Stage 2: START
Na primeira fase desse artigo o Patrick Matheus revelou vários detalhes de COMO fizemos a arte do O Bom do Videogame.
Desenvolvendo a arte do O Bom do Videogame
Inspirações, diretrizes, metodologia... mas, O QUE realmente fizemos para chegar ao resultado que está agora na sua estante?
Em uma palavra: Atenção aos Detalhes.
Opa... foram três.
O Patrick Matheus é escultor por paixão e profissão. Um artista, de fato. E por ser assim, carrega com ele um perfeccionismo absurdo no qual, confesso, chega a ser bem chato em determinados momentos.
Por outro lado, eu fui a criança que realmente queria ser O Bom do Videogame nos anos 90. Pra mim esse não é apenas um jogo, é uma biografia lúdica.
Desde o começo do desenvolvimento eu sempre quis que a infância da época pudesse ser revivida no tabuleiro, e para tal, ela precisaria ser o mais imersiva possível.
Assim, juntando o exigente com o sonhador, carregamos o projeto com um alto nível de atenção aos detalhes, pois cada elemento devia passar pelo crivo de ambos e, em cada etapa, um dos dois acabava sendo mais exigente que o outro.
Quer ver no que deu toda essa exigência?
Bora!
Quais dois cartuchos você aluga para detonar no final de semana?
Um dos elementos fundamentais da experiência é que o ato de alugar cartuchos na locadora precisaria remeter ao que realmente acontecia nos anos 90.
A criança chegava na locadora, pegava a caixa do cartucho e ficava ali, namorando a imagem, imaginando como seria aquela aventura em 16 bits.
Assim, toda e qualquer ilustração dos nossos cartuchos precisaria passar a energia dos anos 90, ao mesmo tempo que o conjunto de cartuchos deveria remeter à diversidade de capas existentes.
Para atingir esse objetivo, convidamos mais de 20 artistas brasileiros para ilustrar os cartuchos, permitindo-os expressar seus traços com singularidade e autênticidade.
Tudo para que você olhe a locadora e realmente acredite que aqueles cartuchos pudessem, de fato, existir.
Como cada carta é ilustrada para que remeta a uma capa de cartucho real, tais ilustrações são de alto nível, batendo de frente com artes que geralmente são encomendadas apenas para a caixa em alguns jogos de tabuleiro.
Diz ae se essa ilustração não poderia estar na caixa de um boardgame.
E esse nível dos artistas está sendo reconhecido mundialmente.
No O Bom do Videogame você encontra artes de ilustradores que atualmente estão sendo contratados pela Marvel, Disney, Fantasy Flight e até para projetos do Richard Garfield.
Uma verdadeira galeria de arte em 31 cartas tamanho Dixit, pra ficar bem chamativo na mesa.
Essa arte em si é tão impactante que, lá pra 2019, durante o Press Release de imprensa, toda nossa publicidade foi focada em quanto esses cartuchos remetiam à época.
Quem nunca namorou anúncios assim nas revistas de videogame dos anos 90?
E isso porque você está vendo eles pela frente.
No verso aproveitamos pra elevar a nostalgia ao máximo, nos inspirando em cartuchos com formatos verticais, como o de Atari e Game Boy. Assim adicionamos ondulações de encaixe para os dedos, reentrâncias para as travas do videogame, e até os parafusos de fixação.
Se não pegar, é só soprar.
Mas é claro, nem só de cartuchos os anos 90 marcaram época.
Um dos elementos mais marcantes desse período foram as revistas de videogame, que íamos comprar direto no jornaleiro, isso quando não resolvíamos tentar aquela espiadinha nos macetes direto da prateleira.
Esse momento em si é tão icônico que revolvemos adiciona-lo ao jogo.
O verso da carta de revista contém uma prateleira completa, com as revistas em várias quantidades e o clássico ferrinho que segurava tudo para não cair.
No começo do mês uma parte da mesada já ficava por aqui.
E a própria carta de revista também contém uma nostalgia adicionada.
Ela possui páginas dobradas, o grampo na lombada e os gêneros dos macetes são linguetas marca página. Tudo pra parecer uma revista de verdade.
Assim como na época, as capas dos próprios jogos ilustram as capas das revistas.
E nem só de carta vive um jogo de tabuleiro.
Indo para os Tiles, um que sempre me encantou são as Fichas de Promessa.
Uma promessa para seus pais de que você irá estudar e se comportar, que é usada como barganha na hora de conseguir dinheiro e cartuchos de presente.
Essas promessas ilustram bem como, na hora de pedir as coisas, parecíamos anjinhos, bem diferentes dos capetinhas que podíamos ser em outras oportunidades.
Duvido que você não fez isso na sua infância.
Outro elemento da época que vinha das próprias crianças era o caderno de macetes, que nem todo mundo tinha organizado.
Para alguns, bastava umas folhas arrancadas do final do caderno e lá estavam todos os golpes e Fatalitys do Mortal Kombat.
Foi remetendo a uma folha dessas que fizemos o Cadernos de Passwords, com a clássica pauta e textura, além de ter os quadriculados e as setas feitas "à caneta", rabiscado mesmo, como se estivesse desenhado pela própria criança.
Isso se a criança fosse caprichosa, né? Nas minhas folhas só tinha garrancho.
Falando de videogame, em especial àqueles dos anos 90, no ápice dos 16 Bits, não podemos nos esquecer dos personagens pixelados. Um estilo de arte que, te confesso, ainda faz meu coração balançar.
Como para os cartuchos nós decidimos ilustrar suas capas, e não a tela de jogo, ficou faltando um espacinho para que pudéssemos relembrar a arte dos próprios jogos.
Nós aproveitamos para trazer essa lembrança em outros componentes.
A Peça de Descarte, por exemplo, é uma que, por definição, seria interessante mostrar uma lixeira.
Nós aproveitamos a deixa e fizemos uma bem aos moldes do Final Fight e Streets of Rage, com Frango e tudo, que certamente seria um pedacinho da tela do nosso cartucho District Disorder.
Para completar, colocamos nos Meeples artes pixeladas dos personagens dos cartuchos, que ficaram do jeitinho que eles seriam em suas próprias aventuras.
Da época que pegar comida no lixo recuperava a energia.
E tá certo que escrita também é uma arte, mas se formos considerar apenas a diagramação, esse esmero sobrou até para o Livro de Regras.
Isso porque resolvemos colocar tudo separadinho, com as regras direto no texto, blocos rosa para detalhes de regras e blocos amarelos para dicas e esclarecimentos.
Uma inovação nessa parte é que o nosso texto em NEGRITO funciona de uma forma nunca vista antes, no qual é só ler o texto destacado para se lembrar da regra, sem perder tempo com minúcias.
À propósito, você pode conferir todo esse processo de elaboração do Manual nesse artigo aqui:
Como escrevemos o Manual do O Bom do Videogame
Isso que você leu em segundos rendeu mais de 9 horas nesse processo! Imagina o resto...
Enfim, detalhes, detalhes e mais detalhes.
"A perfeição é feita de pequenos detalhes – não é apenas um detalhe."
- Michelangelo (o renascentista, não a Tartaruga Ninja)
Assim como Michelangelo, Patrick e eu fomos guiados mais por nossas próprias convicções do que pela necessidade ou exigência externa, visto que é claro o quanto nos aprofundamos em demasia em cada um desses elementos.
E assim, por agradar ao nosso artista e criança interior, esperamos que pudesse, também, agradar a você, que estará em contato com tudo isso a cada vez que o jogo for para a mesa.
Pessoalmente, achamos que esse processo mais intenso, dedicado, poderia se tornar mais comum em nossa indústria, principalmente aqui no Brasil, onde carecemos de mais destaque internacional.
Felizmente O Bom do Videogame já conseguiu uma pontinha desse destaque lá fora, devido ao Selo de Excelência recebido pelo The Dice Tower, e também por ter sido assinado pela Arcane Wonders, saindo em breve pela linha "Dice Tower Essentials". Um mérito que, até então, só o The Sheriff of Nottingham possui entre os jogos brasileiros.
E, caso você concorde que esse processo poderia ser mais frequente, e que esse tipo de atenção aos detalhes mereça destaque, uma forma de fazer isso é considerando votar no O Bom do Videogame para o prêmio Ludopedia na seção Melhor Arte.
Prêmio Ludopedia 2023: Melhor Arte
https://ludopedia.com.br/votacao/251/melhor-arte
Afinal, esse seria um detalhe a mais no reconhecimento de todo esse processo e, como você acabou de perceber
O detalhe faz toda a diferença.
