
Ano era 2022, eu ainda não conhecia os leilões da ludopedia e as principais lojas de jogo, ainda pagava caro no Scythe naquela famosa loja varejista online, e nisso me aparece um jogo, Os Maus Companheiros, um jogo de máfia, um título que remete a um filme clássico, Os Bons Companheiros, uma arte muito bonita, e arte me atrai muito, com animais antropomórficos, um jogo de furry amigo!!! Um jogo de furry!!! Pelo preço de uns cento e vinte reais.
Esses dias, vendo ele sendo vendido de segunda mão por mais de duzentos reais, me fez rememorar o motivo de eu o ter vendido pela bagatela de trinta reais.
Eu amava esse jogo, mas ele era fonte de frustração, pois parecia que somente eu gostava dele. Tive três experiências com ele, na verdade duas, como veremos. Mas antes de relatar as partidas, preciso explicar a dinâmica dele.
O jogo é uma espécie de “Cash ‘n’ Guns” turbinado. No jogo somos mafiosos que fizeram um grande saque. Em cada rodada terá um líder que repartirá o saque da rodada, em seguida todos jogadores escolhem uma de cinco cartas para definir sua ação. Que podem ser:
Embolsar: cujo o primeiro a virar a carta embolsa a primeira carta do monte de compra futura.
Atacar: onde você antes coloca o seu stand que o representa, à frente de outro jogador para roubar o saque dele. Nota: Você pode blefar colocando seu stand na frente do outro jogador, para influenciar a decisão dele, mas não atacar coisa alguma.
Defender: onde, caso a pessoa te ataque, você se defende e ainda rouba o saque dele.
Votar sim: para aceitar a partilha do saque feita pelo chefe.
Votar não: para não aceitar a partilha do saque.
Nisso o coração do jogo tá na votação, onde se o “sim” vencer o chefe continua e se eles aceitam o saque. Mas se o “não” vencer, o saque fica pra próxima rodada, acrescido de novas cartas abertas, e passa-se o chefe para o próximo jogador.
Para apimentar as decisões, têm um módulo que eu diria essencial, que é o do suborno, no qual o jogador pode subornar outros jogadores para fazerem a ação pretendida.
O jogo tem mais nuances, mas essa é uma visão geral
E aí, meu amigo, que reside o calcanhar de àquiles do jogo. Ele é complexo demais para jogadores muito novatos, já que o jogo flerta entre o party e o family, mas o jogo é leve demais para quem quer algo com mais substância. Para piorar, a contagem dele é de quatro à oito, tornando ele ainda mais difícil de ver mesa.
Mas vamos ao relato das três partidas.
A primeira foi na casa da minha amiga que chamaremos de K, acho que ainda em 2022. Naquela época K costumava chamar eu e outras pessoas na casa dela pra comer um churrasco improvisado além de outros pequenos eventos com comida, no qual eu levava o clássico Coup que alegrava as mesas, lembro-me do dia que alguém com os dedos cheios de gordura de coxinha de frango pegava as cartas, eu decidi que iria sleevar meus jogos e evitei dar ataque de pelanca porque o clima agradável de amizade e possibilidade de jogar valiam mais do que os cem reais que gastei no Coup.
Mas rapidamente Coup deu pra mim e um dia resolvi levar Os Maus Companheiros. Primeiro erro, não estudei as regras em casa, fui tentar explicar mas sou péssima nisso, aí botei um vídeo do Romir, mas ninguém entendeu o Romir, aí li o manual, simulei uma rodada e todos entenderam.
E jogamos, e foi uma partida agradável em quatro pessoas, bem agradável, lembro que uma moça na qual na época eu tinha um relacionamento, se mostrou animada. Porém, quando terminou a partida, e meio que deu, notei que eu parecia a que tinha gostado mais do jogo, o resto tava com uma cara de ok, ninguém quis jogar mais nada e os próximos vinte minutos foram uma conversa sobre cólicas e menstruação, como para todos efeitos eu não tenho útero, fiquei olhando para o teto e a vontade de jogar novamente, mas a sensação que aquela mesa não iria preferir jogar Coup pela sei lá qual vez.
A segunda foi uma partida que não ocorreu, eu estava em um grupo de pessoas não-monogâmicas, aí um rapaz quis organizar uma “game night” e fazer pizza, juntou umas vinte pessoas.
Dessas quase vinte pessoas, umas doze ficaram numa mesa jogando Dixit, como eu queria tá na mesa de Dixit. Na minha mesa jogamos Tinco e uma colega trouxe Taco Gato porque eu anunciei que queria jogar esse jogo.
Mas na minha mesa tinha uma criatura que tinha dificuldade de entender as regras até de Taco Gato, falo sério.
Então nem preciso dizer que fiquei cinco minutos tentando explicar as regras de Os Maus Companheiros até todos desistirem do jogo. Logo em seguida a guria que tinha dificuldade de entender as regras puxou a amiga dela pra fofocar, e logo após fofocar.
Uma amiga minha disse: “Isaura, o que é fácil pra você, nem sempre é fácil para os outros”.
Jogamos uma versão improvisada de Times Up, noite termina, casa. Fiquei me questionando se valeu o esforço de atravessar Belo Horizonte pr’aquilo,
E aqui ressalto um problema do jogo, complicado demais para pessoas que não são do hobby.
A terceira foi num evento numa tabuleria de Belo Horizonte, nesta jogamos em seis, e o jogo se mostrou melhor do que em quatro, imaginei ele em mesa cheia.
Desta vez eu estava com gente que joga, e a partida fluiu bem, sem um problema sequer. Contudo, ao fim da partida, todos estavam satisfeitos
Perguntei à uma colega que eu conhecia o que ela achou e ela me respondeu um “é bom”, e esse é bom 5/10, 6/10, me marcou, um “é bom” morno, um “foi bom mas iriam preferir tá jogando outra coisa”, tanto que jogamos logo após Quartz e a mesa se divertiu mais.
Eis então que me dei conta, parecia que somente eu gostava desse jogo. Para os outros era no máximo um jogo “bonzinho”.
Fora que era um parto achar mesa pra ele.
Depois de um tempo olhando ele na estante resolvi me desfazer, era uma fonte de frustração olhar um jogo que eu queria jogar, mas dificilmente iria conseguir pôr na mesa. Procurei me livrar dele com agilidade, pois mais que achasse bonita a arte da capa e dos stand do jogo.
Com um certo humor vi nas últimas semanas do mês de novembro de 2025 pessoas vendendo ele, bateu uma nostalgia, mas não esse jogo já completou o seu ciclo na minha, então adeus e obrigado por tudo.
Fazia tempo que queria escrever algo sobre esse jogo. Pensava em uma resenha, porém optei por esse relato.