Tenho para mim que a música é um dos principais veículos de comunicação consagrados pela humanidade. Traduzida numa junção de sons, ritmos, texturas e lirismo que materializa, na mente do ouvinte, uma gama de sensações, emoções e opiniões sintetizadas num curto espaço de tempo, a música é um instrumento de transformação e de construção de perspectivas por excelência, moldado sobre os mais variados tipos de timbre, afinação e poesia que aviva a imaginação e influi em nossa autoestima, que conta uma história, que retrata a História, que cria um pequeno universo de sentidos e de profundidade, em maior ou menor escala... Música é arte, cultura, transgressão e magia. Ou, pelo menos, é assim que enxergo os feitos dos gênios da música clássica, da Bossa Nova e a discografia de ícones como Beatles, Pink Floyd, David Bowie, dentre outros bastiões que levaram a música a novos caminhos e ao encontro de diferentes conceitos.
Por toda essa carga empática, confesso que a música – junto com a literatura – figura como meu hobby do coração, sem demonstrar sinais de esgotamento para uma curiosidade inquieta que vive se renovando a cada audição, a cada respiro de criatividade captada por ouvidos ainda atentos (mesmo que não tão receptivos às tendências radiofônicas atuais).
E é justamente o impacto oferecido pelo entretenimento fonográfico que me leva a questionar o porquê de a música ser tão pouco explorada enquanto TEMA para os jogos analógicos. Uma breve busca em fóruns como a Ludopedia evidencia que há poucos títulos no mercado que abordam a música como parte central da história ou das próprias mecânicas do game, diferentemente de franquias digitais de sucesso como Guitar Hero, Rock Band e Rocksmith, por exemplo. Seria uma questão relacionada à interação? De conciliação multimídia? À falta de praticidade? Não sou capaz de opinar #gloriapiresmodeon
Meu primeiro contato com um jogo desse tipo, com temática ou referencial musical, foi o partyWe Will Rock You, lançado no Brasil pela Galápagos Jogos. De proposta simples – um desafio de ritmo e coreografia – o jogo homônimo ao mega hit da banda Queen cumpre o papel de divertir e provocar boas risadas, mas para por aí. Decerto, a música tem potencial para ser explorada de forma bem mais interessante ou contundente dentro do universo dos board games. Como é o caso do jogo 011.
Lançado em 2011 pela editora italiana Scribabs, o lore do jogo foi inspirado num conto literário que, por sua vez, foi cunhado dentro dos temas abordados pela banda sueca Therion em suas canções – banda esta conhecida por fazer um metal sinfônico pomposo, repleto de letras esotéricas e místicas. Com uma proposta diferente de tudo que já vi, o board alinha uma partida competitiva na qual vence o jogador que localizar o “Órgão Inescrutável da Eternidade” – o instrumento musical... nada biológico, que fique claro –, escondido nos recônditos de uma Turim steampunk, no intuito de tocar a chamada “Canção da Profecia”, a única coisa capaz de impedir a chegada do Ragnarök (o fim do mundo, segundo os nórdicos). Criativo, não?
Para promover o jogo, a banda ainda gravou um videoclipe bacanudo explorando a história contada em 011 e emprestou seus “rostos” para a concepção das personagens que atuam naquele universo, ações que, por si só, já representam uma estratégia de marketing diferenciada.
Ainda na vibe inovadora, um título que deve fazer a festa dos roqueiros de plantão é o aguardado Rock'n Roll Manager, de Leandro Pires. Com lançamento anunciado pela Conclave Editora ainda para 2016 e contando com produção nacional, o board game coloca o jogador no papel de um empresário de uma banda de rock tendo que lidar com os desafios que envolvem o gerenciamento do conjunto nos bastidores, indo desde a contratação de músicos até o controle financeiro e mercadológico. Só quem lida com produção de eventos sabe o quão complicado é colocar as coisas nos trilhos e fazer acontecer, o que faz do jogo uma proposta interessante dentro de um tema até então pouco explorado. Só espero que esta tour de force cumpra sua missão com a mesma pegada que o Angus Young toca a guitarra em Thunderstruck \m/
E você? Conhece ou recomenda algum jogo em que a música seja o elemento diferencial? Conte para nós! Só não vale dizer “Qual é a Música”, beleza? xD