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O sistema perfeito, que pode não ser para você

  • Hansa Teutonica é um jogo subestimado.

    Tudo nesse jogo se encaixa, mecanicamente falando, não tem nada de errado nele, nada faltando, nada sobrando, nada quebrado. Talvez a arte não agrade a todos, os tons de bege, aquela cara de euro velho (particularmente, eu acho um charme, mas isso é subjetivo e pessoal). O tema certamente não existe, e o jogo nem tenta te convencer do contrário. Se você espera uma narrativa envolvente, personagens cativantes, um cenário deslumbrante, esqueça, isso aqui é sobre fazer pontos. Mas é bom, viu?

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    Em Hansa Teutonica, somos mercadores estabelecendo entrepostos comerciais em rotas… MENTIRA, MENTIRA, TUDO MENTIRA! Somos cores manipulando cubos e cilindros pelo tabuleiro bege, fazendo pontos e frustrando a jogada dos coleguinhas!!! Perdão, me exaltei…

    Como funciona Hansa Teutonica em português claro?

    Com um punhado de cubos e cilindros, na sua vez, você realizará algumas ações, que envolvem colocar e mover essas peças no tabuleiro, completar e ocupar rotas, assim marcando pontos. Simples assim, em uma frase, é isso. Ao final da partida, o jogador com mais pontos vence. Eu não vou ensinar o jogo aqui, ou este texto ficará enorme. O jogo é estranhamente mais simples na prática do que na teoria. Tudo no jogo se desenvolve organicamente e, apesar de não ter tema, cada ação faz sentido em seu contexto.

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    Cada jogador tem seu respectivo tabuleiro individual, e nele suas ações são aprimoradas removendo as pecinhas e desbloqueando benefícios melhores, como no Terra Mystica e vários outros jogos que beberam dessa fonte. Sim, Hansa Teutonica estava lá no começo de tudo capinando o mato. Ao realizar aprimoramentos, você pode ter mais ações por turno, mover mais peças por ação, ocupar espaços inicialmente proibidos, aumentar seu multiplicador de pontos ao final da partida, colocar mais peças na sua reserva etc.

    Efetivamente falando, Hansa Teutonica é um Ticket to Ride com esteroides. Em ambos os jogos, você completa rotas para marcar pontos, mas em Hansa, você não precisa comprar cartas para completar as rotas, você simplesmente usa uma ação para pegar a sua pecinha e colocá-la no espaço desejado. Você não precisa completar a rota numa jogada só, você pode inclusive deixar sua pecinha ali de boa atrapalhando os sonhos dos demais jogadores que gostariam de completar aquela rota. Sim, antes de mais nada, Hansa Teutonica é um jogo de block.

    https://ludopedia-posts.nyc3.cdn.digitaloceanspaces.com/ca2da_xn8jwt.jpg

    Ao completar uma rota, você pode reivindicá-la. Fazendo isso, você pode colocar uma peça correspondente no espaço adjacente a essa rota ou, em determinadas rotas, aprimorar suas ações, fortalecendo seus próximos turnos. Se optar pela primeira opção, sempre que alguém fizer a mesma coisa em uma rota adjacente a um espaço que você controla, você receberá 1 ponto de brinde. Sim, meus caros, Hansa Teutonica também é um jogo de abada, ficar ali casualmente parasitando pontos às custas das necessidades alheias. Uma verdadeira guerra fria, um campo de diplomacia e agressividade passiva. “Você quer aquela ação extra? Que peeena, eu vou ter que ganhar 1 pontinho por isso”.

    Lembra que eu falei que Hansa é um jogo de block? Como se não fosse suficiente obter pontos com o sucesso dos coleguinhas, você ainda pode tentar atrapalhar a jornada deles para obter ainda mais vantagens! A esta altura do texto, ou você já odeia esse jogo ou ama muito tudo isso. Não tem meio termo.

    Tinha um cubo no meu caminho, no meu caminho tinha um cubo...

    https://ludopedia-posts.nyc3.cdn.digitaloceanspaces.com/45811_xn8jwt.jpg

    Funciona assim: digamos que você seja o jogador amarelo e queira reivindicar a rota na figura. O jogador vermelho sabiamente colocou um cubo ali no meio, fazendo com que você xingue três gerações da família dele. Mas nem tudo está perdido, você pode deliberadamente remover o cubo dele dali, e não há nada que ele possa fazer para te impedir. É isso, você não rola um dado para saber se houve um sucesso ou uma falha, ele não vai jogar uma carta em resposta anulando o seu efeito, você simplesmente remove o cubo dele e pronto, fácil, né?

    NÃO! Isso tem um preço, e é caro! Era óbvio que tinha um preço, não era mesmo? Para fazer isso, primeiro você tem que remover uma peça do seu estoque pessoal e devolvê-la para a reserva, diminuindo assim a quantidade de suas peças disponíveis para as próximas ações. Além disso, o malandro que deixou o cubo dele lá poderá colocá-lo novamente em uma rota adjacente e ainda ganhará uma peça extra do estoque para também colocá-la em uma rota adjacente. Dois pelo preço de um! Espero que essa rota valha bastante o esforço, amarelo (se fosse um cilindro ao invés do cubo, o preço para deslocá-lo seria dobrado…). E como se isso tudo já não fosse o suficiente, tá vendo a peça do vermelho ali no espaço adjacente à rota? Por controlar aquele espaço, ele ganhará 1 pontinho de lambuja.

    É um esquema de pirâmide. Hansa Teutonica poderia facilmente ser ambientado no Egito. Mas não tem tema, então tanto faz.

    1. Coloque suas peças nas rotas, preferencialmente no caminho dos adversários…
    2. Complete as rotas, desbloqueando bônus e gerando pedágios para os adversários…
    3. Com ações mais poderosas, faça mais de 1. e 2. e profit!

    (Claro que os adversários experientes vão querer fazer exatamente a mesma coisa que você…)

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    Isso porque eu nem falei das fichas bônus e dos multiplicadores de pontos por sua maior rede ao final da partida, mas deixemos esses detalhes para um guia estratégico.

    Tudo isso em um jogo que é praticamente zero sorte. “Ah, mas aí não tem variabilidade! Então não quero!”. A tal da variabilidade é definida pelo comportamento dos jogadores. É como um grande Xadrez para três a cinco pessoas. “Se ele jogar aqui, eu vou jogar ali, se responder com essa jogada, eu vou jogar ali também…”. Eu já joguei o base pelo menos umas 10 vezes, e cada partida foi completamente diferente da anterior, mesmo com o mesmo grupo. Os jogadores evoluem com o jogo; as regras são as mesmas, mas a mesa amadurece. Isso porque eu ainda nem joguei com os mapas das expansões. Ainda sinto que não explorei o base suficientemente.

    Em um momento do hobby em que todos os jogos prometem mundos e fundos, tudo é exponencializado, muitos componentes, campanhas intermináveis, componentes deluxificados, metas estendidas, miniaturas coloridas tão grandes que de “mini” não têm nada, Hansa Teutonica ressurge humildemente com mecânicas sólidas, que passaram no teste do tempo, e um sonho.

    Esse jogo nunca vai sair da minha coleção. Eu joguei damas e dominó uma quantidade exaustiva de vezes sempre que eu visitava o meu avô. Os meus netos terão mais sorte, eles jogarão Hansa Teutonica.

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    • Canal

    Vantagens de ter uma coleção pequena
    O Efeito Tichu
    LUDOSTORE
    R$ 240,50 (no boleto)

    Comentários:

  • Um jogaço!

    3

  • Esse jogo é uma delícia demais...quase me mata de tensão toda vez que jogo enquanto espero pra ver se ninguém vai entrar naquela rota que planejo reivindicar no próximo turno. Tudo de bom!

    Mas ele tem um grande defeito q me atrapalha muito. Quem tá jogando pela primeira vez demora a pegar a maldade e em geral vai muito mal...e como quase sempre tem alguém novo na mesa, pesa muito...me peguei pensando enquanto lia seu texto se aquelas cartas de missão que vem na big box poderiam ajudar jogadores novatos dando algum norte a eles...nunca as utilizei, vou pensar nisso na próxima partida.

    2

  • Raneron::Um jogaço!

    Um dos melhores!

    Paschoal::Mas ele tem um grande defeito q me atrapalha muito. Quem tá jogando pela primeira vez demora a pegar a maldade e em geral vai muito mal...e como quase sempre tem alguém novo na mesa, pesa muito...me peguei pensando enquanto lia seu texto se aquelas cartas de missão que vem na big box poderiam ajudar jogadores novatos dando algum norte a eles...nunca as utilizei, vou pensar nisso na próxima partida.

    Ah, sim, com certeza. O jogo em si tem suas limitações, o título é mais uma provocação. Acho que as cartas podem ajudar a dar uma direção sim, colocar umas rodinhas de apoio, mas só a experiência mesmo para ajudar o novato a se defender na selva teutônica. É como xadrez, uma pessoa que só sabe movimentar as peças nunca vai ganhar de um Grande Mestre. A diferença é que em HT jogam pelo menos 3, então vai depender de como os jogadores experientes agem entre si frente ao novato. O que muito provavelmente aconteceria seria um embate direto, e o novato ficaria de fora com menos pontos, porque não sabe das maldades, creio eu.

    2

  • Pedro_Mousli::
    Paschoal::Mas ele tem um grande defeito q me atrapalha muito. Quem tá jogando pela primeira vez demora a pegar a maldade e em geral vai muito mal...e como quase sempre tem alguém novo na mesa, pesa muito...me peguei pensando enquanto lia seu texto se aquelas cartas de missão que vem na big box poderiam ajudar jogadores novatos dando algum norte a eles...nunca as utilizei, vou pensar nisso na próxima partida.

    Ah, sim, com certeza. O jogo em si tem suas limitações, o título é mais uma provocação. Acho que as cartas podem ajudar a dar uma direção sim, colocar umas rodinhas de apoio, mas só a experiência mesmo para ajudar o novato a se defender na selva teutônica. É como xadrez, uma pessoa que só sabe movimentar as peças nunca vai ganhar de um Grande Mestre. A diferença é que em HT jogam pelo menos 3, então vai depender de como os jogadores experientes agem entre si frente ao novato. O que muito provavelmente aconteceria seria um embate direto, e o novato ficaria de fora com menos pontos, porque não sabe das maldades, creio eu.


    Ah, o que citei do defeito não era nem por conta do título do post, era mais um desabafo, pq gosto muito dele, mas volta e meia deixo de jogar pq tem alguém novo na mesa e penso "hm...essa pessoa vai apanhar muito"...hahahaha...o que eu já vi acontecendo é q a pessoa experiente que joga depois do novato costuma ter vantagem, por não ter rotas bloqueadas e tal. Mas acho q isso também mostra como esse jogo faz muito com pouco. Como você disse, ele é mais simples na prática que na teoria, mas tem um nível de maldade que demanda jogar algumas partidas pra pegar e esse é o charme dele.

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  • Paschoal::
    Ah, o que citei do defeito não era nem por conta do título do post, era mais um desabafo, pq gosto muito dele, mas volta e meia deixo de jogar pq tem alguém novo na mesa e penso "hm...essa pessoa vai apanhar muito"...hahahaha...o que eu já vi acontecendo é q a pessoa experiente que joga depois do novato costuma ter vantagem, por não ter rotas bloqueadas e tal. Mas acho q isso também mostra como esse jogo faz muito com pouco. Como você disse, ele é mais simples na prática que na teoria, mas tem um nível de maldade que demanda jogar algumas partidas pra pegar e esse é o charme dele.

    Sim, com certeza. Jogo bom é assim, fácil de aprender, difícil de dominar. 

    2

  • Pedro_Mousli::Em um momento do hobby em que todos os jogos prometem mundos e fundos, tudo é exponencializado, muitos componentes, campanhas intermináveis, componentes deluxificados, metas estendidas, miniaturas coloridas tão grandes que de “mini” não têm nada, Hansa Teutonica ressurge humildemente com mecânicas sólidas, que passaram no teste do tempo, e um sonho.

    Não precisava dizer mais nada!! (mas vou dizer assim mesmo)

    Hansa está no meu top-5... é uma das melhores combinações de simplicidade, genialidade e adrenalina.

    Este seu parágrafo me lembrou um jogo que joguei recente, o Revive. Com todo mundo rasgando elogios e tal, fui jogar a sensação do momento .... bom, seu parágrafo resume bem o meu sentimento com o jogo. Com aparência de inovador, bonitão, cheio de firula, etc..... no fim das contas é só uma salada de pontos com interação irrelevante. Um jogo esquecível.

    Enquanto isso Hansa com cubinhos, cilindros e tabuleiro bege entrega muito mais emoção, elegância mecânica e uma interação positiva genial demais. Um jogo de 2009, atemporal.

    Parabéns pelo excelente texto!

    2

  • rafapaz::
    Não precisava dizer mais nada!! (mas vou dizer assim mesmo)

    Hansa está no meu top-5... é uma das melhores combinações de simplicidade, genialidade e adrenalina.

    Este seu parágrafo me lembrou um jogo que joguei recente, o Revive. Com todo mundo rasgando elogios e tal, fui jogar a sensação do momento .... bom, seu parágrafo resume bem o meu sentimento com o jogo. Com aparência de inovador, bonitão, cheio de firula, etc..... no fim das contas é só uma salada de pontos com interação irrelevante. Um jogo esquecível.

    Enquanto isso Hansa com cubinhos, cilindros e tabuleiro bege entrega muito mais emoção, elegância mecânica e uma interação positiva genial demais. Um jogo de 2009, atemporal.

    Parabéns pelo excelente texto!

    Muito obrigado pela leitura e pelo comentário.

    Eventualmente eu vou produzir um texto sobre essa diferença sutil entre um jogo "mais do mesmo"  (que tem tudo de melhor do mercado, mas não emplaca) e uma verdadeira obra prima de simplicidade, elegância e genialidade, como é o caso do Hansa Teutonica e os melhores do Knizia, por exemplo.

    3

  • Pedro_Mousli::

    Eventualmente eu vou produzir um texto sobre essa diferença sutil entre um jogo "mais do mesmo"  (que tem tudo de melhor do mercado, mas não emplaca) e uma verdadeira obra prima de simplicidade, elegância e genialidade, como é o caso do Hansa Teutonica e os melhores do Knizia, por exemplo.


    Excelente!
    Escreve sim, é importante que mais criadores de conteúdo falem dos clássicos.
    Abs

    3

  • Pedro_Mousli::
    rafapaz::
    Não precisava dizer mais nada!! (mas vou dizer assim mesmo)

    Hansa está no meu top-5... é uma das melhores combinações de simplicidade, genialidade e adrenalina.

    Este seu parágrafo me lembrou um jogo que joguei recente, o Revive. Com todo mundo rasgando elogios e tal, fui jogar a sensação do momento .... bom, seu parágrafo resume bem o meu sentimento com o jogo. Com aparência de inovador, bonitão, cheio de firula, etc..... no fim das contas é só uma salada de pontos com interação irrelevante. Um jogo esquecível.

    Enquanto isso Hansa com cubinhos, cilindros e tabuleiro bege entrega muito mais emoção, elegância mecânica e uma interação positiva genial demais. Um jogo de 2009, atemporal.

    Parabéns pelo excelente texto!

    Muito obrigado pela leitura e pelo comentário.

    Eventualmente eu vou produzir um texto sobre essa diferença sutil entre um jogo "mais do mesmo"  (que tem tudo de melhor do mercado, mas não emplaca) e uma verdadeira obra prima de simplicidade, elegância e genialidade, como é o caso do Hansa Teutonica e os melhores do Knizia, por exemplo.

    por favor! adoraria um texto sobre
    Aliás, parabéns pelo texto do hansa, mto bom!

    2
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Hansa Teutonica: Big Box - O sistema perfeito, que pode não ser para você

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