Em todos esses anos nessa indústria vital, essa é a primeira vez que isso me acontece!
Pelo menos, estamos falando de uma coisa boa! Esse ano, pela primeira vez, após 4 anos escrevendo nessa coluna, recebi uma credencial de imprensa para cobrir o Diversão Offline 2025 pelo Covil dos Jogos!
Se você por acaso caiu de paraquedas por aqui, deixe eu lhe explicar: Diversão Offline é o principal evento da indústria de jogos de tabuleiro modernos no Brasil.
Sendo realizado desde 2015, tendo edições Cariocas e Paulistas até 2018 e após isso apenas na capital bandeirante, a cada ano que se passa, o evento vem crescendo de forma impressionante. Se ele inicialmente cabia (com tranquilidade) no aconchegante Centro de Eventos São Luiz que fica nas imediações da Avenida Paulista, em poucos anos teve que ser transferido para o Centro de Eventos Pro Magno, onde ficou por dois anos, sendo que ano passado estava insuportavelmente cheio e então a produção buscou um espaço maior, o Expo Center Norte, onde teremos o evento deste ano.
Serão 3 dias de evento, sendo a sexta focada em público escolar e imprensa e sábado e domingo aberto ao público geral.
Pela primeira vez o Covil dos Jogos terá um stand próprio no evento. Estaremos no Stand F3, perto dos banheiros e da praça de alimentação.
Ali teremos um estúdio, de onde faremos diversas lives, focando principalmente em entrevistas com as editoras mas também com alguns gameplays. Teremos também uma mesa de jogo para jogar os jogos do Covil (incluindo o Vazerneiros, lançamento da Covilcon 2025) e teremos a usual distribuição de bottons e brindes. Se nada disso agradar, podemos pelo menos conversar. Eu vou tentar ficar a maior parte do tempo perto do Stand.
Sendo o evento basicamente uma feira, o foco principal sempre são os lançamentos e jogos que estão retornando ao catálogo para venda. A Ludopedia mantém um link com a lista dos Lançamentos. No dia em que escrevo, a lista de lançamentos está com 112 jogos.
Inicialmente escolhi 10 jogos dessa lista, mas eu percebi que desses 10, 8 eram carteados ou card games e que apenas um era um "jogo de tabuleiro" de verdade. Fiquei incomodado com isso, olhei a lista com mais cuidado e vi que realmente há muito pouco lançamento da faixa do euro médio/pesado. Então, resolvi incluir alguns jogos de catálogo que estão anunciados para venda no evento que acredito poderem ser boas oportunidades a quem, como eu, prefere esse tipo de jogo.
Dito isso, segue o meu Top 15 do que está anunciado para o DOFF 2025:
15 - Spy Fall 2 (Paper Games) - A sequência do famoso jogo de dedução social finalmente chega ao Brasil pela Paper Games. O jogo é formado por diversos conjuntos de cartas, cada um referente a um local. Para cada local haverão 10 cartas representando pessoas que pertencem àquele local e 2 espiões. O objetivo do jogo é, através de perguntas feitas aos participantes, descobrir quem são os espiões e, para esses, o objetivo é descobrir onde estão ou pelo menos conseguir não ser descobertos. O jogo depende muito das pessoas para funcionar mas, quando estão todos no clima, fica muito divertido.
14 - Inventions (Mosaico Jogos) - Eu não sou um grande fã do Vital Lacerda. Meu problema não é necessariamente o peso, mas a burocracia dos seus jogos. É muito detalhe e tudo é difícil de fazer, requerendo um planejamento que considero detalhado demais para algo que é uma diversão. Ainda assim, ele tem jogos excelentes (On Mars é o meu preferido). Ainda não joguei o Inventions, mas o tema me agrada e ele está muito elogiado. Será que dou uma chance a esse? Vamos ver o preço...
13 - Haggis (Grok Games) - Haggis é um carteado de climbing e shedding que é bem baseado no Tichu. Ele tem alguns pequenos detalhes de diferença, como na forma da aposta inicial ser feita e na carta de figura, que não tem naipe e podem servir como coringas, mas a ideia é basicamente a mesma: manipular combinações de carta jogadas em escalada visando bater e fazer pontos adicionais com as cartas ganhas. Um detalhe interessante é que a versão que vai sair aqui permitirá partidas de 4 jogadores, enquanto a original era apenas para 2 ou 3. Assim como o Tichu, é um jogo de muita malícia. Recomendado para quem realmente gosta de carteado.
12 - The Lie (Devir Brasil) - Mais um climbing/shedding para o catálogo brasileiro. Esse aqui é bem mais simples do que o Haggis. O lance dele é que o verso das cartas tem um número e uma cor. Um deles é verdadeiro e o outro é falso, isso é se você vê um 4 amarelo, ele pode ser um 4 Azul ou 2 Amarelo. No início da mão você não embaralha as cartas, cada um pega 12 cartas escolhendo pelo verso e joga-se a mão até que alguém fique sem cartas. E é isso. Ainda não joguei, mas eu comprei lá fora e me parece um bom jogo de entrada, para jogar com quem não é do hobby.
11 - Xylotar (Mosaico Jogos) - Xylotar é o nome de um teclado colorido que bandas pop usavam nos anos 80. Em termos de jogo, este é uma reedição do Magic Trick. Você já recebe as cartas organizadas por valor, mas você (e os adversários) só veem as cores (as cartas ficam todas dispostas organizadas por valor, mas apenas com as cores a vista. Joga-se um jogo de vazas tradicional, respeitando naipe, mas onde o valor das cartas terá que ser intuído pela posição relativa da carta no "teclado". Em algum momento, você deverá revelar uma carta para ser o seu "lance" na mão. Se você conseguir a quantidade de vazas indicadas pelo valor da carta revelada, você ganha um bônus. Joguei apenas uma vez, é um bom jogo.
10 - Witchstone (Conclave) - Não podia montar uma lista dessas sem ter pelo menos um jogo do meu querido Reiner Knizia. Witchstone é uma mistura das ideias típicas do Knizia com a escola italiana. Salada de Pontos braba, daquelas que você faz ponto no setup, mas com boas decisões e com tempo de jogo bem acessível. Gosto bastante mas encontra muita concorrência para ir a mesa. Se você gosta de jogo médio, um pouquinho acima do familiar, esse é uma boa dica.
9 - A trilogia do Sul do Tigre (Mosaico Jogos) - Shem Philips é George Lucas do Board Game: adora uma trilogia. Se os jogos do reino ocidental foram estudo do que é possível fazer com alocação de trabalhadores, a série do Sul do Tigre (Viajantes, Estudiosos e Inventores) faz o mesmo com a alocação de dados. São jogos de estratégia do médio para o pesado, com muito conceito e detalhe para assimilar até jogar bem. Dessa série, joguei os dois primeiros e estou atrás de comprar o terceiro no DOFF.
8 - Fishing (Ludofun) - Interessante jogo de vazas de Friedemann Friese. Começa como uma vaza normal, respeitando o naipe e sem trunfos. O lance é que a partir da segunda rodada, suas cartas serão as cartas que você conquistou na rodada anterior, completadas pelas "cartas do oceano", um baralho com cartas mais fortes que as iniciais, com trunfos e poderes diversos. A questão é que as cartas do oceano vão para quem não possui cartas suficientes para formar a mão e isso equilibra o jogo, pois quem perdeu terá cartas potencialmente melhores que as de quem ganhou na rodada anterior. Eu comprei o jogo no exterior, mas ainda não tive chance de jogá-lo. Estou bem ansioso para fazê-lo.
7 - Nine Lives (Ludofun) - Esse jogo é um dos diversos jogos de vazas lançados lá fora pela AllPlay e que estão vindo para cá através da Ludofun. O lance desse aqui é que o vencedor da vaza escolhe uma carta da vaza que venceu (não podendo ser a que ele mesmo usou para vencê-la) para voltar pra sua mão. Esse pequeno detalhe traz estratégias muito interessantes e eu recomendo bastante esse jogo.
6 - Carson City Big Box (Mosaico Jogos) - Por incrível que pareça, o velho oeste é um bom tema para jogos. Alem do GWT e do Western Legends, esse Carson City, que é do mesmo autor de Carnegie, é um Euro cabeçudo com bastante interação e bem temático. Nós somos investidores comprando terrenos e investindo em negócios numa erma cidade do velho oeste, Carson City. O jogo tem uma miríade de mecanicas, e oferece um tremendo desafio. Eu tenho o jogo mas só o joguei uma vez. Eu gostei bastante, mas faz tempo que não jogo.
5 - Salty (Calamity Games) - E o show de vazas continua... Esse aqui, de origem japonesa, é um dos mais interessantes que eu já joguei, só perdendo para o que está em primeiro lugar na lista. A ideia é que os naipes representam temperos para o seu lanche e cada lanche pede uma certa quantidade de temperos (na verdade, ele representa o lance no leilão). As cartas tem valores de 1 a 5 de meio em meio ponto e seu valor é relativo a quantidade de sal ainda disponível (quanto mais próxima do valor, melhores elas são). A medida que o sal é usado, o valor relativo das cartas muda. O jogo dá nó na cabeça a princípio, porem, depois que você pega a dinâmica, você se adapta e consegue se planejar. Eu adoro ele, mas não jogo já a algum tempo.
4 - Fuji Flush (Conclave) - Um dos melhores party games para muitas pessoas que existem. É um jogo de se livrar das cartas. Na sua vez, você joga uma carta na mesa. Se tiverem outras cartas de mesmo valor, ela se soma a elas, se tornando mais fortes. O que você quer é que a sua carta sobreviva ao descarte por uma rodada completa na mesa. Se isso ocorrer, você se livra dela. Se alguém jogar uma carta maior, ela é descartada e você é obrigado a comprar uma nova. O lance é que como as cartas de mesmo valor vão se somando (dois 3 passam a valer 6, 3 valem 9, etc.), então os jogadores vão formando alianças temporárias na mesa (quando a primeira carta de um grupo sobrevive, todas se salvam) e fica muito divertido. O jogo brilha com seis pessoas ou mais. Recomendo demais a compra, paguei caro em um leilão para tê-lo quando estava esgotado.
3 - London Second Edition () - Brass é o meu jogo favorito e por isso Martin Wallace mora no meu coração. Infelizmente a sua quantidade de acertos não é tão constante, mas esse London é um excelente jogo que ficou meio fora do radar. É um engine building baseado em cartas onde estamos reconstruindo os bairros de Londres depois de um incêndio ao mesmo tempo que tentamos lidar com a miséria causada pelo êxodo rural e as diferenças sociais. Além de ter cartas muito bonitas, o jogo é excelente. Altamente recomendado.
2 - SETI (Devir) - Único jogo que é realmente "de tabuleiro" nessa lista, SETI é um engine building muito bem bolado. Cada jogador representa uma agência espacial procurando pistas de vida extraterrestre. Quando elas são finalmente encontradas, o contato com elas pode mudar totalmente a sua estratégia. Lembra bastante Terraforming Mars e Ark Nova, extremamente temático, muito bonito na mesa e com uma boa interação no tabuleiro central. Se tem um defeito, é que me pareceu um pouco longo demais. Mas é altamente recomendado.
1 - Ghosts of Christmas (Ludofun) - Um dos jogos de vaza mais inteligentes que eu já vi. A cada rodada você joga 3 vazas. A do passado, a do presente e a do futuro. A questão é que a ordem em que você coloca as cartas nas vazas não está conectada a resolução das mesmas. As três vazas serão resolvidas apenas no final da rodada, na ordem do tempo (passado, presente e futuro). Você só pontua se acertar a quantidade de vazas que cantou no início da rodada. Você precisa respeitar naipe, mas de um jeito estranho, na sequencia em que está jogando, o que não necessariamente é a ordem que as cartas serão resolvidas. Então, você pode se livrar das carta de um naipe jogando-as no futuro para cortar a vaza do passado. Essa quebra de laço temporal é um dos melhores desafios em carteado que eu já vi. Se você gosta de jogar jogos de vaza, recomendo muito esse jogo.
Uma tendência mais casual?
Não é por acaso que entraram tantos jogos de cartas ou de menor custo na lista. A indústria brasileira está crescendo muito nesse sentido. Acredito que isso aconteça pelas questões de custo, mas muito também porque são jogos mais acessíveis, que alcançam um público maior.
O que isso quer dizer para o futuro? Não sei. Talvez nada. Saíram muitos jogos de nível médio ou pesado esse ano. Só que esse calendário parece não estar mais tão ligado ao DOFF, talvez pelo tamanho do evento mesmo.
De qualquer forma, acho que temos bastante jogos para explorar!
Espero ver vocês por lá. E comprem com moderação!
Eduardo Vieira
Eduardo Vieira é analista de sistemas, e participa do Hobby desde 2018, mas vem tentando descontar o tempo perdido! É casado, mora no Rio de Janeiro e vive reclamando que não tem parceiros para jogar tudo que compra!