Free Ride: Nem de graça eu entro nesse Trem
Não vou fazer mistério.
Esse jogo é ruim demais, mas deixa eu explicar:
o jogo até é OKzinho, mas a produção dele é tão ruim que torna ele
inviável de ser jogado.
Como que eu caí nessa roubada?
Embarque comigo no Trem da Frustração e aprecie esse texto amargurado.
O Contexto
Para responder a pergunta que abre esse texto, anexarei uma foto, direto dos
meus dias de Paparazzi em Essen 2022:
Friedman Friese: O Pai do Power Grid
Como
Power Grid, pra mim é um dos melhores jogos já produzidos, é claro que vou ficar de olho em tudo que esse
homi de cabelo verde vai produzir. Depois de jogar
Faiyum e ver que o joguinho é bom (
Nota 8), certamente queria explorar as novas obras da figura. Valeu a pena?
Com certeza não.
O Bom
- A arte é boa: São 45 artes diferentes de importantes localidades Européia. A identidade visual é boa, trazendo um charme retrô.
- Mecanicamente Interessante: corridinhas para pegar as melhores viagens, mecânicas de controle de rota onde o o dono ganha uma moeda quando alguém usa seus trilhos (mas depois, fica de graça, por isso o Free Ride do nome). Um sistema bem bacanudo de geração de viagens aleatórias.
- Os turnos até são rápidos: o downtime pode até ser baixo na teoria, porém infelizmente na prática…
O Neutro
- As regras são enxutas: então da até pra explicar para civis que querem algo mais do que um Ticket to Ride. É claro que se você tem bom senso, vai querer jogar algo melhor que isso aqui.
O Ruim
A Pior Produção Já Feita. Aqui o meu
hate é alto. Vou até abrir uma exceção no formato e não vou listar tópicos sobre problemas, mas sim, vou dissertar a razão deste jogo ser uma
vergonha ter sido lançado.
Veja bem, para entender o quão ruim é esse jogo, você precisa entender minimamente as regras. Em resumo, o jogo é uma construção de rotas, e que você tem viagens com Origem e Destino definidas, que representam clientes que querem ir de um ponto ao outro da Europa. Cada vez que você faz o trajeto, movendo seu trenzinho entre as rotas especificas pelas suas duas cartas de viagem, você a completa e pode buscar uma nova. No final do jogo, cada rota completa, por exemplo ir de Amsterdam para Madrid , vale 5 pontos.
Visão do tabuleiro do jogo já montado, que até soa bacana. Foto: Steve Blackwell BGG
Seu trem tem um número de vagões que delimita quantas viagens você pode fazer ao mesmo tempo (inicialmente duas, depois três). Até aí parece algo razoavelmente bom: corridinhas para entregar os clientes aliada as mecânicas de construção e controle de rotas. Porém por trás dessa carinha simpática um problema crucial se esconde: ESSE JOGO TEM O UPKEEP ENTRE TURNO MAIS TENEBROSO QUE A HUMANIDADE JÁ VIU. Acompanhe na imagem: Você tem 6 colunas com possíveis rotas novas para serem adquiridas. Cada coluna tem 2 possibilidades de viagens: da carta do topo, para a carta do meio OU da carta do meio, para a carta do fundo.
Você tem duas opções: ir para Bruxelles para pegar o cliente que quer ir de Bruxelles para Koln ou ir para Koln e pegar o cliente que quer ir de Koln para Praha
Hmm, interessante acho que até estou começando a gostar do jogo novamente… — Mente do Israel enquanto ele escreve esse texto.
Então temos 12 possíveis escolhas de rotas, que refletem uma das 45 cidades do mapa.
E o desafio começa.
Como você pode ver, as cartas são todas em preto e branco, e as cidades no mapa também. Não existe nenhum guia de cor por região para ajudar você a ter uma vaga ideia de onde a
origem e o destino estão no mapa. Some isso a jogadores
com memória de peixe e
Europeus que não são bons em geografia Européia (imagine os Brazucas) e você já vai começar a sentir
A PREGUIÇA VINDO.
Mas digamos que você respirou fundo e disse:
"ok, eu dou conta, eu gostei do conceito do jogo", bem, da para piorar. Toda vez que você completa uma rota, você tem espaço para mais uma, isso quer dizer que se você pegar uma nova rota da coluna
será necessário montar uma nova com cartas do baralho. E nesse momento
a preguiça vai vir de novo, pois você vai sacar três novas cartas, por exemplo
København, Rostow, Wien e a pergunta que fica é:
"Onde diabos estão essas cidades?"
Nota do Djow: O QUE! Não tem os nomes das cidades no mapa!?!?
CALMA DJOW!! O Texto tá lá no mapa, mas quando tu não faz ideia onde olhar no mapa, fica difícil e entediante ir lendo/comparando-ícone de tudo. Eu sei que Lisboa fica no oeste perto da água, mas e o resto? [risos]
Depois de alguns segundos procurando, você encontra, mas obviamente alguém estava pensando sobre o seu próprio turno e não viu isso. O turno dela vai chegar, e ela vai fazer a mesma pergunta, e talvez você não lembre mais, pois aquela rota nem era útil pra você, e lá vai mais uma busca relativamente trabalhosa no mapa.
Agora imagine que isso vai acontecer até o deck de 135 cartas se esgotar.
Interessante? Não é. E tem mais:
- Um jogo Gateway Plus, levar quase 2 horas em 4 players.
- O cálculo de pontuação final tem uma pecularidade: cada cidade aparece 3x no jogo, então no final você ganha 5 pontos para cada localidade única e 2 pontos se uma delas for repetida. Isso quer dizer que você terá que ordenar 45 possíveis grupos de cartas, numa contagem de pontos chata e anti-climax.
- Não é incomum a sorte pesar muito e algumas rotas "aparecerem prontas" para alguns jogadores. Dependendo, isso poderia até ser algo neutro, mas eu to pistola e quero achar defeito.
Conclusão
Não sei se consegui expressar o
quão ruim é a
UX do jogo, mas é num nível que realmente arruina a experiência. Apesar das idéias serem boas (o que me seduziu para adquirir o jogo), sem um estagiário, ou alguma automação,
é simplesmente impraticável. O jogo é tão notoriamente falho, que existem vários guias de como tornar o jogo jogável no BGG.
Token em 3D para marcar as combinações de rota. Fonte: Laura Hughes BGG
Cartas e Cidades pintadas da mesma cor. Fonte: Mark Brown BGG
Eu mesmo, comprei o jogo sabendo que teria que fazer esse "conserto" no
Design, então efetivamente fiz a solução da primeira foto com alguns tokens coloridos e os número 1, 2, 3.
Ajuda? Sim. Vale a pena? Ainda não. O problema disso, é que cada vez que uma nova rota sair, você vai ter que atualizar o board com as novas posições, e em certo ponto do jogo isso começa a ficar mais frequente ao ponto que
o esforço é entediante, e desconecta constantemente os jogadores do jogo. E se alguém já jogou
Ticket to Ride a pergunta que fica é: pra que me submeter a isso?
Selo Spiel des Djows™ para “Pior produção de um boardgame na atualidade, por uma empresa conceituada e um designer de prestígio, que faz com que o jogo seja injogável, mesmo que no fundo até tivesse potencial de ser divertido.”
Nota 3. Nenhum interesse em jogar novamente, e sinceramente, até acho que deveria ser boicotado. No entanto, se alguém me convidar pra jogar com um robô da
Boston Dynamics pra manter o
upkeep, eu topo
só pra ver qualé.