Primeiramente, parabéns pelo tópico. Gosto muito desses tópicos que discutem a relação, o gosto, dentre outras coisas mais subjetivas dentro do hobby. Acho muito interessante a gente colocar nossas experiências com o hobby, aquilo que nos faz repensar o consumo, o perfil de jogador, as mecânicas preferidas, os temas, etc.
Entendo perfeitamente sua experiência, mas meu pensamento vai muito ao encontro do @RaphaelGuri, do @Raio e do @Júlio Ferreira.
Não vejo nenhum problema no colecionismo ou em não conseguir jogar todos os jogos da coleção em um ano ou em cinco anos. Se fosse assim eu nem compraria livros, apenas pegaria na biblioteca emprestado e devolveria. Também não teria comprado filmes em DVD, pois bastaria locar na locadora (o que nem existe mais) ou me contentar em ver o que tem na prateleira dos streamings.
Eu tenho uma estante de livros que 99,99% eu li apenas uma vez e não pretendo me desfazer. Livros que li mais de uma vez foram apenas os da faculdade. Nem os livros que eu sou extremamente apaixonado como “o Cemitério” (Stephen King), “O Búfalo da Noite” (Guillermo Arriaga) e “O Conde de Monte Cristo” (Alexandre Dumas) eu li mais de uma vez. Mesmo assim os mantenho na estante.
Os filmes, que passam dos cem, também seguem na minha prateleira. Vez ou outra revejo alguns clássicos do cinema que não se encontram na internet ou os velhos e bons Faroeste Spaghetti, principalmente os do Sergio Leone. Filmes são mais fáceis de ver repetido do que um livro. Até porque eu sempre estou buscando novas leituras, então prefiro focar em novos livros que estou interessado do que reler os antigos no momento.
Com os jogos tenho o mesmo pensamento. Porém, me comporto diferente com minha coleção. No momento tenho moldado ela ao meu gosto, então tenho vendido jogos que não vejo perspectiva de ver mesa e que não ganharam tanto meu coração, mesmo que à época eu tenha curtido o gameplay e gostado quando botei na mesa nas primeiras vezes, como foi o caso de Reykholt e Carcassonne, recentemente. Então, vendi. Mas na perspectiva de abrir espaço para outras aquisições que estão em planos.
Não gosto de me ater a um número cravado que seria o ideal para minha coleção. Até porque a relação com os jogos é subjetiva. Então cravar que minha coleção deve ter 10, 20 ou 50 jogos para mim não tem sentido. A única lógica nisso seria um critério objetivo: a falta de espaço. Aí sim eu pensaria em quantificar um número que balizaria o tamanho da minha coleção.
E isso tudo para chegar ao cerne da pergunta: o que eu busco nos jogos?
É uma resposta que seria longa, mas vou tentar resumi-la na minha postura e com uma citação. Eu busco me divertir, entrar em imersão, passar um tempo com qualidade e diversão com minha esposa (futuramente com meus filhos, que estão com menos de 3 anos e ainda não consigo jogar com eles; na verdade, meu tempo de jogar é quase um evento, pois desde que me tornei pai – tenho dois filhos – eu basicamente consegui jogar umas 6 vezes nos últimos dois anos e meio), exercitar a mente como uma palavra cruzada, passar o tempo, relaxar.
Por fim, um historiador e linguista chamado Johann Huizinga escreveu um livro que tem tudo a ver com este tópico; se chama “Homo Ludens: o jogo como elemento da cultura”, de 1938. O livro é bem complexo e traz inúmeras reflexões, mas aqui deixo uma citação que penso ser bem significativa para o tópico:
"Como a realidade do jogo ultrapassa a esfera da vida humana, é impossível que tenha seu fundamento em qualquer elemento racional, pois nesse caso, limitar-se-ia à humanidade. A existência do jogo não está ligada a qualquer grau determinado de civilização, ou a qualquer concepção do universo. Todo ser pensante é capaz de entender à primeira vista que o jogo possui uma realidade autônoma, mesmo que sua língua não possua um termo geral capaz de defini-lo. A existência do jogo é inegável. É possível negar, se se quiser, quase todas as abstrações: a justiça, a beleza, a verdade, o bem, Deus. É possível negar-se a seriedade, mas não o jogo".