Se nas outras obras de arte (como músicas, filmes ou pinturas) as análises buscam trazer os sentimentos, as experiências vividas pela pessoa sujeita à obra, bem como o desejo do artista em expressar algo, por que no jogo de tabuleiro a regra é diferente? Por que usualmente um jogo como Sea, Salt and Paper é descrito focando num aglomerado de mecânicas de carteado sendo que numa música não focamos na descrição das harmonias, intervalos melódicos e figuras rítmicas (a parte "mecânica" da música)? Por fugir disso é que eu gosto bastante da forma com que você analisa o jogo para além das mecânicas e interações nele propostas.
A sua descrição do andamento do jogo traz à tona o que a forma de arte "jogo de tabuleiro" tem de diferente das demais: ela vive (e é capaz de guardar numa caixinha) das agências dos jogadores durante a partida e de toda a impressão que fica da experiência do jogar com outras pessoas (não necessariamente da narrativa, da mecânica ou de qualquer outro aspecto mais "técnico"). Se tem muita ou pouca sorte ou se o tema faz muito ou pouco sentido é secundário quando a combinação jogo + mesa vale a pena; se o que acontece nesse círculo mágico te traz sensações positivas que talvez nenhuma outra atividade traria.