Feld é Feld e o resto é o resto. Você é dos que pensa assim? Eu tenho muitos amigos que são e, pra eles, o grande hype do ano era, na verdade, o jogo Merlin, lançado pela Queen Games também lá na SPIEL 2017. Muito disso se deve aos outros grandes jogos lançados pelo autor como The Castles of Burgundy, Trajan, Bora Bora, In The Year of the Dragon e Jórvik, todos muito bem criticados. Em Merlin, os jogadores são Cavaleiros da Távola Redonda aspirantes à herdeiros do trono de Camelot, uma vez que o Rei Arthur pretende escolher o mais proeminente para seu sucessor. O mago Merlin, fiel conselheiro do rei, será responsável pelo processo de seleção.

Merlin na mesa de jogo na SPIEL 2017. Foto: Anderson Butilheiro
Quando se fala de
Stefan Feld, um dos grandes nomes do design de jogos de tabuleiro da atualidade, a gente meio que já sabe o que esperar. E
Merlin é exatamente aquilo que se espera dele: um jogo com muitas opções, várias coisas para se observar, e possibilidades infinitas de se fazer pontos. Mas uma coisa que me chamou bastante atenção no jogo é que, pela primeira vez, senti um jogo mais temático. Talvez isso seja influência do co-autor do jogo,
Michael Rieneck, que tem no currículo jogos como
Cuba,
The Pillars of the Earth o recém lançado
A Column of Fire, todos
euros bastante temáticos.

Partida em 3 jogadores. Foto: Anderson Butilheiro
As mecânicas do jogo são bem simples, mas muito bem aplicadas. No jogo, cada jogador controla seu cavaleiro ao redor da távola, executando as ações conforme passa pelas casas, numa espécie de rondel. A diferença é que para se mover no rondel, o jogador deve rolar 4 dados, três de sua cor e um branco que representa o mago. O jogador então move seu personagem, sempre no sentido horário, o número de casas conforme as faces dos dados, em qualquer ordem que preferir. Merlin pode ser movido por qualquer jogador, meio que simbolizando sua influência com mago, com a habilidade de poder se mover em qualquer sentido. Cada casa simboliza uma ação e, depois de executar todos os movimentos e performar (ou não) a ação, ele passa a vez.

Todo mundo para para dar uma olhada no jogo. Foto: Henk Rolleman
Para merecer o trono, os jogadores deverão buscar influência em diversas frentes: vencer batalhas contra invasores de
Camelot que surgem a cada 2 rodadas; construir castelos pelas terras arredores aumentando o domínio do Reino; cumprir missões específicas dadas pelo Rei Arthur; proteger as províncias e etc. A típica "saladinha de pontos" que todo Feld costuma ter. No entanto, aqui, as ações do jogo fazem bastante sentido com o tema e a sensação é a mais próxima da imersão que qualquer outro jogo do autor que eu tenha jogado antes.

Detalhes das peças e das ações ao redor da mesa. Foto: Henk Rolleman
Cada cavaleiro tem à sua disposição um conjunto de assistentes e cada assistente te ajuda a executar uma ação de pegar ou deixar algo das províncias: (pegar) escudos, bandeiras e recursos e (deixar) influência. As cartas de missão são relativamente fáceis, na verdade exigindo que você tenha determinados itens no seu castelo como bandeiras e escudos das províncias, materiais de construção específicos e que seus "assistentes" estejam nos lugares certos. Elas vão pontuar 2 ou 3 pontos, conforme a dificuldade e esses pontos são clamados no momento em que você resolve a carta, podendo fazer isso uma vez por turno.
Verso da carta de missão. Foto: Henk Rolleman
Frente da carta de missão. Foto: Henk Rolleman
A cada duas rodadas, no entanto, existe uma fase intermediária de pontuação em que são verificados alguns fatores como as construções nos arredores e as invasões dos bárbaros. Além disso, a
Excalibur e o
Santo Graal, dois elementos muito importantes na mitologia do Rei Arthur, estão no jogo e te auxiliam a realizar as ações e a marcar pontos.
Excalibur e o Santo Graal também estão no jogo. Foto: Henk Rolleman
Merlin realmente se destaca entre os jogos do autor pela sua originalidade no tema, na mecânica e na forma como o tema casou muito bem com o jogo. Apesar de não ser o fã número um do Feld, eu gosto muito de diversos jogos do autor e acho que ele sempre é bem competente no que faz, mesmo que os jogos sejam sempre aquela salada de pontos e aquele corre pra todo lado, meio desesperado. O único ponto negativo pra mim no jogo foi o fato de que não há nenhum critério de desempate. Ou seja, se dois ou mais jogadores terminarem empatados, ambos são declarados vencedores (o que dentro do tema não combina, uma vez que apenas um pode ser herdeiro do Rei). E não é que na nossa primeira partida o jogo terminou justamente em empate? Apesar disso,
Merlin é um jogo competente e divertido que deve sem dúvida alguma estar presente na coleção de qualquer fã do designer.
Dados usados no centro da Távola Redonda. Foto: Henk Rolleman
O mito Stefan Feld. Foto: Henk Rolleman