Raio::Sr iuribuscacio
Perfeita sua colocação. Explicando melhor a minha, me incomoda muito o fato da lei ser aplicada com pesos e medidas diferentes.
A discussão penderia para outros rumos se compararmos o problema da pirataria de jogos de tabuleiro com um problema que mata muito mais e tira o emprego de muito mais pessoas como os crimes de colarinho branco, então não vou entrar nesse mérito.
Tenho cópias "home made" do Catan e sua expansão para 5-6 jogadores. E uma cópia do Bullfrogs porque ganhei de um amigo um set completos dos meeples de sapinho e precisei "apenas" confeccionar as cartas, o que acabou virando um hobby dentro do hobby. Confeccionar cartas, tabuleiros e tokens é muito satisfatório (pelo menos para mim).
Já fiz também uma cópia do Quirkle e uma do Can't Stop pois ambos para importar são caros (mas ainda bem que uma editora vai lançar o Quirkle aqui no Brasil, o que muito me agrada e irei garantir uma cópia.
Se isso me faz um criminoso, então criminoso sou e não nego. E não acho ruim de pagar o preço cheio de um jogo AAA atualmente, desde que ele me agrade, mas me nego a pagar (apenas como título de exemplo) trezentos reais ou mais importando um Scout ou uma expansão do Flamme Rouge que são apenas algumas cartas e tokens. Prefiro bancar a pecha de criminoso e produzir o meu próprio.
Foi isso que eu quis dizer 
Caro
Raio
Meu camarada, essa situação da lei ser aplicada com dois pesos e duas medidas, infelizmente é uma realidade que existe no Brasil desde que Cabral aportou aqui. Qualquer pessoa com um mínimo de conhecimentos a respeito, ou que já tenha experimentado isso na pele, sabe a diferença que é enfrentar o Poder Judiciário, especialmente a Justiça Criminal, sendo uma pessoa branca e rica e sendo uma pessoa preta e pobre.
Eu não vou posar de vestal e dizer que nunca fiz cópia house made de jogos, porque eu já fiz isso, especialmente no meu início no hobby, quando ainda não haviam lançamentos nacionais e importar era complicadíssimo. Mas conforme o tempo foi passando, e o mercado nacional crescendo, eu vi cada vez menos sentido em fazer isso, inclusive do ponto de vista do custo. Normalmente, os jogos house made são os jogos de carta, e mesmo com algumas exceções, com o Dixit, esses jogos costumam ser mais baratos. Claro que escanear as cartas, alinhar e imprimir em uma boa gráfica, em papel 240 g/m2, vai sair mais barato, mas não é tão mais barato assim, a qualidade acaba sendo inferior, e acima de tudo, dá muito, mas absurdamente, muito trabalho. E nesse caso a economia quase nunca compensa.
No mais, como eu disse antes pirataria é crime, e acaba fazendo mais mal do que bem no longo prazo, portanto eu acho que não dá para endossar ou apoiar esse tipo de prática. Mas, mesmo sem apoiar a pirataria, existem outras considerações a serem feitas a respeito. A pirataria, mesmo sendo um crime, na verdade é um crime que nasce do desejo da maior parte da população em consumir produtos legalmente, mas que encontra o obstáculo de uma lógica de produção baseada na exclusão, em que se prioriza produzir pouco e vender caro, do que produzir muito e vender barato. Só para ficar em um exemplo, é comum algumas pessoas menos abastadas apelarem para a "gatonet" da TV e acabo, mas ao mesmo tempo duas pessoas da mesma família terem assinaturas da Netflix, e isso é apenas um exemplo. O motivo disso é apenas um: a TV a cabo é muito cara e a assinatura da Netflix é barata. Se uma assinatura de TV a cabo custasse R$ 70,00, absolutamente ninguém apelaria para o "gatonet", e a empresa lucraria mais pela quantidade de pessoas que passaria a ter a assinatura legalizada.
A mesma coisa acontece com os board games, porque se as tiragens aumentasse, e os preços diminuíssem, nem que fosse um pouco, isso seria bom para os compradores, porque eles poderiam comprar mais jogos e a melhores preços, e bom para as empresas que lucrariam mais no maior volume de vendas. Não precisava nem ser uma aumento drástico da produção, bastava passar de 1.000 a 2.000 unidades, para 3.000 a 5.000 unidades, e obviamente baixar o preço na mesma proporção que isso já faria uma diferença estrondosa. Infelizmente o raciocínio é exatamente o oposto, ou seja, produzir menos unidades por jogo, aumentar a quantidade de títulos lançados, para abranger um público consumidor mais diversificado, e vender os jogos cada vez mais caro.
Nesse sentido, eu vejo muito no mercado nacional de jogos aquilo que aconteceu com a indústria fonográfica. Quando só haviam discos de vinil e fitas cassetes de qualidade sofrível, as gravadoras cobravam o que queriam pelos seus produtos. Quando os primeiros gravadores de CD domésticos chegaram por aqui a coisa começou a mudar, e a chegada do formato mp3, foi o último prego no caixão da outrora superpoderosa indústria fonográfica. Traduzindo isso para os board games, ainda dá muito trabalho rodar um jogo em casa, m vamos imaginar que a tecnologia avance nesse sentido e daqui a alguns anos seja comum ter impressoras baratas e de altíssima qualidade em casa, inclusive impressoras 3D. Nesse momento, talvez as pessoas comecem a se perguntar, porque elas deveriam pagar R$ 70,00 em um jogo de cartas, quando elas podem escanear as cartas da cópia de um amigo, jogar em um programa que já faça o alinhamento automático (e isso se não houver as cartas prontas para baixar), e imprimir em papel especial, sem precisar recorrer a uma gráfica.
Por fim, é preciso destacar que pirataria é uma questão de preço, porque ninguém escolhe comprar o produto pirata, e correr o risco de receber um produto de qualidade muito inferior, se o produto original for barato, ou pelo menos não for tão caro. Infelizmente, barateamento de preço é uma pauta que está cada vez mais distante das grandes editoras nacionais de jogos, e pelo visto continuará assim, pelo menos até acontecer com os board games, o mesmo que aconteceu com a música, e nessa hora talvez seja tarde para fazer alguma coisa, exatamente como aprendeu a duras penas a indústria fonográfica.
Um forte abraço e boas jogatinas!
Iuri Buscácio