MuCiLoN::Não sou um jogador de Magic mas creio que resumir o hobby à uma compra desenfreada de conteúdo novo, talvez possa ser apenas uma visão superficial e/ou de quem não compartilha essa comunidade.
Aliás, comunidade, acho que essa é uma das principais diferenças de jogadores de TCG, Wargames, entre outros, para os jogadores de tabuleiro, que em geral não se organizam em torno de um jogo ou de um sistema e, possivelmente, aí sim estão sempre engajados na busca do novo, justamente por terem laços tão frágeis, ou mesmo inexistentes, que os unem.
Caro
MuCiLoN
Com todo o respeito, eu acho que você está equivocado em relação ao meu artigo, e por isso eu discordo do seu ponto de vista. Não quero de forma alguma "posar de veterano", nem tirar onda de "doutor em board game", porque isso não faz o menor sentido, nem é o meu estilo. Mas se você se der ao trabalho de conferir meus outros textos, você vai ver que eu nem sou um estranho à comunidade board gamer, e, principalmente, não sou superficial nos meus escritos. Muito pelo contrário eu me esforço para escrever sempre tratando do fenômeno cultural board game de modo mais profundo, e propondo reflexões que fogem do lugar comum. Não faço isso para parecer mais importante, afinal de contas eu sou apenas mais um dentro da comunidade, tenho meu próprio entendimento, assim como todo mundo, e procuro defendê-lo das melhor forma possível. Só acho que o universo dos board games é muito mais vasto do que falar apenas dos últimos lançamentos, analisar se o jogo tal roda bem com X ou Y jogadores, e por isso costumo abordar assuntos que normalmente não aparecem nos tópicos em geral.
Além disso, em momento algum eu reduzi o hobby "à uma compra desenfreada de conteúdo novo". Evidentemente existem pessoas que não compram jogos novos há anos e estão muito satisfeitos com àquilo que já possuem. Porém, não se pode simplesmente ignorar o verdadeiro alvoroço que qualquer lançamento de peso, ou até mesmo o anúncio de um eventual lançamento causa na comunidade. Exemplos não faltam, e eu não vou nem falar de segundas edições, até porque nem precisa. Basta pensar na franquia Zombicide. Quando foi anunciado o Black Plague só se falava nisso, mesmo já havendo três "seasons", lançadas anteriormente. Só aí se pode dizer, "mas era uma novo cenário com forte influência do RPG". O problema é que logo depois surgiu o Green Horde, que, evidentemente era um jogo ligeiramente diferente, mas sob muitos aspectos era mais do mesmo. Agora a onda é o White Dead (Zombicide Oirental) e Zombicide de Super-Heróis. Não tenho absolutamente nada contra quem curte esses novos lançamentos, e desejo que todos façam bom proveito, aliás Zombicide é uma franquia que eu também curto e tenho bastante coisa. Mas não dá para desconsiderar que ela é um exemplo claro do fascínio pelo novo, que não resume, mas é muito característico do hobby dos board games.
Para não fizer que eu só falo do Zombicide, esse mesmo alvoroço ocorreu após o anúncio do Twilight Imperium 4, um jogo excelente, mas que pelo peso e complexidade é bem nichado, e não é para qualquer um. Mas na época do anúncio a impressão é que toda a comunidade era composta de amantes de jogos pesados. Isso se deveu principalmente pelo "fator novidade". E o Twilight Imperium 4 nacional foi lançado em 2019, quando o mercado nacional de jogos modernos já contava com uma boa quantidade de lançamentos anuais. O mesmo vale para jogos como Mage Knight e Gloomhaven, que não obstante serem jogos excelentes, necessitam de um grupo de jogo bem estabelecido, a mesmo que se pretenda jogar solo, o que é contraditório no caso de jogos cooperativos. Muita gente comprou no embalo, e o Mage Knight quase não viu mesa, ou não se conseguiu completar nem um terço das inúmeras missões do Gloomhaven, e os jogos foram passados para frente. Todos os dois são jogos excelentes, mas como eu disse antes não são para todo mundo, o que torna temerário a compra no embalo, porque são jogos novos, e "todo mundo disse que são bons".
O mesmo ocorreu com o Insondável, que foi lançado como o sucessor espiritual do Battlestar Galactica, e atraiu muita gente num primeiro momento, que depois descobriram que o jogo tem partidas com tempo real de mais de 5 horas. O resultado é que se verificou uma migração em massa para o The Thing, que apresentava uma proposta semelhante, mas com partidas durando um terço do tempo do Insondável ou menos. Mais recentemente ocorreu o alvoroço Ark Nova, e a questão gerada pela venda antecipada na Gencon do World Wonders, antes da entrega da pré-venda nacional. Algumas pessoas não aguentaram esperar nem o prazo dado pela editora para por a mão no novo lançamento da vez.
Todos esses fenômenos, que obviamente não diminuem um milímetro que seja da qualidade e do prestígio dos jogos citados, são claros exemplos do poder que o "novo" exerce junto á comunidade board gamer, e não coisas que eu estou inventando, mas sim fenômenos verificáveis. Basta pesquisar nos diversos tópicos de cada um desses jogos. E mesmo que não se queira fazer isso, nem é preciso acreditar no que eu digo, basta apenas verificar o que ocorre quando um novo jogo de peso é anunciado.
É por isso que eu discordo do seu ponto de vista, porque na minha opinião, frise-se embasada pelos exemplos citados acima, o fascínio pelo novo sempre foi, é, e pelo visto continuará sendo uma forte característica do hobby dos board games no nosso país, pelo menos até que a nossa comunidade boardgamer talvez amadureça um pouco mais.
Um forte abraço e boas jogatinas!
Iuri Buscácio