Esse é nosso primeiro tópico no fórum como casal. Este perfil é focado em realizar análises sobre jogos em 2 jogadores, e, após essas informações iniciais (sobre tempo de jogo e interação), temos a análise individual de cada um.
Já jogamos outras vezes, e, nesse Setup acima, utilizamos o mapa "Cisplatina" (para 2 jogadores, com 3 pontos de Chance de Combate, o maior nível de interação do jogo).
Axa escolheu o Monarca "Tibiriçá" e Zero escolheu o "Napoleão".
Tempo de partida: 1 Hora e 30 Minutos
Interação: Nula
Complexidade: Baixa
Diversão: Axa acha divertido por ser "fazendinha".
Testamento de Axa:
Um ponto positivo do jogo que se nota logo no começo é que existem várias formas de montar o mapa. Ele é modular, e você pode montar como o mapa do Brasil ou então seguindo outros desenhos sugeridos no manual. Isso aumenta bastante a rejogabilidade e permite que o mapa seja adaptado ao número de jogadores.
Escolher o monarca que você vai usar não é uma tarefa muito fácil se você não conhece bem o jogo ainda, porque cada um dá uma habilidade diferente. Existem quatro cores diferentes de monarcas, cada uma recebe um tabuleiro de jogador diferente, com custos diferentes para fazer ações, o que lembra muito o sistema de faccções de Scythe. Nesse ponto tenho que falar sobre o problema de que há monarcas cuja habilidade é fazer com que as construções iniciais produzam ouro, que é um recurso coringa no jogo, então eles acabam sendo muito quebrados. Aqui em casa já combinamos que ninguém joga com esses monarcas para o jogo não ficar desbalanceado.
Iniciando o jogo, temos que escolher os objetivos para passar de era (I, II e III). A escolha é feita dentre apenas duas cartas de objetivo por cada era, o que é bastante limitador, e a impressão que fica é que as cartas são todas muito parecidas. Quando o objetivo da terceira era é alcançado por algum dos jogadores, o jogo termina. E não são objetivos difíceis de alcançar, então, a não ser que os jogadores não foquem em cumpri-los, o jogo não é demorado. Nossa terceira partida teve em torno de uma hora e meia.

Cada jogador recebe um recurso inicial, que pode ser madeira, cana de açúcar ou qualquer recurso. Esse recurso é essencial para que seja possível começar o jogo. E aí temos um problema, o início do jogo não nos dá opções do que fazer, é sempre a mesma sequência de ações, por não haver outra possibilidade. Logo no início do jogo deve ser feita a manufatura que faz a reforma, que é a ação de produzir recursos com as construções, não custar mais recursos, assim é possível obter recursos das construções sem ter que manter uma reserva para pagar pela reforma e sem ficar preso a ter que trocar um recurso para obter outros dois. Sem isso o jogo "não anda" e essa é uma das ações da engessada sequência inicial do jogo.
Quanto a exploração do mapa, a cada turno só é possível mover uma unidade, mesmo que você já tenha convocado várias. Somente uma se move. Mesmo assim, fica a impressão que os tiles a serem descobertos acabam rápido, o mapa é explorado muito rápido e se você não fizer logo uma unidade para explorar, vai acabar sem os pontos que a exploração pode te dar.
Sobre as unidades, elas tem meeples bonitos, mas para por aí. Além da movimentação delas ser difícil, não possuem muita utilidade no jogo. O combate é quase inexistente. Com poucas unidades é impossível ganhar um combate no ataque por conta dos pontos de força de combate que o defensor recebe por estar defendendo o território. Assim o combate é adiado até muitas unidades terem sido convocadas e com isso o fim do jogo também acontece (a maioria das cartas de objetivo de terceira era fala sobre ter pelo menos quatro unidades convocadas). As cartas de combate são bastante desbalanceadas, algumas são muito fortes e outras são inúteis em um combate (tem uma carta de combate que dá ouro, não é para o combate, por exemplo).
Algumas construções são totalmente desnecessárias no jogo, como a plantação, porque o ouro serve para tudo, então não faz sentido construir uma plantação para ter algodão se eu já tenho ouro que pode ser usado no lugar do algodão. Acaba que a plantação só é feita no jogo se for para cumprir alguma carta de objetivo. O ouro servir como qualquer recurso (menos a ciência) faz com que não se tenha nenhum esforço para conseguir construir ou pagar por manufaturas ou quadros. Recursos nunca são um problema no jogo.
Acaba que é um jogo "de fazendinha", construir para ter recursos, ter recursos para construir, construir para ter recursos, ter recursos para comprar quadros, ter recursos para manufaturar produtos (melhorar as ações). E fazer isso com foco em cumprir cartas de objetivo antes do adversário.
Bíblia de Zero:
De forma direta, a primeira impressão é que o jogo é um "Mini Scythe". Com diversas mecânicas claramente inspiradas (ou copiadas), o jogo realmente poderia fazer um bom papel nesse sentido.
É um jogo com um tema muito mais agradável (não que o tema de Scythe seja "desagradável"), com cores claras e vivas, peças de facções em tons pastéis, etc, com um Setup muito mais rápido e com uma complexidade muito menor.
De fato, no maior mapa, somando os baralhos (principalmente a oferta aberta de Quadros), consome-se certo espaço, mas ainda assim é um jogo modular. Você consegue alocar cada coisa adjacente (ou não) ao tabuleiro da forma mais conveniente ao seu espaço, seja uma mesa, cama ou chão.
O maior ponto positivo desse jogo é uma parte do Insert (é, não todo). É muito gratificante pegar a parte com os recursos e construções da caixa e deixá-la ao lado do tabuleiro. Pode adicionar um pouco mais de espaço, mas é muito fácil e rápido.
Os componentes (Unidades, Recursos e Construções) são lindos, principalmente a Cavalaria/Dragões. Como citado anteriormente, os tons pastéis adicionam muito à beleza única do jogo.
Dito tudo isso, agora vem a parte ruim.
Como eu disse antes, o jogo se propoe a ser um Mini Scythe (e se não se propôe a isso, quem publicou tá lelé da cuca).
Sendo assim, é entendível que o tabuleiro pessoal não seja dupla camada? É. É entendível que os "Produtos" não tenham detalhe algum? É. É entendível que tenha pouquíssimas cartas de Quadros e Missões? É.
Agora... É entendível tudo isso quando você vê o preço de 500 reais? Na época em que compramos o preço era muito próximo ao do Scythe, que girava entorno disso também (uns 530). Hoje está entorno de 400 com promoções e 450-490 sem.
Já foi o problema do preço não ser compatível com o que vem na caixa. Agora, a mecânica, as regras, o jogo em si, torna o preço compatível? Também não.
Tudo nesse jogo é completamente quebrado.
Ao iniciar uma partida, você recebe 1 Cana ou 1 Pau Brasil, e, se você tiver alguma experiência com o jogo ou estiver prestando atenção, suas ações iniciais sempre serão Construir, depois comprar um Quadro, depois Construir de novo, e depois um Quadro ou Manufatura. O começo do jogo sempre é Scriptado. Para ser bem flexível, dá para, no segundo turno, Manufaturar direto e alocar o cubo na Reforma, e então Reformar. Mas isso não é variedade alguma de ações.
A principal parte negativa do jogo é a gestão de recursos. É a pior dentre todos os jogos inventados na história.
Você facilmente consegue Ouro no terceiro turno do jogo (que funciona como coringa), você facilmente consegue Manufaturar Produtos para que a compra de Quadros tenha 1 de desconto, para que a Reforma seja gratuita, para que qualquer recurso sirva como coringa ao construir (como se já não bastasse conseguir Ouro fácil).
Existem Monarcas que te fazem gerar Ouro ou mais Ouro com as construções iniciais do jogo. Existem Quadros que fazem com que as suas Cartas de Ouro funcionem como Ciência. Existem Cartas de Combate que podem ser gastas como Ouro.
Além de tudo no jogo ser praticamente gratuito e não haver nenhuma gestão de recursos (nunca faltam), o principal problema ao jogar, ao sentir o jogo mesmo, não é que sempre você tem Canas ou Madeiras ou Algodões suficientes para tal ação. É que sempre você tem qualquer coisa para pagar por qualquer coisa. Tudo no jogo é coringa. Tudo no jogo custa "1 recurso qualquer". Você consegue Ouro nas primeiras rodadas. E assim vai.
O que mais me incomoda é o fato do jogo ser uma cópia de Scythe, com as ações não podendo ser repetidas, com os recursos ficando sobre as construções no tabuleiro, com o "Manufaturar Produto", que é tão ruim quanto "Convocar Recruta" (no sentido intuitivo e mecânico da ação), e... Mesmo copiando Scythe, o jogo consegue ser muito pior.
Inclusive, já utilizando esse gancho, é incrível que o jogo peca no exato mesmo aspecto que Scythe peca muito, que é o nome e a intuitividade da ação Manufaturar Produto. Não, eu não tive problemas para entendê-la, mas já vi pessoas tendo, e de fato não é intuitiva a diferença entre Recursos e Produtos, por exemplo.
Fora isso, há um desbalanço completo em simplesmente tudo no jogo. Há construções inúteis, como a Fazenda e a Plantação. Há Cartas de Combate pífias e Cartas de Combate fortíssimas. Há Quadros completamente quebrados e Quadros inúteis. Há Monarcas quebrados e Monarcas fraquíssimos. Etc etc etc.
Sobre o combate... Não tem. Como falei, não é minha primeira partida. Nessa, por exemplo, foi em 2 jogadores com o mapa que é apresentado como tendo o maior nível de interação.
O jogo tenta incentivar o combate alegando que você pode usar construções dominadas para completar missões e, no final do jogo, elas contarão para você e não para o adversário. Mas, mesmo com incentivos, a partida só vai ter combate se a mesa for de jogadores de Twilight Imperium.
O combate é totalmente ineficaz. Em uma das facções, por exemplo, todas as Unidades custam Ouro e Ciência. Todas as rodadas que você gasta comprando cartas de combate, comprando quadros com o intuito de melhorar seu combate, escolhendo um Monarca voltado às cartas de combate, etc, são rodadas que o seu adversário está simplesmente jogando fazendinha, e ele vai vencer a partida.
Em todas as partidas que joguei não fazia sentido entrar em combate. Não fazia sentido usar mais do que 1 ou 2 Unidades para algo além de explorar. E... O jogo sempre acaba antes que o combate tenha chance de existir.
Para ficar explícito, nessa partida eu joguei totalmente focado para o combate. Tentei muito convocar unidades, ter vantagem de cartas de combate, mas ainda assim a oportunidade de ataque era inexistente. Não fazia sentido atacar. Em uma partida anterior, outra adversária resolveu me atacar "só para ver como é o combate do jogo", e nunca mais.
(E sim, meu jovem Padawan, capturar uma Cidade significa um delta de 10 pontos de vitória. O problema é que se você joga contra qualquer pessoa que não esteja desatenta e esteja olhando para as suas jogadas e seu tabuleiro também, ela terá tantas Unidades e Cartas de Combate quanto você, e, além disso, vai poder alocá-las direto na Cidade, que dá mais 5 pontos de combate ao defender. Fora que na ação de Convocar o movimento extra ainda pode puxar uma Unidade qualquer para a Cidade. Se conseguir conquistar algo, não é mérito da estratégia do jogador, que além de tudo depende da sorte das Cartas de Combate fortes.)
O jogo é muito rápido. Você completa a Missão de Era 1 em pouquíssimas Rodadas, em mais pouquíssimas já emenda a Era 2, e em mais quase que pouquíssimas encerra o jogo.
Pensando na questão de ser Mini Scythe, faz sentido ser assim e é bom que seja, mas infelizmente ajuda ainda mais a colaborar com a falta de combate do jogo.
Novamente, as ações nunca vão sair da mesma fórmula (Construir/Reformar -> Quadro/Manufatura -> Construir/Reformar).
As Cidades só prestam pra cumprir Missões mesmo. Como dito no parágrafo do combate, por conta do movimento extra do Convocar e de poder alocar direto nela, talvez em uma partida de jogadores de War faça sentido construi-las. Dificilmente você construirá 3. Ao construir 2, o jogo provavelmente acabou ou acabará na próxima rodada.
Enfim...
Ao vermos notas da Ludopedia, normalmente os 10 e 9 comentam sobre como o jogo é lindo e o tema é maravilhoso.
Ao vermos as notas 2 e 3, as opiniões se dividem entre os que odiaram a mecânica do jogo (por problemas aqui citados, por exemplo) e entre os que odeiam o enaltecimento de certas figuras históricas, o ultra-nacionalismo e o monarquismo.
No final das contas, eu tive uma primeira impressão, e ela se confirmou: O jogo copia mecânicas de Scythe e, mesmo assim, consegue fazer tudo malfeito, e se escora completamente no tema. O jogo é feito por monarquistas para monarquistas.
Mas o balanceamento de todos os tipos de cartas e principalmente a gestão de recursos é tão ruim que é bizarro o jogo ter sido lançado assim. Parece que não houve testes. Parece que tudo que foi falado aqui poderia ter sido falado para um protótipo.
Minha nota para o jogo?
5 no BGG.
Eu até que acho legais as ações do jogo. Construir, comprar quadros...
Se o jogo fosse divertido a nota seria maior. Não interessa o quão quebrado o jogo é, se eu não sentisse tudo isso acima ao jogar, o jogo cumpriria seu papel como jogo.
Mas os problemas são num nível tão absurdo que na sua quinta ou sexta Rodada da primeira vez jogando eles são escancarados na sua cara e você não consegue "ignorá-los" pra se divertir.