(a capa do jogo tem a ver com as mecânicas e mostra os seis papas representados no jogo)
Somos filósofos - não com palavras, mas com ações! Não dizemos coisas grandiosas; nós as vivemos!
-Cipriano, teólogo do século III (extraído do manual do jogo)
O que interessou
O tema religioso e histórico, englobando o crescimento e divisões da igreja cristã desde a crucificação, adoção pelo império romano, passando pelas jihads e até o início das cruzadas.
(A primeira rodada começa assim, bem simples. Você tem duas rodadas para usar os apóstolos (que são bem fortes), porque logo eles vão para os leões, crucificação de ponta-cabeça ou morrerão pela idade. Atenção especial para "James the Just", irmão do Cristo e um personagem com poderes únicos no jogo)
Como funciona
A cada rodada você recebe recursos e acontecem eventos "ruins" (heresias, jihad, reis tiranos, hordas avançando sobre o império romano, etc). As aspas são porque, por exemplo, você pode converter as hordas que avançam ao cristianismo, e elas depois vão ser importantes para resistir o avanço muçulmano durante as jihads.
Com esses recursos, você pode levar seus pregadores (bispos e apóstolos) para os confins do mundo e converter grupos de outras religiões para o cristianismo, construir mosteiros, universidades e hospitais, escrever os evangelhos em grego e traduzí-los para o latim, armeno, sírio. Tudo isso ajuda a continuar na sua missão. Por exemplo, uma bíblia traduzida ao latim lhe dá uma ação gratuita em uma das nações que fala latim, e assim por diante. O objetivo é conseguir o maior número de pontos no final, que dependem de quantos povos se converteram, quantos não foram dizimados, quanto você escreveu e traduziu do Novo Testamento.
(Mais ou menos nos 2/3 do jogo, começam as jihad (verde escuro no centro do mapa, Jerusalem). Elas avançam pra valer - você fica meio indefeso, mas aprende a limitar as perdas. Embaixo à esquerda estão as traduções da bíblia, em vermelho na direita estão os persas, no fim de cada trilha estão os bispos (agora arcebispos), em verde claro são cristãos convertidos, outras cores são os papas das religiões, e os ossinhos vermelhos são os restos mortais dos apóstolos do começo do jogo, que valem recursos durante ou pontos ao final do jogo.)
Tema
É muito presente. O manual também tem muitos detalhes e mais folhas extras com informações. O autor escreveu do seu ponto de vista, como cristão, mas não tentou valorizar um lado ou outro do cristianismo em si. Cada rodada tem diversos acontecimentos históricos, possíveis cismas (ex. católicos e ortodoxos, etc.), teólogos, invasões, martírios, etc. O legal é que o cisma, por exemplo, não é de todo ruim pro fim do jogo, é mais uma questão administativa - eles continuam sendo cristãos. Faz sentido, não? Sinto que aprendi muito sobre história jogando e lendo o manual. O jogo tem várias eras. No início, são os apóstolos espalhando os ensinamentos. Depois, os bispos divulgam a religião e o império romano vira cristão. Então a parte econômica começa a entrar - vamos converter os povos para ter mais recursos para fazer mais coisas. Aí vem as hordas de bárbaros avançando no império por todos os lados, depois a jihad vindo a partir de Jerusalém (que é bem o centro do mapa, onde você se achava seguro). Tem muito mais detalhes, coisas que só acontecem nas terras A ou B, mas não vou conseguir escrever tudo aqui, e deixo para vocês lerem e jogarem por conta própria. Tem nuances históricos, como ser bom que os persas mantenham sua religião; ser importante avançar na África oriental para que os núbios possam se estabelecer (você conhecia? - um império de cristãos africanos na região da Etiópia que sobreviveu aos muçulmanos com tratados até 1400 aproximadamente)
Densidade
É um jogo médio na minha opinião. Ele pode ser considerado mais complexo no sentido de que cada era, apesar de ter as mesmas regras, muda o enfoque do jogo - de uma expansão para um motor, para uma sobrevivência e depois tentar recuperar o que consegue. A partir de mais ou menos 2/3 do jogo, a religião já saiu pela janela e você está movimentando exércitos o tempo todo enquanto tenta retornar os Papas que cismaram para uma igreja central. São várias fases no jogo.
O Cristo aplicou ontem
A quintessência do elevado Evangelho de ontem:
A Compaixão.
Ele aplica hoje
A quintessência do sublime Evangelho de hoje:
A Justiça.
Ele aplicará amanhã
A quintessência do incrível Evangelho do amanhã:
A Verdade.
Setup
Médio (depois que você aprende quais peças são o quê).
Interação
É um jogo solo. Mas os eventos históricos compensam! É como se estivesse lendo um livro muito bom - você não se sente sozinho.
Andamento
As rodadas são bem rápidas uma vez que você entende o fluxo.
Regras
São muitas e variadas, sendo que a cada era do jogo, você tem que aprender mais uma coisa ou outra.
Produção
Simples, mas funcional. Gostei muito dos counters de papelão grosso, estilo do Root ou Luna. As próprias fichas de evento são counters ao invés de cartas, e ao invés de embaralhar, você só pega um da pilha. Muito prático!
Partidas
Duas partidas.
Conclusão final:
Muita imersão e muita história. Não vou me esquecer facilmente das partidas que joguei. Você precisa ter paciência para aprender as regras e consultar o manual muitas vezes durante a sua primeira partida. O jogo parece bem simples quando você vê o conceito (ganha recurso / gasta recurso / joga dois dados), mas as coisas e eventos se desdobram de tal forma que fica um jogo muito completo. Cada regra é algo temático, na verdade. A história acontece no seu tabuleiro.
Comparação com outros jogos:
Se você jogou o Commissioned (review aqui), o The Mission é um jogo mais extenso e variado. É como se fosse uma versão mais expert do Commissioned, que é para um público mais leigo em regras e com menos tempo para jogar. Levei quatro horas para jogar e aprender as regras do The Mission. Ele vem com um modo mais curto também, para ser jogado em uma hora.
Para quem quiser saber mais, recomendo ler algumas histórias do meu apóstolo favorito, São Paulo.
Meu próximo jogo nesse estilo será o Gorbachev: The Fall of Communism.
Sobre esta série de mini-reviews:
Esses reviews vão ser sempre baseados em primeiras impressões, pois é justamente como gostamos de jogar por aqui: se o jogo é muito, muito bom, jogamos mais vezes; se não encanta de primeira, é vendido/trocado. Preferimos buscar jogos que nos encantam já na primeira tentativa do que investir tempo e experiências tentando descobrir se aprenderemos a gostar de um jogo que não se demonstrou inicialmente promissor. A vida é curta!