Eu já ensaiei escrever esse review algumas vezes. Mas sempre ficava pra depois. Até quando falei do World's Fair 1893 recentemente, neste outro texto aqui, eu quase inverti a ordem dos dois. Mas bom, o momento se tornou bem oportuno porque agora, com o anúncio dessa terça-feira, você deve estar mais interessado em saber que jogo é este, certo?

Gols West é um jogo do J. Alex Kevern, designer que eu tenho aprendido a gostar bastante nesses últimos anos, principalmente por causa desse jogo. O Kevern consegue fazer jogos com mecânicas bem simples e temas leves serem super estratégicos e interessantes e ainda os deixar absolutamente lindos. Claro que a parte do lindos tem mais a ver com os ilustradores, mas o cara sabe o que faz e, pra mim, está ao lado do Alexander Pfister como uma das grandes revelações dos últimos 3, 4 anos.




Em Gold West, jogo lançado em 2015 pela Tasty Minstrel Games, os jogadores são aventureiros em busca da riqueza prometida pela Corrida do Ouro no Oeste americano em meados do século XIX. O território de Auloma, na Califórnia, serve como base para o jogo que se passa em 1849, ano dos forty-niners, nome que foi dado à primeira grande leva de garimpeiros que chegou à região já contagiados pela "febre do ouro". Estima-se que cerca de 90 mil pessoas tenha migrado para a Califórnia nesse ano.

No jogo, o território é dividido em porções hexagonais circundando um rio, de onde os jogadores poderão extrair recursos. Os tiles hexagonais são encaixados no tabuleiro de maneira aleatória no começo do jogo (tabuleiro modular). Os recursos disponíveis são o ouro, prata e cobre, que serão usados para gerar riquezas (no caso, marcar pontos), e madeira e pedra, que serão necessários para construir os acampamentos e assentamentos ao longo do tabuleiro, o que permite ao jogado explorar aquele hexágono específico e extrair dele os recursos.




Mas o charme do jogo está no tabuleiro do jogador. Nele existe uma espécie de mancala em que devem ser depositados os recursos, conforme o momento em que o jogador deseja usá-los. Ao fazer a sua ação, no seu turno, o jogador aciona a mancala, movimenta os recursos para cima, deixando um recurso em cada espaço que havia no caminho e movendo apenas os recursos restantes para fora do tabuleiro, deixando os mesmos disponíveis para serem usados naquele turno. Então o jogador realiza primeiro a ação com os metais preciosos, em seguida pode construir e escolher qual o local e quais recursos quer guardar para as próximas jogadas (com madeira ou pedra o jogador constrói um acampamento, com os dois juntos constrói um assentamento). Acontece que isso é feito de forma contínua, a todo turno, tornando a posição em que os recursos serão armazenados na mancala a parte mais estratégica do jogo.

Há diversas formas de pontuar em Gold West, mas todas elas envolvem os recursos explorados e, principalmente, como você irá utilizar os metais. Com eles, há 3 formas diretas: enviando através de diligências, investindo no mercado e negociando nos escritórios em Boomtown em troca de influência. Nas diligências, o jogador que conseguir ir mais longe ganha mais pontos, mas também é importante quem faz antes, pois só há bonificação para os dois primeiros a cada estágio do avanço. No mercado, as trocas são caras, geralmente exigindo quatro ou cinco metais em troca de cartas de contratos que valem pontos e, às vezes, também algum bônus. Nessa duas opções, ouro é o metal mais valioso, seguido pela prata e pelo cobre. Ou seja, fazer negócios com o ouro sempre irá render mais pontos.




Em Boomtown, existem bônus aleatórios, também sorteados no começo do jogo, que poderão dar mais pontos ao final da partida, mas seu custo é sempre uma combinação dos três metais, não importando muito qual é o mais valioso. Tudo dependerá da estratégia que o jogador irá seguir. Mas geralmente os bônus estão ligados à exploração do mapa, se o jogador tem determinada configuração, ou se construiu vários assentamentos, etc.

Também é possível pontuar de outras formas. No final da partida, o jogador irá pontuar em seu maior grupo de acampamentos, 2 pontos por cada acampamento. Também irão pontuar os jogadores que mais exploraram em cada tipo de terreno disponível no jogo: floretas, minas de ouro, minas de prata e minas de cobre.




Mas claro, há punição para aqueles que não quiserem arcar com as consequências de sua exploração: algumas vezes na partida os jogadores simplesmente podem não conseguir ter madeira e pedra para construir um novo acampamento e pegar recursos. Isso pode acontecer por erros no planejamento ou por estratégia do jogador mesmo. Nesses casos, o jogador coloca uma peça no espaço separado no tabuleiro com um enorme "Wanted" e pode escolher um terreno de recursos para pegar. Fora-da-lei, obviamente. O jogador perde 1 ponto imediatamente e, no final do jogo, os jogadores podem perder ainda mais 1 por peça ou 1 a cada 2 peças, se forem os que tiverem mais peças neste espaço.




O jogo tem um clima bem familiar, sendo bastante interessante na mesa, bonito e de regras simples. Apesar do tema, o jogo é bem superficial quanto à imersão nele, deixando o fator flavour mais para os componentes em si do que para as regras, coisa que tem sido a marca registrada do Kevern, que se repetiu depois em World's Fair 1893. Apesar disso, o jogo é um euro bacana, divertido e com muita rejogabilidade. Gosto bastante do fato de que o jogo escalona perfeitamente a quantidade de jogadores através do tabuleiro modular, funcionando tão bem em 2 quanto em 4. Em 3, confesso que não cheguei a testar, mas não deve ter nenhuma diferença.

Pra mim, o jogo foi uma enorme surpresa. Cheguei ao Gold West procurando pelo Carson City e caindo de paraquedas nesse texto aqui. À primeira vista achei o jogo leve demais, mas depois resolvi dar uma segunda lida no texto e arrisquei trazer o jogo pra ver como era de fato. Me apaixonei pela mecânica de mancala e pela arte linda e bem temática do jogo. Parafraseando as palavras do autor do texto, "há ouro nessa caixa".




Em tempo: se você ainda não estava sabendo, a Kronos Games anunciou na última terça, no programa Meeple Maniacs, que irá trazer Gold West para o Brasil. Uma notícia que me deixou bem empolgado por saber do jogão que está prestes a ganhar mais algumas mesas por aqui.

Veja mais algumas imagens do jogo: