Essa resenha não é nem um pouco didática. Vou tentar passar um pouco do feeling do Blood Rage, algo que eu gostaria de ver mais nas resenhas da Ludopédia....

Eu sou um euro gamer. Quem me escuta dizer isso pode pensar que eu gosto de empurrar cubinhos por aí, sozinho no meu tabuleiro individual e comparar com os seus cubinhos depois.
Só que não.
Não sei bem porque, eu comecei a conhecer os jogos modernos jogando alguns euros antigos. E uma das características desses jogos é que havia um ALTO grau de interação entre os jogadores. Os jogos tinham muito conflito.
Por exemplo, posso citar a trilogia do tile do Knizia (Tigris & Euphrates, Through the Desert e o meu preferido, Samurai), Méxica (da dupla Kiesling-Kramer) e os outros da trilogia da Máscara (Tikal e Java).
Parece-me que do meio pro final da década de 2000, os Euros começaram a apresentar uma mudança. Ficaram mais solitários, mais com cara de "otimize seus recursos aí, que eu otimizo meus recursos aqui". Não que todos os jogos ficaram assim, ou que não existiam mais jogos com conflito. O fato é que essa tendência se tornou forte.
Observação: Eu tenho pra mim que isso é consequência, entre outros fatores que eu não sei dizer, da diminuição da importância do aspecto espacial nos jogos. O mapa força naturalmente os jogadores a disputarem espaço e criarem conflitos.
Observação da Observação: Talvez uma das outras razões tenha sido o “boom” dos worker placements, uma mecânica típica de Eurogames, e onde o conflito tende a ser indireto.
Obs. da Obs. da Obs.: Não sou historiador de jogos, nem gourmet, nem nada, é só minha percepção. Você pode ter outra.
Exemplos que eu conheço bem dessa nova “geração” de Euros são o Agricola (que tem aspecto espacial de menor importância e sem conflito) e o Village, com conflito indireto. Minha coleção não tem muitos worker placement... J
Daí que muitas pessoas definem Eurogames como jogos em que o conflito é indireto (o famoso multiplayer solitário). Pra mim, essa definição é furada, porque os Euros que eu conheço e gosto são bem confrontacionais (não use essa palavra, não sei se ela existe)!

Nessa resenha eu não falo nada sobre as miniaturas, RÁ!
Entra em cena Blood Rage. Eu não sou amante de miniaturas e jogos que custam muito caro por causa delas, mas, não sei porque cargas d´àgua, no momento em que pus meus olhos nele, eu quis tê-lo. Não parecia ser meu tipo de jogo e eu não tinha dinheiro para comprar, mas comprei assim mesmo.
Tentar classificar esse jogo de Euro ou Ameritrash só mostra o quanto essas definições ficaram no passado.
Por um lado, temos um jogo de controle de área, sem aleatoriedade. Isso coloca o jogo no #TIMEEURO. Por outro lado, temos batalhas onde você nunca sabe o resultado e cartinhas no melhor estilo “Pokemon” (eu te engano e você mostra uma carta que engana o enganador e por aí vai). Isso coloca o jogo no #TIMEAMERITRASH.
Ou seja, não consegui decidir.
Mas minha experiência de jogo foi bem clara dentro mim e posso definir com uma palavra: AGONIA.
Putz, que jogo tenso da bexiga!
Tudo começa no draft. Simplesmente não dá pra decidir com que carta ficar. TODAS SÃO ROUBADAS. O jogo é desbalanceado e exagerado. Só que é assim para todos os lados. E por isso funciona.
Depois você vai para os combates. Qual carta escolher? Será que o filha da mãe vai jogar aquela carta onde todos descartam? Será que alguém vai vir com aquela carta de roubar FÚRIA (eu odeio você, Loki)? É MUITO tenso. É praticamente impossível prever o resultado de uma batalha. É o caos!
Eu faço mil estratégias na minha cabeça, mas nenhuma funciona. E isso me fez apreciar muito a experiência. Eu estava precisando dessa emoção de novo. Foi mal Agricola, gosto muito de você, mas, sacomé....
Tenho que confessar que jogar Blood Rage me deu aquela sensação de disputar uma cidade no Samurai ou concorrer pelo acesso a um oásis do Through the Desert ou de preparar meus tiles vermelhos para um conflito entre Reinos do Tigris & Euphrates. Só que de uma forma mais intensa.

Sim, mais uma imagem caça níquel sem ter nada a ver com o texto
Talvez quando eu jogar o Blood Rage mais vezes, e conhecer melhor as cartas (e os jogadores!), o jogo fique um pouco mais “scriptado” pra mim. É possível, mas por enquanto, me deixa manter a adrenalina no alto!
É isso, se fosse definir o Blood Rage em uma palavra seria: INTENSO.
E caótico, mas aí já seriam duas...