Vocês falaram tão mal sobre a nostalgia que me fez avaliar um pouco minha "carreira boardgameística" à luz de Pareto. 80% da minha coleção de hoje é composta por jogos lançados entre os anos 2010 e 2023, sendo com o pico (7) compartilhado pelos anos 2017 e 2020. 80% dos jogos que já joguei até hoje estão entre os anos 2010 e 2022, sendo o pico (42) o ano de 2017 (esse pico contempla 11% dos jogos que já joguei).
Voltar aos jogos de 10 anos atrás, para mim, não seria nenhum tormento. É uma "volta" pequena para mim, mas é metade da idade da minha caçula. É muito pra ela.
É preciso entender que a nostalgia é um lugar de conforto, de reconhecimento, de acolhimento, de fuga/esquecimento do presente. É nela que o carteado se sustenta. O exemplo da franquia Final Fantasy é muito bom, porque a indústria entende que você precisa reconhecer os elementos do seu passado, da sua experiência anterior, mas, ao mesmo tempo, a indústria reconhece que você já não é a mesma pessoa e a tecnologia, tal como a cultura pop, não pode ficar inerte. E porque você já não é mais o mesmo, você não consegue mais consumir o produto ou reviver a experiência do passado com o você de hoje.
Mas fazendo o contraponto, você consegue consumir os livros do Guia do Mochileiro das Galáxias, a trilogia da Fundação, O Senhor dos Anéis, Dom Casmurro, Memórias Póstumas de Brás Cubas... sem tantas dificuldades. E digo sem "tantas" porque algumas você poderá enfrentar: o ritmo, o linguajar, as referências, o estilo.
Entendo que os jogos físicos de tabuleiro estão mais próximos dos livros do que de outras mídias e por isso envelhecem mais devagar.
Como você comentou há perigos no culto ao novo e na nostalgia. Particularmente acho que há mais no primeiro. Eu me aventuraria mais a mostrar um Torres para um civil que gosta do controle de área do War do que um Brian Boru ou um Tapestry que são muito mais novos e têm mais ou menos o mesmo peso.