metelo::Guy de Lombard ::
Talvez as pessoas tenham uma ideia errada sobre o tema do Lisboa. Ele não é sobre a reconstrução da cidade por causa do terremoto. Esse é só o cenário. O jogo é realmente sobre política e sobre um momento histórico importante, quando o iluminismo alcançou uma posição de poder, com a ascensão da burguesia como força econômica e da ciência como organizadora da sociedade, tomando esse papel simbólico à igreja, que apesar disso ainda detinha bastante poder. Isso está tudo lá e faz parte das mecânicas, eu acho simplesmente brilhante! Mas, claro, depende de quem joga, o Lacerda tem um sabor bastante específico e não é todo mundo que curte. No caso, eu gosto de suar olhando o tabuleiro, passar horas sem falar e terminar o jogo com dor de cabeça, entendo quem odeie esse tipo de sensação, mas para mim é algo muito prazeroso
Definitivamente, essa parte passou mais longe ainda na minha interpretacao do jogo. Confesso q tirando a puxacao de saco do Rei e da igreja(politica da epoca) nao passou para mim essa nocao de briga de classes e o modelo de como a sociedade ia seguir.
Mas pelo jeito e algo q deve ocorrer nos jogos dele. Parecer ser uma coisa e ser outra. So nao me contem que o Gallerists nao e sobre arte, e o Vinhos ser sobre refrigerantes. (Piadas a parte, achei engracado os jogos terem realmente temas diferentes do a caixa da a impressao).
É preciso jogar bastante para perceber essas minúcias (o que não é recomendável para quem não gostou do jogo) mas veja: a igreja te dá poderes muito bons com seus favores, mas você ganha reputação com o Marques de Pombal, um iluminista anticlerical, quando abdica desses favores.
Da mesma forma, você precisa fazer o joguinho de furar a fila para ver os nobres, mas abre mao de prestigio por isso. Esse prestígio importa pouco, pois ao fazer essas ações o jogador recebe direitos valiosos de reconstruir a cidade e, por isso, recebe dinheiro e perucas. Inclusive, você pode subornar os nobres. Claramente, isso traduz a ideia da ascensão da burguesia frente a uma nobreza decadente.
O Gallerist também não é exatamente sobre arte, mas sobre o mercado de arte. O jogo me parece uma crítica do Vital Lacerda, pois não importa a qualidade do artista, mas sim o bom trânsito do galerista com a mídia e os investidores.
Acho que tudo na obra do Vital Lacerda com que já tive contato (não joguei Vinhos nem Escape Plan) é muito bem pensado e executado, mas, obviamente, isso de nada serve para o jogador que não curte os jogos dele