Seja bem vido a um review de Food Chain Magnate e sua expansão, um jogo de guerra comercial
Antes de abrir este review, preciso dizer que nunca joguei Food Chain apenas com sua caixa base; sempre o joguei com o uso da expansão. Partindo desse olhar, posso dizer que a caixa base é, sim, suficiente. Entretanto, para mim, ter a expansão é indispensável para quem gosta do jogo. Dito isso, bora lá!
Um jogo de guerra comercial... Então, essa frase não descreve muito bem até onde podem escalar as disputas comerciais deste jogo. Você é basicamente o dono de uma empresa do ramo gastronômico, mas sua função no jogo não é apenas gerir as vendas: você deve fazer praticamente tudo o que uma empresa multimilionária faz. “Marqueteie” seus produtos, abra novos imóveis, abra novas casas, construa novas ruas, aumente sua produção em escala industrial... Tudo para VOCÊ vender mais caro, em maior quantidade, e não deixar que nenhum dos seus concorrentes faça o mesmo. Nessa disputa comercial, muitas vezes você pode deixar o preço do produto no negativo — tudo para que ninguém faça aquela venda além de você!
Eu posso dizer que, na maioria dos jogos, o
Hansa Teutônica não sai de mim: não só faço “
blocks”, como, se eu puder fazer uma jogada que prejudique os outros e me beneficie, eu vou fazer. Aqui no
Food Chain é exatamente isso: você tem que pisar na cabeça da concorrência e mostrar quem manda (ou quase isso).
Obs: Caso você não conheça o Hansa, este é um euro já clássico, muito conhecido pela sua interação de mesa, onde “blocks” ocorrem o tempo inteiro.
Se transpusermos uma empresa real, como McDonald’s, Burger King ou Pizza Hut, veremos que muitos cargos aqui são compatíveis com a realidade, outros são representados de formas mais lúdicas. A progressão da sua empresa, tematicamente expressa pelas cartas, é incrível. Por exemplo: você começa com um garoto entregando bebidas e, ao final, tem um piloto de dirigível fazendo as entregas. Essa progressão é absurda e irreal, mas, no jogo, a sua empresa também precisa prosperar de maneira absurda.
Sua empresa tem que se tornar uma gigante do ramo alimentício!
Se depois disso você acha que o tema desse jogo é colado com cuspe, meu amigo, sinto muito, pois não é!
Dando uma pincelada sobre o jogo: ele é controlado por cartas, 100% abertas, que podem ser compradas de acordo com uma progressão. Primeiro, você adquire um funcionário básico, o treina e ele evolui para um funcionário melhor; nisso, você troca a carta. Você poderá treinar seus funcionários até um cargo máximo, que geralmente tem números limitados — 1 ou 2 por partida. Evoluir rápido é algo que todos querem: é uma corrida extremamente importante e decisiva.
É importante lembrar dos salários. Os personagens básicos não possuem salário e, após treiná-los, você passa a ter de pagar salário por aquele funcionário. Isso, às vezes, no "early game", pode ficar difícil de sustentar.
Durante as etapas das rodadas, que são muitas e precisam ser seguidas corretamente, você fará o marketing dos seus produtos, que será a demanda para todo mundo disputar ao final da rodada. Produzirá seus alimentos para tentar fazer as vendas. A venda ocorre conforme a distância e o preço dos produtos; como dito anteriormente, você pode ficar com valores negativos nos seus produtos... Uma estratégia interessante que já vi diversas vezes: como a venda é por ordem crescente das casas, começando pelas de números mais baixos, é possível criar demandas em casas com valores baixos para que os outros jogadores vendam ali, enquanto você vende nas casas de maior valor. Pois, se você consegue fazer a venda e tem o direito prioritário sobre ela, é obrigado a realizá-la. Este é um ponto muito importante: você não escolhe diretamente para quem vender; seus adversários podem manipular o jogo e fazer com que você acabe vendendo o que não queria, ficando sem estoque para outras vendas.

Sobre a sorte: aqui ela é nula. Você não compra cartas e as embaralha como em um "
card-driven game" ou um "
deckbuilding", você escolhe exatamente o que vai usar, e também pode tentar prever quem inicia a rodada. Para ser honesto, o único momento de sorte no jogo é para ver quem começa colocando o seu restaurante no tabuleiro; fora isso, mais nada. Logo, essa ausência de sorte favorece, e muito, os jogadores com mais experiência. Sinto que há algo correlacionado a isso que gera muita crítica ao jogo: o fato de não se poder cometer erros.
“We think that it is important that every single turn should matter. If you cannot lose the game on the first turn, then the first turn should not be played.”
Joris Wiersinga, Splotter Spellen
Tradução por feita por mim: Nós acreditamos que o mais importante é que cada turno do jogo conte. Se você não pode perder o jogo no primeiro turno, então o primeiro turno nem deveria ser jogável.
A crítica da comunidade sobre o jogo ser muito punitivo, para mim, é infundada, pois estão criticando justamente a proposta do jogo. Este jogo não é sobre você jogar 1 ou 2 partidas e pronto, acabou. É sobre continuar jogando, aprendendo e estudando como jogar melhor. Ao final da primeira partida, se você prestou atenção, já verá muitos erros que cometeu ao longo do jogo. Logo na próxima já vai melhorar. Você pode, sim, jogar de maneira casual. O importante é ir aprendendo como jogar e o que fazer em determinadas situações.
Olha, mesmo nesse clima de tensão, gastando meus neurônios a todo momento, eu me diverti muito em todas as partidas. A sensação ao final não é “nossa, que joguinho gostoso”, mas sim: “como eu melhorei”, “olha o que eu aprendi”, “como vou melhorar na próxima!”.
Entrar em uma partida e jogar contra alguém experiente, perder deveria ser o padrão — ou melhor, o mais natural a acontecer — principalmente em jogos
experts ou mais pesados. Aqui no
Food Chain, muitas vezes você vai perder feio (pensamentos intrusivos aqui: eu fiz 0 pontos várias vezes kkkkkkk). O objetivo não é ser um jogo família!
Um ponto muito comentado é o aspecto visual. A primeira impressão que tive não me desagradou. O tabuleiro deixa muito a desejar? Não consigo responder, pois, olhando pelo lado da funcionalidade, você bate o olho e já sabe tudo, algo muito intuitivo que não exige pensar demais. Se fosse mais bonito, talvez se tornasse ainda mais poluído e piorasse a situação. Olhando a versão do KS, ela me pareceu poluída, mas ainda assim apresentou uma melhora estética pelo fato de ser tridimensional.
Passando a minha opinião para você que tem dúvidas sobre se este é um jogo com potencial para a sua coleção: se você gosta de jogos apertados, é competitivo e tem um grupo igualmente competitivo, talvez ele seja para você e seu grupo. O mais importante é estar preparado e disposto a aprender o jogo...
Muito obrigado por ler esse review!
Meus agradecimentos ao L.G., que me apresentou esse jogo incrível e é um excelente parceiro de jogatina e novamente, um grande amigo!
Atenciosamente Lucas Ortiz