boop.
e a importância da estética para vender jogos
Quem nunca comprou um jogo de tabuleiro simplesmente pela estética? Se você nunca fez isso,parabéns, mas com certeza a estética já foi responsável por atrair seu interesse para o jogo. Pode ser que você tenha lido as regras e não gostado, pode ser que você veja um vídeo e não tenha gostado, pode ser até que você precise jogar o jogo para não gostar. Acontece que uma imensa maioria dos compradores acaba parando na estética, e se isso satisfazer, já é o suficiente para que a compra seja efetuada. E toda a vez que eu disser estética, entenda que estou me referindo tanto ao tema quanto à beleza do jogo em si: caixas, manuais, componentes, apresentação geral. Ou seja, nada que seja relacionado à jogabilidade ou a mecânica do jogo.
(Flamecraft, gerou diversas críticas negativas, mas tem componentes maravilhosos. Esgotado no Brasil por qual motivo?)
Eu já pequei uma vez na vida e fiz exatamente isso quando trouxeram o
Calico para o Brasil. Eu e minha esposa adoramos gatos, e a arte da caixa foi suficiente para nos fazer olhar na loja e levar pra casa. Olhei no verso da caixa e vi que era um jogo abstrato, como gostamos de jogos abstratos eu achei que não tinha erro, levei sem nem saber como era o jogo.
Os deuses felinos resolveram nos abençoar e tivemos sorte, e o jogo é um dos favoritos aqui em casa, mesmo tendo sua parcela enorme de pessoas que não se dão bem com ele, pois é um jogo extremamente punitivo, onde cada peça que você posiciona vai te dar pontos mas vai tirar uma quantidade muito maior de pontos que você poderia fazer.

(Calico com sua bela caixa, e seus componentes de jogo que nada tem a ver com ela.)
Eis que no meio de 2024 chega ao Brasil o jogo
boop. e o tema nos captura novamente a atenção. Caixa linda? Check. Componentes lindos? Check. Jogo abstrato? Check. Não tem como dar errado... mas sejamos mais cautelosos desta vez.
(Vários gatinhos empurrando um ao outro de cima da cama.)
Parei pra ler as regras. 30 minutos depois eu soltei um “É só isso?”. O jogo deve ser genial no gameplay, bem como quando vemos as regras do
Azul ou do
Hive e só entendemos como o jogo é bom depois de jogar. Com componentes e regras absurdamente simples, eu tinha que fazer uma versão caseira para testá-lo antes.
(Minha versão caseira do boop.)
Eu poderia ter usado papel e caneta pra fazer o tabuleiro, mas preferi usar um grid de batalha riscável. Eu poderia ter usado tampinhas, feijões ou qualquer outra coisa pra substituir os gatos, mas resolvi usar meeples pequenos e meeples grandes. Peguei os trabalhadores do
Dinosaur World e os sacerdotes do
Terra Mystica.
Então o tema do jogo mudou, ao invés de gatos pulando no colchão e jogando os outros pra fora, são grandes magos que são invocados no meio do campo de batalha, empurrando tudo o que estiver perto com sua magia.
Jogamos uma, duas, três, quatro e talvez até cinco vezes, bom de jogo rápido é isso. Ao final tivemos sentimentos mistos: o jogo não é ruim, longe disso, mas é simples demais. Faltava alguma coisa. Tiramos a conclusão que não valeria a pena ter na coleção, pelo menos não pelo valor que estão pedindo. A gente não ia tirar ele da estante pra jogar.
Fui pesquisar mais a fundo e descobri que o boop. era uma reimplementação de um jogo de pouco sucesso chamado
Gekitai. Basicamente adaptaram as regras para se encaixar no tema, fizeram excelentes componentes e um marketing agressivo. Sucesso.

(Gekitai com toda a sua simplicidade. Minha versão caseira ficou mais bonita?)
Pesquisando mais a fundo, os caras do boop. não pararam por aí, já emendaram o
BOOoop. que tem outros componentes bonitos e uma mecânica de parede, e estão prestes a lançar o
boop the halls! que tem mais componentes bonitos e mais camadas de altura em relação ao original. Se são melhores que o original, não sei, pode ser que tenham regras que transformem o jogo da água pro vinho, basicamente o que aconteceu entre o jogo da velha e o
Nhac Nhac. Não estou muito animado para testar as outras versões.
No final me deparei com algumas perguntas que gostaria de compartilhar com vocês. Vamos levar a discussão aos comentários.
1. Se eu tivesse jogado o jogo original ao invés da versão caseira, teria gostado mais? E você?
2. O quão importante é a arte ou beleza dos componentes na hora de jogar algo?
3. Para vocês, qual se vende melhor? Jogos lindos e ruins ou jogos horrorosos mas ótimos?
Um Texto de
Renan Rondon
2024