessidade de uma fase de clean-up longa, como em outros jogos. Pra um euro de complexidade média, de muitas decisões, isso é bastante interessante pois ajuda a diminuir o tempo de jogo.



Então, rodada após rodada, os jogadores irão se revesar nas ações, construindo e enchendo seus tabuleiros individuais com opções de bônus, ganhando acesso aos palácios e monumentos e também aumentando seus ganhos de comércio. Assim, seja quando você avança seu barco no Rio Ganges, quando constrói um belo monumentos no seu território, quando vai para os palácios para trocar recursos ou ainda quando procura aumentar seu "carma", tudo é pensado para avançar seus marcadores pelas trilhas. Ou seja, trata-se daquele famoso jogo de “corridinha” que nem todo mundo gosta, mas que está muito, muito redondo e refinado.

A única coisa que me incomodou no jogo, e que me incomoda em outros jogos com o mesmo recurso, foi o fato do término do jogo ser abrupto. Logo que o primeiro jogador conseguir fazer seus marcadores de fama e riqueza se encontrarem, apenas a rodada atual irá terminar, até que o último jogador da rodada faça o seu movimento. Ou seja, mesmo que os jogadores ainda tenham trabalhadores para alocar, eles não irão fazê-lo. De certa forma, faz sentido dentro da proposta do jogo de que o jogo termine logo que isso acontecer, mas por outro lado fica aquela sensação de que faltava, ao menos, terminar a rodada e saber quem conseguiu ir mais longe. Entendo que do ponto de vista do vencedor, ele pode ter se preparado para ir até o encontro dos marcadores e mais nada, enquanto que outro jogador poderia alcançá-lo ou até ultrapassar se houvessem mais rodadas, mas isso poderia ser bem claro no jogo.



RAJAS NO BRASIL

Não dá pra falar o que é mais interessante no jogo porque praticamente tudo nele é interessante. Desde a arte, passando pelo tema e chegando às suas mecânicas, parece que Rajas of the Ganges foi feito para ser um sucesso em cada um de seus detalhes. A riqueza de detalhes na arte é impressionante, assim como os detalhes da produção.

Os dados são muito lindos e bem feitos, assim como os componentes de madeira estão super bem feitos. Os tiles são bacanas, com boa espessura, o cortes dos tabuleiros e principalmente da estátua estão bem legais e os espaços são todos muito bons, com folgas para colocar os dados e trabalhadores.



O jogo também tem um fluxo gostoso, com cada jogador fazendo sua jogada e sem muito downtime, algo que vinha sentindo falta nos jogos mais recentes. A partida fica rápida e divertida. As mecânicas são simples e é muito simples explicar o jogo, mesmo que ele tenha uma grande quantidade de opções para os jogadores fazerem suas jogadas.

O tema do jogo está um tanto quanto na moda. Primeiro porque o universo do que envolve a Índia, seus costumes e sua história tem sido bastante comentado no ocidente nos últimos anos. Inclusive com a imigração de diversos indanos para países do ocidente, vale dizer que para posições de trabalho muito boas relacionadas à tecnologia, e a valorização de sua cultura (até mesmo novela no Brasil tivemos sobre o tema, além de filmes recentes sendo sucesso de crítica e público). Agra, outro jogo lançado ano passado, também tinha esse mesmo período como tema. Segundo, porque o Rio Ganges tem sido alvo de diversos movimentos ambientais devido à sua condição: o rio está tomado pela sujeira e poluição, além de estar secando devido ao mau uso e à quantidade enorme de lixo despejado nele.



Tudo isso faz de Rajas of the Ganges um jogo para se ter em conta, seja na sua wishlist ou pelo menos nos jogos que deveriam estar no seu radar. O jogo foi recentemente anunciado pela Devir Brasil e deve chegar ainda em 2018 aos jogadores. O anúncio foi bastante comemorado por quem já teve a oportunidade de jogar e também por quem anseia por conhecer o jogo.

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