Eu sempre fui um cara que gostou muito de jogos, e numa infância onde era dominada pelo finado Turbo Game, depois Master System, PS1 e por aí vai, era uma questão de tempo pra chegar nos analógicos.
D&D está na minha vida desde a minha adolescência, e o Magic também. Comecei com D&D no ensino médio, depois de ter jogado vários outros RPGs da época (3D&T, Tormenta, TAGMAR, GURPS e Vampiro), e nunca mais saiu de perto de mim. Ainda hoje é provavelmente meu sistema favorito, e volta e meia tô mestrando.
Quebrei o cofrinho pra comprar esse na época...
Magic já foi outra parada, em um tempo onde tínhamos poucos Card Games no país, comecei a jogar na época do Bloco de
Máscaras de Mercádia, e fui parar no bloco de
Ravnica (o primeiro). Então, por mais que eu não tenha escrito ainda um texto esse ano (
e peço perdão por isso, trabalho + planejar um casamento tá fod4 pra mim),
o encerramento do material físico em português da Wizards me pegou o suficiente pra eu falar sobre. Bora lá?
Como eu falei,
havia muito tempo que eu não jogava Magic, mas no fim do ano passado, eu decidi criar um grupo pra jogar
Draft. Eu não estava na intenção de montar decks, de ir atrás de meta, de jogar torneio e nem nada disso. Eu só queria
abrir booster e jogar com os amigos, então iniciamos o grupo, e temos feito desde outubro do ano passado. A cada dois meses tem draft. Ontem (literalmente) foi um desses dias, onde nós nos juntamos e nas conversas o
tom foi meio fúnebre.
Mais uma vez jogando nosso Draft (e na foto faltando um atrasado).
Por mais que eu entenda e jogue em inglês, o que importa aqui nesse sentido é o
“gathering” que está no fim do título do jogo Magic.
Sem comunidade, a gente não tem jogo.
Simples assim.
E como a gente joga se metade do grupo
não sabe ler inglês?
E todos os boosters pra fazer esse evento
estão em PTBR, o que significa que, em algum momento, o grupo vai terminar por
falta de material (ainda falta muito, eu sei, já que até o momento fizemos
Forgotten Realms, Theros: Beyond Death, Guildas de Ravnica e Lealdade em Ravnica), ainda mais se levando em consideração gostos pessoais de cada um. Tem gente que por exemplo, não quer jogar com carta frente e verso.
E tá tudo bem.
O entendimento óbvio que nós temos aqui é “sem produto em português, a barreira de entrada pra novos jogadores piora consideravelmente”. E isso é uma
pura verdade, mas pra dar meus dois centavos sobre o assunto eu vou ter que ir mais fundo.
- SOBRE O D&D -
Primeiro, voltando a falar sobre o D&D, nós
não vamos sofrer em absolutamente nada. Temos grupos extremamente capazes que
SEMPRE disponibilizaram os livros inclusive muito antes de ter uma tradução oficial no Brasil. (Busca no google aí que tu acha, cabra)
Quando a Calango lançou a sua versão oficial aqui no BR,
eu não comprei. Porque a tradução de
fã foi sinceramente, melhor. E aquele PDF já supria tudo o que eu precisava.
“Ah mas Bomba, tem que ajudar as editoras, tem que comprar pra fomentar o produto nacional”.
Eu concordo.
Mas a partir do momento que a empresa não te respeita e entrega um livro, que o propósito é ter palavras com sentido, e faz isso de forma merd4, sinceramente, eu tô totalmente fora. Mas saindo do âmbito de opinião pessoal,
a Calango PAGOU pelo direito de imprimir os livros da quinta edição em PTBR, e assim o fez. Por aproximadamente dois anos. Até que a Wizards disse “
Calango, eu quero minha licença de volta, toma aqui a multa, eu que vou imprimir e vender no BR”.
Os cara me lança o LIVRO DO MONSTRO escrito no título "MONSTER MANUAL", você só pode tá de sacanagem com minha cara.
E por isso nós tivemos a segunda tiragem de D&D 5.0 no Brasil.
E até aí estava tudo certo. O que não faz nenhum sentido pra minha pessoa é
PORQUE FOI TIRADO O DIREITO DA CALANGO SE A INTENÇÃO ERA ACABAR COM TUDO???
Simplesmente não faz sentido. Nem monetariamente faz sentido. Estamos em um boom RPGístico no Brasil, estamos vendo o
Tormenta estourando todas as metas no KS, junto com o
Atividade Paranormal. Temos vários RPG’s entrando no Brasil, e um dos maiores Staples do mundo,
está saindo daqui.
Enfim, não sei como vai ficar a situação
OFICIAL do OneD&D no Brasil, mas espero que pelo menos eles
ouçam a Calango ou quem quer que seja pra que esse produto também esteja no Brasil. No meu texto sobre a
Bienal, eu cheguei a falar sobre o assunto.
É muito estranho você rodar uma feira com trocentos mil livros e eu ver UMA loja com livros da quinta edição.
E é essa a impressão que eu tenho.
A Wizards já tinha ido embora muito antes, só não tinha avisado a ninguém.
- Sobre o Magic –
É simplesmente triste demais ver um jogo que tinha quase 30 anos de cartas em português deixar de ter esse conteúdo. Eu sei que em tempos recentes, cartas tem
traduções cada vez piores. Mas mesmo assim, esse é
literalmente o maior motivo pra pessoas não começarem a jogar jogos novos.
Torneio de Flesh and Blood bombando na Epic Game - SP.
Traçando um paralelo com o RPG; nunca tivemos
tanta oferta de Card Games quanto temos hoje. Flesh and Blood, One Piece, Dragon Ball, possivelmente esse novo Star Wars e vários outros jogos batem na
mesma trave; por mais que os jogos sejam legais e interessantes, o brasileiro tende a
jogar coisas na sua língua.
Assistir coisas na sua língua (
vide meu sufoco pra conseguir achar um cinema pra ver Dune 2 Legendado).
Pessoal, vocês acham que tem mais gente que canta Sweet Child o’ Mine como “
oooooooooooooooooh xirixai o maaaaaaai” ou tem mais gente que sabe o que é “
vamos ter um brainstorm hoje na empresa?”
Isso é de
nossa característica. O brasileiro realmente torce o nariz pra línguas de fora, e quem usa aqueles termos empresariais, por mais que seja uma minoria barulhenta,
continua sendo uma minoria.
Pra jogos seguimos a
mesma vertente. Eu tenho amigos no meu grupo pessoal que se por acaso o j
ogo for em inglês, ele já torce o nariz e a barreira se torna pior para o
aprendizado. Quem aqui nunca passou por isso?
Mas, respondendo o artigo da Wizards,
não Wizards, a gente não compra produto em inglês porque ele tem mais demanda no Brasil. A gente compra produto selado em inglês porque ele chega primeiro na maioria dos casos.
Quantos pré releases a gente teve nesse país atrasado?
Mais de 10? Mesmo assim a gente tocava o barco tranquilo.
Porque atrasar é melhor que não ter.
Quando a Wizards demitiu todo mundo de todos os territórios Latino Americanos, já foi uma porrad4 que sabíamos que viria algo mais no futuro.
Enfim, essa decisão vai ter um impacto positivo (para eles) a curto prazo. Mas a longo prazo, com a entrada desses
novos produtos em português, você pode ter certeza que o
Magic vai perder terreno, e assim a gente vai vendo um grande caindo.
Degrau por degrau.
Card Game do One Piece tá se tornando muito popular no Brasil, e é um dos que tem sinalizado que no futuro terá a língua portuguesa disponível.
Note, o
Magic nunca vai acabar. Mesmo se eles parassem de produzir completamente o jogo, teríamos conteúdo lacrado pro jogo perdurar por aí pelo menos mais uns
30 anos tranquilamente. Mas o
Gathering, com o tempo, vai se
manter cada vez mais escasso. Uma vez que quem vai continuar jogando é quem já está jogando.
Um jogo que não abre as portas pra novos jogadores está fadado ao fracasso.
Pode demorar, mas de gota em gota, uma hora a água acaba.
- Sobre a Wizards –
O motivo da Wizards pra tomar essa decisão é muito simples: se eu não imprimo cartas em português (e chinês), eu tenho mais
maquinário disponível pra imprimir em inglês. Isso libera mais lâminas e cobre o consumo gringo de produtos com
mais eficiência.
Os jogadores que já jogam e não tem inglês como língua nativa, como eu falei ali em cima,
vão continuar comprando e assim eles tocam o barco. Cortando custos e mantendo os números bonitos “
pra ontem”.
Como falei no título, a Wizards está muito bem, obrigado. Por mais que a comunidade brasileira os xingue, faça manifestação, comente, faça
Vampetaço (foi engraçado).
O fato é que isso não muda a decisão final. O que faria eles sentirem, seria simplesmente se deixássemos de comprar por completo. Aí talvez eles repensariam seu plano, e sabemos que isso não vai acontecer.
O que importa é imprimir. O resto depois a gente vê.
- Sobre a Hasbro –
Para quem não sabe, a
Hasbro é a detentora dos direitos da Wizards. E eles tomaram um golpe muito grande nos
últimos anos. Como a Hasbro é primariamente uma empresa de
brinquedos, eles vem perdendo dinheiro ano a ano, visto que a criançada não compra mais
bonecos e bonecas como antigamente.
My Little Pony chora porque você não quer brincar com eles.
Boardgames como
Detetive, Jogo da Vida, Banco Imobiliário, também ficaram
datados e sobrevivem de seu nome, e a sua maior parceira nos EUA (
Toys R Us), decretou falência.
Isso fez com que seus brinquedos fossem para
supermercados tradicionais, e sinceramente,
quem entra num Extra da vida pra comprar boneco pro seu filho?
Ficou muito evidente pra eles que nesse momento o que m
antém a empresa viva é a Wizards com o Magic. E eles estão espremendo a
galinha dos ovos de ouro até aonde dá. A partir do momento que temos uma
empresa dando certo e o resto do conglomerado dando
errado, o foco acaba se tornando cada vez mais o que está
fazendo dinheiro.
E eu leio essa situação como o
último suspiro deles.
Não acredito que a Wizards vá falir, o Magic vá acabar ou nada do tipo, porque ela está muito bem. Mas é capaz que a
Hasbro abra falência, e a Wizards seja leiloada para outro dono como um ativo rentável.
O futuro é muito incerto pra esses caras. E pra nós tentarmos adivinhar também.
A minha conclusão é que esse é sim o fim de uma era. Mas quando se fecha uma porta, outras várias se abrem. Teremos outros jogos, RPG’s, e Cartas em português, e o hobby continuará sendo fomentado.
Talvez no futuro eles voltem, talvez não, mas uma coisa eu garanto: O D&D e o Magic nunca vão morrer nesse país. Podem ficar tranquilos quanto a isso. E os drafts, commanders, e a pizza no final de semana também continuará.
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