O que eu gosto no jogo é uma série livremente baseada nos vídeos My Favorite Game Mechanism do designer de jogos Jamey Stegmaier. Nessa série eu vou tentar falar em termos gerais as coisas que mais me chamam a atenção em um determinado jogo, sem me preocupar em explicar regras. Ou seja, você vai ver uma análise de forma mais objetiva e direta de um jogo.

Apesar de ainda não ter saído no Brasil, Lewis & Clark é um jogo muito popular e presente em muitas coleções por aqui. Os tópicos do jogo também costumam ser bastante movimentados, gerando muitos comentários sobre sua mecânica inovadora. O jogo está no top 100 do ranking do site BoardGameGeek com uma nota 7.6.
Lançado em 2013, o jogo é do designer francês Cédrick Chaboussit que, além do Lewis & Clark, lançou apenas um spin-off do próprio jogo (Discoveries, lançado em 2015). Mas, mesmo que você não tenha ouvido falar de outros jogos do autor, vale a pena dar uma olhada e conhecer melhor a mecânica desse jogo fantástico com arte do incrível Vincent Dutrait.

A arte do tabuleiro central é uma das mais bonitas da minha coleção
Basicamente,
Lewis & Clark é um jogo de corrida. Vence quem chegar primeiro ao final de uma trilha que representa os rios e montanhas que cortam os Estados Unidos. E é aqui que o jogo se distingue de outros do gênero.
Lewis & Clark é um jogo muito temático. Um euro com alocação de trabalhadores, administração de cartas, movimento programado e até mesmo uma espécie de leilão. Tudo isso tendo como fundo a expedição liderada por
Meriwether Lewis e
William Clark que, a pedido do presidente americano
Thomas Jefferson, partem para explorar a porção oeste do continente que acaba de ser comprada de
Napoleão.
Se você assistiu o filme
O Regresso (aquele em que o
Leonardo DiCaprio finalmente ganhou um
Oscar, que se passa exatamente nessa época), vai estar bem situado na dura realidade que terá que enfrentar aqui. Você precisará caçar para obter comida e pele de animais, arranjar madeira e equipamentos, além de cavalos e construir barcos. Tudo para avançar o seu grupo cada vez mais rio acima, rumo ao
Fort Clatsop, última parada antes do Pacífico.
Os líderes das expedições e todo um rio à frente para desbravar
Agora que você está situado, vamos ao jogo em si. Ao invés de ficar só naquele padrão de alocação de trabalhadores te dando alguns
meeples para marcar suas ações, ele também te dá cartas para representar alguns desses trabalhadores. Ou seja, você tem as duas coisas no mesmo jogo. Boa parte das ações você vai executar usando duas cartas, uma com o símbolo da ação a ser executada, outra, virada ao contrário, marcando quantos trabalhadores você está usando para esta ação.
À medida em que o jogo avança você irá se encontrar com diversos nativos e caçadores de peles de animais que se tornarão seus ajudantes. Os novos trabalhadores poderão ser novos
meeples simbolizando os nativos, mas também poderão ser novas cartas. Cada nova carta traz uma nova ação que poderá ser realizada, assim como mais gente pra ser mão de obra. Tudo muito bem sinalizado com uma iconografia única. A arte das cartas é tão incrível quanto a do tabuleiro em si.
Cada novo personagem traz uma nova possibilidade ao jogo
A corrida para ver quem consegue primeiro uma determinada carta também deixa a interação entre os jogadores bem interessante. Não chega a ser um leilão, mas os valores das cartas podem ser alterados por outros fatores e esperar o momento certo para trazer um novo membro à sua expedição pode ser primordial para uma grande jogada. Os personagens são todos baseados nos relatos históricos e apresentam características únicas que deixam o jogo ainda mais rico.
Willian Clark e seu ajudante nativo realizando uma ação que o faz avançar no rio
Mas uma das coisas que mais me agrada no jogo e o faz ainda mais temático é que a todo momento ele te lembra que você está em uma expedição e, como tal, você precisa parar para acampar às vezes, interrompendo seu avanço. Isso acontece sempre que suas cartas acabam e você precisa retornar as que estão na mesa para a sua mão. Nesse momento, inclusive, você pode ser atrasado se estiver carregando mais recursos do que consegue ou se tiver muitos nativos na expedição. Todo seu planejamento tem que ser pensando estrategicamente a cada rodada para que você saiba exatamente o quanto precisa de cada coisa. E, se precisar, você pode expandir seu grupo adicionando novos barcos para comportar todas as coisas.
Além de todas essas coisas,
Lewis & Clark ainda te coloca em uma posição de escolher qual a melhor forma de avançar. Isso porque nem sempre sair correndo na frente é a melhor opção e aguardar para fazer um combo melhor de ações pode te fazer ir mais longe. E, por mais que todos os jogadores tenham uma mão inicial idêntica, o que poderia fazer com que todos fizessem a mesma ordem de ações, dificilmente isso vai acontecer. Em diversos momentos do jogo você verá as expedições se afastando e se reaproximando, principalmente quando se chega perto das montanhas que cortam os rios e te fazem ter que mudar toda a estratégia, uma vez que avançar pelas montanhas exige uma estratégia diferente da de avançar pelo rio.
Acampamentos na região das montanhas: aqui o jogo desacelera e as estratégias mudam
O
down time do jogo é bem baixo, uma vez que cada jogador só faz uma ação obrigatória por rodada e o fato de que os turnos não terminam exatamente ao mesmo tempo também muda bastante o jogo. O primeiro jogador não leva vantagem alguma no decorrer da partida e todos tem as mesmas chances de chegar ao destino.
Lewis & Clark é um jogaço. Um euro com tudo o que um euro precisa ter, sem ser um jogo demorado e pesado, mas com muitas possibilidades de ações, com temática forte e bem encaixada na mecânica do jogo. Uma partida pode levar de 1h30 a 3h, dependendo da experiência dos jogadores, mas passa por tantas situações diferentes que não chega a ser cansativo ou complexo demais, pelo contrário, se mostra simples e objetivo, mas muito estratégico. Um jogo com tema familiar (e histórico) e que pode ser jogado com um grupo com boa experiência em euros ou em um grupo novo nesse universo, sem exigir um conhecimento profundo do mundo dos
board games. Além de tudo, tem uma arte digna de premiações. É um jogo que, sem dúvida alguma, merece estar na sua coleção.
O jogo ainda não tem previsão de pintar por aqui traduzido, mas o
Discoveries, seu
spin-off, sai esse ano pela
Ludofy Games.
Se você gostou do conteúdo, você pode ver mais nosso canal
aqui, e seguir o
Deathmatch nas redes sociais:
Instagram e
Facebook.